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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Comentário de Gálatas 1. 13,14 – Extremamente Zeloso



13 Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava.

14  E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.


Paulo lembra aos gálatas o que eles ouviram ao seu respeito. O que tenta transmitir com isso, é a razão da sua completa mudança e total abandono da fé judaica; é como se quisesse dizer: Daí eu já vim! Conheço muito bem o proceder dos meus compatriotas e já deixei tudo isso para trás.



Como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava – Agora, detalha suas ações, era um perseguidor. A lei mosaica falava sobre condenar o falso profeta, e era assim que Paulo considerava Jesus e consequentemente todos os seus discípulos. Como um austero judeu, não só perseguia com verbalizações, como também usava de meios violentos no intuito de exterminar aquela “seita”, ainda que para isso fosse necessário dar cabo dos seus seguidores.


O que pode ser lido nas entrelinhas, quando cita sua antiga fé rigorosa e combatente, é que, só mesmo uma experiência cognitiva, que lhe trouxesse novas convicções, de fato, teria o poder de fazê-lo mudar de ideia, logo, se isso aconteceu, deveria ser um sinalizador para a igreja da Galácia, seduzida a percorrer as veredas as quais Paulo havia abandonado, justamente por ter encontrado em Jesus “o caminho.”


A grande mensagem do evangelho de Cristo, e que fique bem explícito, de “Cristo”, não da igreja instituída – deixando claro que não somos contra a instituição em si, todavia, aborrecemos e rechaçamos o “engaiolamento” e monopólio da “verdade” produzido por ela – é o amor, a paz, a ética e a aceitação mútua, pois todos, independente da fé, e mesmo os que comungam as mesmas crenças, possuem diferenças entre si, por isso, a grande “verdade” é o Cristo unificador do diferente.


Como dito em ocasiões anteriores, não é o que se fala de Cristo que salva, mas sim Cristo. De modo algum, tal formar de pensar torna inócua ou anomista a minha fé, entretanto, faz com que embora tenha minhas convicções, o Jesus Senhor, torna-se para mim, maior que “o Jesus da igreja”, pertencente e de uso exclusivo de um grupo, cujas práticas os torna detentores da “verdade”, isso não é aceitável do ponto de vista do Cristo glorioso e sem fronteiras.


A asseveração: “Meu Cristo é melhor que o seu” e  “só minha forma de crer é salvífica”, em si mesma é proveniente de um olhar unifocal, incapaz de visualizar um Jesus desprovido de pertencimento religioso. Um Jesus assim, está estigmatizado pelos rituais, dogmas e paramentos litúrgicos, segundo a visão empedernida e embotada dos forjadores do uni pertencente Jesus, na realidade, idealização que atende somente a interesses institucionais.


Paulo em nenhum momento renega sua nação e as crenças do seu povo, na realidade, sabe e fala da sua pátria com orgulho, todavia, aponta para um unificador de povos, e compreende que para isso acontecer, tem que cair por terra tudo que causa divisão e que de fato não diz respeito aos valores  éticos e morais comuns a todos os homens. Algo importante para ser salientado é nada indicar haver nenhuma ilusão por parte de Paulo em converter a nação israelita.


A fala dele aos gálatas trata sobretudo do gentil que abraçou a fé em Jesus e está sendo cooptado por “irmãos” de Jerusalém, os quais tentam enredá-los a tomar emprestado os antigos rituais segregacionistas judaicos, que não possuem em si mesmo o poder de melhorar ninguém pessoalmente, servindo apenas como sinalizador de diferenças e impossibilidades para o estrangeiro desejoso de abraçar o evangelho. Isso era o que Paulo praticara como zeloso Hebreu e é contra isso que se levanta agora.


14 E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.


É imprescindível salientar que a carreira de Paulo no judaísmo, foi eivada de ação e militância, poucas vezes vistas em pessoas da sua idade, inclusive com relação aos que divergiam da sua “sagrada fé”. Justamente por ser “extremamente zeloso”, levou às últimas consequências sua fúria contra a “seita dos Nazarenos”.


Entretanto, quando chega a conclusão de que Jesus possuía todas as características messiânicas, se coadunando assim com os seus íntimos e patrióticos anseios, não pensa duas vezes em lançar fora “os excessos” da sua bagagem religiosa, para então carregar o jugo suave e o fardo leve do Nazareno.


É relevante a observação de que a carga religiosa foi deixada para trás, no entanto, o fardo e o jugo de apontar para o mundo a bondade graciosa do evangelho, que “mata” o religioso fanatizado e faz surgir um homem eclesiástico, um ser comunitário, esse sim, o apóstolo dos gentios levou até o fim dos seus dias.


Nesse sentido, o seu zelo extremado de outrora foi transferido para um outro alvo. Uma dedicação como essa, um zelo e um amor dessa envergadura, devem de fato constranger de forma idílica e conscienciosa todo aquele que uma vez se iniciou no “caminho”.



...Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou [1]



Wanderley Nunes



[1] II Co.5.14,15 – Versão Revista e Atualizada.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Provérbios 1.20-23. E vos farei saber as minhas palavras.


Comentário de Provérbios

Provérbios 1.20-23. E vos farei saber as minhas palavras.

20 Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz;
21 do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras:
22 Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?
23 Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.


20 Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz,

A sabedoria nesse texto se mostra personificada; qual seria a razão disso? Um bom motivo é que assim sendo, pode ser usufruída por uma pessoa, um grupo, uma nação, sem no entanto, ninguém ter direitos exclusivos sobre ela. Mesmo sendo de benefício para muitos, ninguém há que possa arrogar-se como seu dono, ou detentor único.

21 do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras:
22 Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?

“Do alto dos muros” - a septuaginta diz “”- dando uma indicação de que deseja ser ouvida, quer chamar atenção, por isso vai “à entrada das portas da cidade”, a sabedoria aqui parece estar personificada nos profetas, nos rabinos, nos sacerdotes, nos mais velhos e em todos que possuem experiência de vida e conhecimento da lei.

É bom perceber que a sabedoria no âmbito israelita, não é algo que “surge do nada”, ou “coisa” que se obtêm na vacuidade da vida, ela vem de pessoas que receberam do seu sopro.

Quando interroga os néscios – a bíblia de Jerusalém usa o termo “ingênuos”, a NVI  chama-os de “inexperientes”- seja como for: Néscios, ingênuos ou inexperientes, o grande problema é que amam o estado em que se encontram, possuem uma visão distorcida da realidade. Quem assim procede acredita piamente que néscio são os outros.

O escarnecedor ou zombador no pensamento judaico é o que não faz caso da vida reta, não se importa com da lei, por isso não vê problema em burlá-la e desrespeitá-la. O terceiro tipo é chamado de louco, a NVI traduz como “tolo”. Loucos, tolos, insensatos, estultos… Há diversas palavras para nominar o tipo que não dá ouvidos a sabedoria, não deseja se desenvolver como pessoa, ser alguém melhor, no caso do pensamento israelita, tornar-se um “piedoso servo do Senhor.”

23 Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.

Esse versículo tem sido objeto de grande abuso interpretativo e de uma mística e fanática aplicação.

É necessário todavia, analisar de modo criterioso todo o contexto. Primeiro, reiterando o que já foi observado, se pode notar que a sabedoria é personificada, ou seja, parece ter vida própria, entretanto, o que de fato acontece, é que o saber, ou a sabedoria adquirida, é considerada assaz importante em Israel. Ela não significa conhecimento “intelectual”, um grande exemplo disso é Salomão.

Se gastou “muita tinta” para dizer que Salomão foi o homem mais sábio que já existiu, por essa ótica se afirma ter ele sido o mais intelectual, mais inteligente, porém não é esse o significado de “sábio” no pensamento do Israel antigo. O rei de Israel não era um intelectual do quilate de um Leonardo da Vinci, de um Isaac Newton, ou de um Albert Einstein.

Sábio na perspectiva veterotestamentária, era quem compreendia a lei, era portador de bons conselhos, sabia dirigir sua família, e no caso dos reis, sua nação. Sintetizando: Sábio era aquele que detinha o conhecimento do “caminho do Senhor” e o ensinava com excelência, pois, possuindo ética e moral, conforme rezava a lei, havia a promessa do desfrute da benção.

Quando a “sabedoria” depreca para alguém lhe dar ouvidos, a seguir explicita “a benção” que logrará  aquele que lhe prestar obediência e honra : Desfrutará dos seus ensinos e consequentemente do fruto deles. Logo, como se pode ver, não há nada de místico  no versículo 23 como tem sido  “ensinado” para  a igreja cristã  através dos séculos.

Em vista de tudo o que já foi apresentado, o versículo 23 poderia receber sem dificuldade alguma a seguinte tradução: Se vocês me ouvirem (no sentido de obediência), aprenderão de mim e me conhecerão (aprender a ser sábio segundo a lei).

Corroborando isso, segue duas traduções do versículo 23.

Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos. (NVI)

Convertei-vos às minhas admoestações, espalharei sobre vós o meu espírito, ensinar-vos-ei minhas palavras. (versão católica – pt )



Wanderley Nunes

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Comentário de Gálatas 1.11,12 – Revelação de Jesus Cristo



Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.

“Faço-vos, porém, saber, irmãos”. Paulo com essas palavras deseja enfatizar a origem e originalidade do evangelho que prega. O vocábulo “irmãos”, empregado aqui, tanto é um termo carinhoso – preparando os corações galacianos para as severas exortações que viriam – como indica também o reconhecimento de que Paulo os considera de fato, da família da fé.

Ainda se pode acrescentar um outro motivo para os gálatas serem chamados de irmãos: Apesar de terem tão rapidamente se distanciado da fé que lhes fora apresentada pelo apóstolo dos gentios, isso, no entanto, não era razão suficiente para que lhes fosse dispensado qualquer outro tratamento que não o de irmãos.


Nota-se não ser Paulo, nem de longe, um institucionalista apaixonado, muito menos um fanático religioso, do tipo que preceitos, bandeiras, e flâmulas estão acima daquilo que deveria ser hipoteticamente o alvo e o objeto de amor de qualquer comunidade de fé: O ser humano.

“Que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem”. Paulo principia sua autodefesa axiomaticamente dizendo que a boa nova anunciada por ele não era κατα ανθρωπον (kata antrôpon) “segundo o homem” – a tradução da versão bíblica revista e atualizada, referência aqui, é fidedigna ao verter para o português a expressão grega – Não era nem um tipo de engendramento filosófico religioso, havia algo mais no seu ensino, indicando serem suas elucubrações não meras adaptações do pensamento judaico.

“Porque eu não o recebi…”. O apóstolo deixa entrever aqui, que não fora alvo das transmissões escriturísticas orais como era costume em Israel, claramente indicado pela expressão “não recebi”.

Um bom exemplo disso se encontra na carta aos Hebreus, tida por muito tempo como uma epístola saída da pena de Paulo, entretanto, tem sido demonstrado através de pesquisas mais recentes não ser esse de fato um texto Paulino. Uma das maiores provas se encontra na chamada “evidência interna”. No capítulo 2, o escritor diz o oposto do que Paulo afirmou aos gálatas.

Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram [1]

Enquanto o escritor aos Hebreus se coloca no grupo dos que ouviram de terceiros o evangelho, Paulo diz que “não recebeu” de ninguém. E quando afirma não ter aprendido de homem algum, está categoricamente falando não ter consultado mestres humanos para ter chegado onde chegou.

Isso não significa de modo algum, não ter ele feito suas pesquisas e ponderações, como também não ter aceitado ainda que posteriormente, algumas tradições apostólicas - daqueles que eram discípulos antes dele - as quais se coadunavam com aquilo que cria.


Um bom exemplo disso é I Co. 15.3:


Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.

Nesse texto há uma patente indicação de uma tradição apostólica, pois conforme Paulo afirma, seus antecessores transmitiam os ensinos, usando conjuntamente as escrituras – o antigo testamento e os profetas – a fim de corroborarem suas assertivas. Quando ele diz “entreguei o que recebi” está  fazendo uso dessa tradição, a qual se conformava perfeitamente com o evangelho que pregava.

“Nem aprendi de homem algum”. Quando faz tal asseveração, busca rebater as acusações daqueles que diziam que o evangelho que anunciava não possuía legitimidade, por ele não ser discípulo como os outros, não fazer parte do colegiado apostólico, não ter andado com Jesus, muito menos ter sido instruído pessoalmente por ele.

O que estava em jogo era todo o trabalho de Paulo e sua credibilidade junto aos gálatas, por isso, “os falsos irmãos” tentavam desqualificá-lo perante a igreja da Galácia. Deduze-se facilmente a síntese de suas vis argumentações: Se Paulo não possuía autoridade e nem autonomia apostólica para instruir aquela igreja, se o que ensinava não vinha de nem um dos apóstolos, muito menos do próprio Jesus, sua fonte então seria secundária, clandestina e inverossímil.

Desse modo, o evangelho da graça que pregava e, por conseguinte, as igrejas que haviam recebido suas instruções eram todas apóstatas e palmilhavam o caminho do erro. Por isso, era de suma importância uma tomada de posição firme.

O interessante nessa afirmação de Paulo, é que um leitor incauto ou mais desatento poderá achar a princípio que Paulo está concordando com seus acusadores, é como se dissesse: “É verdade, não aprendi com os apóstolos”. Quando na verdade, o que realmente queria dizer é que o que transmitira era oriundo de uma fonte superior.

No entanto, o teor da sua argumentação vai muito além de que simplesmente não ter sido instruído por homem algum - isso inclui Pedro, Tiago e João - muito menos sua prédica ser fruto da sua mente pródiga ou delirante, dependendo da interpretação e da boa ou má vontade dos avaliadores.

“Mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Aqui está a motivação para o evangelho que o apóstolo das gentes anunciava. É explícito - exceto para os mais simplistas -  que o arcabouço do ensino Paulino não era fruto exclusivamente da estrada de Damasco.

Seja qual for a interpretação que possa ser dada – literal ou metafórica – o fato é que não é em Damasco, mas a partir de Damasco que se desenvolvem as formulações de fé Paulinas, tendo como marco inicial sua passagem por lá, independente de qual tenha sido a experiência Cristológica que tenha ocorrido nele.

É pertinente salientar a expressão “revelação” Αποκαλυψεως (apokalupsis). Essa palavra traz em si a ideia de descortinar, descobrir, tirar o véu. O que se pode concluir observando a trajetória de Paulo, é que cedo no caminho de Damasco, se deslindou para ele Jesus como o messias prometido, posteriormente, tendo como ponto de partida a “revelação” de Jesus Cristo, pôde então fundamentado no cabedal de conhecimento judaico grego, erigir a maior obra literária conhecida a respeito da fé em Jesus de Nazaré.



Wanderley Nunes



[1] Hb.2.1-3

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Provérbios 1.10-19. Conselhos para a vida.


Comentário de Provérbios


Provérbios 1.10-19. Conselhos para a vida.


10 Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas.
11 Se disserem: Vem conosco, embosquemo-nos para derramar sangue, espreitemos, ainda que sem motivo, os inocentes;
12 traguemo-los vivos, como o abismo, e inteiros, como os que descem à cova;
13 acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos de despojos a nossa casa;
14 lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa.
15 Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; guarda das suas veredas os pés;
16 porque os seus pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue.
17 Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave.
18 Estes se emboscam contra o seu próprio sangue e a sua própria vida espreitam.
19 Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui.

Temos agora um tratamento paternal, “filho meu”, o conselho aqui é para não se deixar seduzir por aqueles que não respeitam a torah, a família, e muito menos o próximo. “O não o consintas,” dá a entender que há de fato uma argumentação inebriante e tentadora por parte dos “pecadores”.

O convite para “derramar sangue inocente” fala muito do desejo aventureiro, do que comumente chamamos nos nossos dias de “adrenalina”. A intenção de se experimentar os instintos mais primitivos e animalescos, ficam patenteados na expressão “traguemo-los vivos, como o abismo, e inteiros, como os que descem à cova”.

 O texto parece falar da morte sem reparação alguma, final de vida. Tudo indica que o escritor não possuía nenhuma influência do pensamento helenista, pois aquele que convida o incauto rapaz para os caminhos da violência, deixa entrever que acredita no homem como alma vivente - sem uma entidade (alma) imortal – apenas como tendo fôlego de vida, foi-se o fôlego, vai-se ao pó irremediavelmente. Quando diz “traguemo-los vivos, como o abismo…” O pensamento é de que seu opositor não viverá em hipótese alguma, nem mesmo em outra dimensão.

É importante ressaltar, que o homem como possuindo uma alma imortal, bem como o abismo (sheol), se tornando mais um lugar de tormento de que apenas e simplesmente um túmulo, é uma construção mais recente do pensamento judaico, influência clara das crenças gentílicas, sobretudo, gregas.

acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos de despojos a nossa casa;
 lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa.

O ganho fácil, por vezes ilícito, quase sempre entorpece o homem. O escritor de provérbios objetivamente reproduz um tipo de discurso que encanta quem gosta da adrenalina, adora viver perigosamente, e é um ávido seguidor da lei do menor esforço. A epístola a Timóteo aborda isso de forma aguda e explícita.

Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.
Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores (I Tm 6.10).

É interessante observar que no texto de provérbios (versículo 13), há uma demonstração evidente da crença no sucesso do malfeito, pois diz: Encheremos de despojos a nossa casa… Para em seguida, demonstrar como estarão envolvidos mutuamente se o companheiro aceitar a nefanda proposta.  “…lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa.” Assentindo a tal convite, o incauto, além de se tornar cúmplice, torna-se sócio no empreendimento do mal.

Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; guarda das suas veredas os pés; porque os seus pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue.


O conselho paterno continua soando, já que a ideia aqui é de um pai que é senhor da sua casa, tendo uma grande responsabilidade sobre ela, o patriarca fará sempre assim, não só porque ama os seus, mas porque teme a Deus, e na sagrada torah dos judeus, o Senhor de Israel está acima de tudo, inclusive dos familiares, porém, ordena ao pai de família que a ame. Logo, o conselho exposto nos versículos 15 e 16, são na verdade, apelos de um pai, que ama seu filho e é obediente a Deus.

Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave.
Estes se emboscam contra o seu próprio sangue e a sua própria vida espreitam. Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui.

Há uma preciosa mensagem nos três últimos versículos. A Síntese de tudo, é que todo malefício projetado contra o outro, na verdade, é um mal perpetrado contra nós mesmos, não passamos incólumes por sentimentos ruins “…Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave.” Antes de ser direcionado ao outro, o mal é nosso - e isso sem evocar qualquer pensamento místico ou supersticioso – e para nós retornará altamente potencializado e danoso.

 Demonstra-se isso pelos inúmeros problemas de saúde causados pelo stress, tensões do dia a dia, e acima de tudo, sentimentos tais como ódio, rancor, mágoa…O versículo 18 vai mais longe quando diz de forma indubitável, que todo ganancioso, egoísta, que vive a engendrar projetos no afã de auferir lucros - insensível ao prejuízo de outrem - o que produz de fato, são males contra si próprio, pois mesmo prejudicando grave e efetivamente a terceiros, ele jamais sairá ileso. É a lei da vida.

Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor (II Tm.2.22).
                           


Wanderley Nunes.




terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Provérbios 1.5-9. Só os loucos desprezam a sabedoria.


Comentário de Provérbios

Provérbios 1.5-9. Só os loucos desprezam a sabedoria.

5 Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade
6 para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios.
7 O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.
8 Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe.
9 Porque serão diadema de graça para a tua cabeça e colares, para o teu pescoço.

No versículo 5, é interessante notar que se aconselha ao sábio que ouça, dê ouvidos, obedeça. O escritor parece acreditar que só o sábio terá aptidão para crescer em prudência.
Vale salientar, que  sábio no âmbito em que foi redigido o texto, é antes de tudo, um piedoso judeu, pois a verdadeira sabedoria – é a temática de todo o livro –  é prerrogativa de quem teme a Deus.
O sábio que se deixa instruir adquire a condição (habilidade) de compreender o ensino sapiencial, pois somente o sábio reconhece, ama e busca a sabedoria.
O temor do SENHOR é o princípio do saber.
Eis aqui a chave e o segredo do sucesso. Conhecer a torah e os profetas, sobretudo pô-los em prática, mais do que sabedoria, era um dever de todo cidadão israelita.
Quando se observava um judeu próspero, com muitos bens, saúde, e uma família estável, se reconhecia facilmente um patriarca sábio e fiel à lei.
[…]mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.
Os loucos aqui, são todos que não têm ciência da lei e dos profetas. A loucura referida pelo escritor, faz uma analogia entre aquele que não conhece os ditos proféticos da lei – por isso erram – e aqueles que não possuem o perfeito gozo das faculdades mentais – por isso não discernem entre o real e o irreal, entre o certo e o errado -  logo, por não conseguirem captar, apreender, e discernir o real valor dos ensinos da lei, é que desprezam aquilo que lhes daria erudição para a vida.
É interessante notar que a instrução sai da esfera da torah e dos profetas, ou seja, da autoridade “divina”, para a familiar.
O que se recebe da lei, deve ser posto em prática, a começar pela família, essa é a grande lição aqui. Diadema de graça e colar, tipificam a beleza e riqueza de uma vida ética, adornada pela moralidade prática, resultado de uma vida pautada pelos ditames da lei.


Wanderley Nunes.




quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Comentário de Provérbios (Introdução) - Provérbios 1.1-4. Para aprender sabedoria e prudência.


Comentário de Provérbios.

Provérbios 1.1-4. Para aprender sabedoria e prudência.

1 Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel.
2 Para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência;
3 para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade;
4 para dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso.

O termo “provérbios” (masal no hebraico) traz em si um significado de “comparação”, porém foi ganhando ao longo do tempo uma acepção mais elástica, podendo ser visto como uma alegoria, máxima, ou até um sermão, chegando finalmente à ideia de uma expressão ou dito sábio.
O versículo dois, diz que os provérbios servem para o aprendizado da sabedoria e do ensino. É bom que fique entendido, que a sabedoria referida no texto, é a sabedoria moral, cuja a prática redunda em um bom nome e bençãos.
Estamos lidando aqui com a cultura judaica, pré ou pós exílica, no entanto, com fortes traços da teologia retributiva, encontrada sobretudo em Deuteronômio 28 (aliança Mosaica).

Ensino” (mûsar) tem a ver com instrução, treinamento, prática. Logo, o que parece ser dito no início do versículo 2 é: Para se ter moralidade – sabedoria posta em prática – é imprescindível treinamento.

O pensamento ora exposto, é da necessidade de uma mentoria, que ensine e conduza o discípulo a prática, esse papel é desempenhado pelos provérbios sapienciais.

Ainda no mesmo verso surge: para entender as palavras de inteligência. “Entender”, está no sentido de compreender, discernir. Só com discernimento se poderá efetivamente absorver os ensinos proverbiais.
A suma do que lemos nos versículos um e dois é: Os provérbios foram escritos para prover o homem – judeu – de uma moralidade que o levasse a ser um cidadão conforme prescrevia a torah.
Segundo o escritor, só alguém bem instruído, com a compreensão exata dos valores de sua nação e fé, poderia internalizar e expressar a inteligência e sabedoria a ele ofertadas.
Para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade.
Fazendo o exercício da sensatez - bom proceder – é que a ética e a moralidade triunfarão. Três palavras são usadas para falar do resultado do processo:
Justiça: O termo não é usado simplesmente como antônimo de injustiça, mas sim como virtude do cidadão de bem – ele não é ímpio (gentio), nem age como tal - ele é justo porque pratica a justiça e não unicamente por fazer parte de Israel, usando o juízo (julgamento) com equilíbrio e imparcialidade (equidade).
Para dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso.
É importante observar o uso da palavra “simples”, no texto, é alguém desprovido das benesses da aliança, um gentio, ou um israelita apóstata.
O significado nunca é o de alguém ingênuo ou tolo, mas sim de alguém “desligado” que não leva a sério a vida e muito menos a fé.


Wanderley Nunes.



segunda-feira, 16 de maio de 2016

Espiritual ou carnal?




Ouvimos muitas discussões e definições do que seja ser carnal ou espiritual. Se uma pessoa ora muito, se entrega aos cânticos de cunho religiosos, ou mesmo se vale de muitos momentos devocionais, tal pessoa é tida como espiritual. Por outro lado, se alguém é do tipo não afeito a muita oração, cânticos e devocionais… Temos aí um carnal segundo o senso comum.

 Artigos

Mas o que de fato é uma pessoa carnal? Para traçarmos o perfil do que sejam os termos carnal e espiritual, tomaremos dois versículos emblemáticos, o primeiro I Co. 2.15:

Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido…

Em seguida, I Co. 3. 1:

Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo.

Para obtermos o mínimo de compreensão do texto, exige-se a busca do contexto. No capítulo 1. 11, logo depois das saudações, Paulo aponta um problema muito sério que vinha acometendo a comunidade de Corinto, o problema tomara uma proporção de tal monta que chegou aos seus ouvidos mesmo estando em outra cidade.

Os Coríntios estavam divididos nos pensamentos e atitudes, eram partidaristas (I Co. 1.12). Paulo faz uma breve explanação sobre divisões em Cristo (I Co. 1. 13-16), culminando com a fala sobre ter batizado algumas pessoas, afirmando, no entanto, que a prédica sobre o Evangelho sobrepunha todas as coisas (1. 17). A partir desse momento, o apóstolo põe de lado os recursos dos homens – dentre eles a sabedoria – para exaltar a cruz de Cristo.

Lembremo-nos, ele está falando para um público helênico, alguns com influências estrangeiras, mas no geral, a comunidade era grega. A contenda e a divisão girava em torno de quem era o mais importante mentor, Paulo passa então a contrastar a sabedoria humana com a Divina, sublimando a última como lhe era próprio, com o intuito do pôr os homens como peças fundamentais na economia [ 1 ] celeste, entretanto, essa importância era sempre com relação ao todo.

A ideia do texto aos Coríntios não é desprezar a sabedoria dos homens como alguns teimam enfatizar. O que acontece é, quando a sabedoria de Cristo é reconhecida e exaltada, toda inteligência e habilidade humana – seja de quem for : Paulo, Apolo… – se torna microscópica (I Co. 1. 18-25).

No capítulo 2. 1, observamos a proposta Paulina de não discutir ideias e argumentações muito elaboradas, ele buscou apresentar Cristo.

Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito. (I Co. 2. 4).

Ele claramente está falando do Espírito de Cristo e do poder salvífico que só Jesus, a aleteia de Deus possui. É da sabedoria de Deus – Jesus – que o apóstolo fala, sabedoria que os poderosos e sábios não conheceram, embora já houvesse sido revelada (I Co. 2. 10).

Toda a explanação Paulina segue em torno da sabedoria de Deus, como também sobre o porquê dos poderosos, estudiosos, doutores, e os mais habilitados na fé de Israel não terem reconhecido tal sabedoria: O partidarismo.

Paulo segue argumentando sobre o tema (I Co. 2. 6-16), para logo depois, no capítulo 3. 1-3, nominar os coríntios de “carnais”, como “carnais foram aqueles que não reconheceram em Jesus o Messias. Os coríntios, assim como os líderes da época de Cristo, estavam sendo partidaristas, consequentemente, contenciosos e ciumentos (I Co. 1. 11).

Para o texto de Coríntios, ser carnal não é ser pouco devocional. Ser carnal é ser partidarista, contencioso, é não reconhecer Cristo acima dos homens. O capítulo 1. 12, discorre sobre o espírito recebido pelos coríntios, não era o espírito do mundo, ou seja, um modo de vida voltado para si próprio, para as coisas e conquistas dessa vida, cujo louvor é verticalizado, meramente terreno e humano.

A ênfase da exposição é a recepção do Espírito de Deus, por conseguinte, aquela comunidade deveria ser grata, pois tudo que possuíam de Deus – inclusive os mentores – provinha da graça de Cristo. A fala Paulina aponta para a valorização dos mestres com relação ao todo, individualmente e para si próprio, qualquer obra se torna ínfima e inconsistente, pois somos membros uns dos outros (Rm. 12. 5).

Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um (I Co. 3. 5).

Aqui Paulo não está desvalorizando ninguém, muito menos a si próprio, porém expondo sua pequenez e dos seus companheiros com relação a grandiosidade da economia Divina, da qual fazia parte como brilhante colaborador. Vejamos como ele finaliza seu comentário sobre o assunto.

Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro; tudo é de vocês, e vocês são de Cristo, e Cristo, de Deus (I Co. 3. 21-23).

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Ser carnal, conforme a epístola aos coríntios, é pôr seus interesses – ainda que eivados de “espiritualismo”, devoção e ritos – acima das pessoas, objeto maior do amor de Deus, a ponto de contender, separar-se, e produzir mágoas, tudo feito contraditando a ética de Jesus, aquele que em seus discursos e práticas sempre depôs contra sentimentos e atos mesquinhos.

Façamos um paralelo entre I Co. 3. 3 e Gl. 5. 20,21, teremos duas palavras apontando para obras da carne: inveja e divisões, todavia, ainda que de forma implícita, perceberemos outros sentimentos subjacentes ao segregacionismo dos coríntios: Ódio (falo aqui do sentimento religioso partidarista), dissensões, facções…Tudo produzido em nome de Cristo.

Ser espiritual, em contrapartida, é ter paz (sobretudo com o diferente), paciência, amabilidade, domínio próprio… (Gl. 5. 22,23) [ 2 ].

Em lugar de ficarmos brincando de gato e rato com os que pensam diferente de nós, devemos antes de tudo buscar o acolhimento e o diálogo pacífico, se forem cabíveis. Senão, deixemos o silêncio ganhar voz apenas com a nossa tolerância e paz. Pois se o amor, a graça e a bondade de Cristo não forem retratadas do humano para o humano, a ponto de conscientizar o outro em amor, não serão hostilidade e truculência que farão isso.



Wanderley Nunes




[1] O vocábulo “economia” advêm da junção de duas palavras: oikos (casa) e nomia (lei) oikonomia, podendo ser traduzida literalmente como a lei da casa. Irineu de Lion parece ter sido o primeiro a usar esse termo por volta do III século. Ele usou economia para falar como Deus lidou com a história da salvação. Logo, a economia da salvação diz respeito as riquezas eternas de Deus dispensadas ao homem.

[2] Tanto aqui como em todo o texto, usamos a tradução da nvi.


Exibido todos os dias às 23h30 na TV Bacana Canal - Canal 17

quinta-feira, 17 de março de 2016

A República de Curitiba e o terror dos pilantras.



República genericamente falando, significa uma forma de governo em que o chefe de Estado é eleito direta ou indiretamente pelo povo, exercendo seu mandato por um determinado período.

Mas quando tudo isso se perde? Quando alguém ascende a rampa planaltina ovacionado, sob a égide do sacro lema vermelho: " A esperança venceu o medo " e o que se vê ao longo dos anos é o medo se instalando nos corações já desesperançados?

O que fazer, quando um chefe de Estado com o intuito de preservar o seu cargo e governabilidade usa para isso o expediente, que no mínimo, explícita sua má fé e o desejo maquiavélico de blindar a si mesmo e seus confrades?

O antídoto para tal processo parece ser mesmo uma nova república...

E ela já existe, por hora, sediada em Curitiba. 

O ex-presidente lula, foi ao mesmo tempo o vaticinador e o alvo dos próprios vaticínios:

"Estou assustado com a República de Curitiba".

O que podemos dizer nesse momento é que ele deve continuar assustado...

O chefe da República de Curitiba é o juiz Sérgio Moro, que de modo legítimo cumpre seu ofício e foi "moralmente eleito pelo povo" para entrar nesse embate jurídico contra a pilantragem institucionalizada.

É Dilma e Lula, de fato existe uma nova República e vocês definitivamente, não fazem parte dela.


Wanderley Nunes