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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A necessidade de discernimento

Um dos grandes problemas da interpretação Bíblica, é a dificuldade de se entender o escrito profético como crença no realizado na dimensão do eterno, e o seu desfrute completo, quando tal dimensão se instalar em definitivo.

 Essa é a tensão entre o que já possuo de direito em Cristo, porém ainda não tenho concretizado de fato na dimensão física.

Podemos exemplificar de modo mais claro com a seguinte pergunta: Quando você se rende a Jesus, o Evangelho lhe assegura salvação não é? : “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida”1. Mas nesse momento você tem seu corpo transformado e entra na eternidade? Claro que não!

Você já possui, apenas não desfruta agora. Um grande exemplo disso encontramos no episódio dos homens que foram comissionados por Moisés para espiar a terra prometida. Por promessa de Deus aquela terra já lhes pertencia, entretanto, eles ainda não estavam morando nela. Os espias, em número de 12, cada um representando uma tribo, trariam amostras de que a terra existia, não só para testemunhar sua ida lá, mas para provar também a veracidade de tudo que fora dito.

Disse o SENHOR a Moisés:
Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um homem, sendo cada qual príncipe entre eles. […] Depois, vieram até ao vale de Escol e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas, o qual trouxeram dois homens numa vara, como também romãs e figos.
Esse lugar se chamou o vale de Escol, por causa do cacho que ali cortaram os filhos de Israel.
Ao cabo de quarenta dias, voltaram de espiar a terra,
Caminharam e vieram a Moisés, e a Arão, e a toda a congregação dos filhos de Israel no deserto de Parã, a Cades; deram-lhes conta, a eles e a toda a congregação, e mostraram-lhes o fruto da terra.
Relataram a Moisés e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e, verdadeiramente, mana leite e mel; este é o fruto dela.2

Observe, “fomos à terra”, se foram lá, então a terra existia. Como provar para o povo que não havia tido a mesma oportunidade? Através da palavra (o testemunho) e dos frutos da terra (o sinal).
A palavra apontava para a terra da promissão, o fruto corroborava e autenticava a promessa. Agora temos a pergunta: Os frutos eram a terra? De modo algum, mas eram uma pequena demonstração da sua existência inconteste.

Do mesmo modo, Paulo faz uma alusão ao Espírito de Deus como um selo (sinal) para aqueles que tem crido no Evangelho. O Espírito de Deus com todas as benesses que lhe são inerentes, constitui-se assim num penhor (garantia) de que Jesus transformará o nosso corpo mortal e corrupto, em um corpo imortal e incorruptível na sua vinda e no seu reino.

Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.3

Paulo explicita: Ao ouvir o Evangelho e crer nele, se recebe o Espírito de Deus como um selo de garantia da salvação. Logo, temos a salvação porque temos o Espírito, mas não temos ainda a imortalidade, a incorrupção, a nova terra, o novo céu… Embora tenhamos tudo isso garantido pelo selo do Espírito em nós, todavia, falta-nos a concretude, que se dará apenas no último dia.

Precisamos compreender a tensão existente entre o físico e o espiritual, entre o presente e o porvir, como diriam os velhos eruditos da fé: A tensão entre “o já, mas ainda não” do Evangelho.
Fui curado por Jesus, mas ainda adoeço, ele levou meus pecados, mas ainda peco, tenho vida eterna, mas ainda morro. Mas tenho a certeza do Evangelho que muito em breve não mais adoecerei, não mais pecarei, e não mais morrerei.

Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.

E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.
[…] Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro.
No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos. Nunca mais haverá qualquer maldição.
Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro.
Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos.4

Quando se consegue olhar a vida, tendo a alegria e leveza do evangelho, crendo que Deus pôs no homem - sobretudo no homem do evangelho - todas as possibilidades, não há razão para temor, aquele que crê está seguro. Pode encarar a vida, sabendo e provando do bem e do mal que lhe são inerentes, vivendo a liberdade do fardo leve e jugo suave de Cristo, que atrai, cativa e subjuga o homem com correntes e cadeias de amor.

Posto que em Cristo, o homem tem a possibilidade de ser ele mesmo e ser livre, livre das amarras da religião escravizante, livre dos dogmas petrificados, dos “irmãos” espias da liberdade alheia… Tendo a consciência de que é morada de Deus, possuidor de uma salvação que não perde e de uma unção que ninguém rouba.

Está portanto tal homem, livre de toda sorte de magias e inimigos invisíveis. Não há batalhas a serem travadas, a não ser consigo mesmo. Esse homem entretanto, pode se gloriar em Cristo, em quem todas as dificuldades e fraquezas humanas não possibilitam o afastamento do Reino de Deus.

Essa consciência, que só quem é do evangelho possui, é que tem o poder de constranger todo aquele que é objeto desse amor, tornando-o cativo a uma consciência do Espírito. Somos sim, livres de tudo, somos sim, cativos do amor salvífico do evangelho que nos alcançou, desfrutemos pois dele, sem culpa e sem medo.

Wanderley Nunes

1Jo.5.24
2Nm.13.1,2 e 23-27
3Ef. 1.13,14
4Ap. 21.1-5 ; 22.1-5