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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Cordeiro foi morto antes da fundação do mundo?



“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. Ap 13:8.

O referido versículo é usado muitas vezes para defender a literalidade da morte de Jesus ainda antes da fundação do mundo, todavia, tal afirmação necessita de argumentos que venham corroborar essa assertiva.

Vale ressaltar que em nenhum momento é dito que o cordeiro foi morto “antes”, mas “desde” a fundação do mundo. Uma tradução mais literal para esse texto seria:

“E hão de adorá-la todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado”.

De fato a afirmação do texto é quanto a predeterminação Divina da morte do cordeiro, cuja efetivação estava de antemão assegurada, como se já tivesse sido levada a efeito; do mesmo modo como é assegurado o naufrágio da fé daqueles que não possuem seus nomes no livro da vida.

Paulo escrevendo a Timóteo patenteia a ideia da morte do cordeiro em sua manifestação terrena : “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;

E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte (com sua morte), e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho” (II Tm.1.9-10).

Pedro em conformidade com Paulo assevera: “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido (Não morto), ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (I Pe.1.19,20).

A predeterminação da morte de Jesus só vem fortalecer a ideia da soberania de Deus, pois demonstra claramente sua hegemonia absoluta, inclusive no que se refere aos seus planos.

Há pensamentos e propósitos seus inexistentes na esfera humana, no mundo da matéria, que só “existem” na sua inacessível e incomensurável mente, a bíblia assim o demonstra.

“Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó {Ex 3,6}? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos” (Mt.22.31,32);

“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia”. ( Sl.139.16).

As escrituras explicitam de forma inequívoca a onipotência de Deus quando o mostra considerando existente o inexistente: (Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem (Rm.4.17).

Logo, os propósitos de Deus quanto aos homens delineados na eternidade, não são efetivados nessa dimensão, pois dizem respeito à humanidade caída, e não a seres celestes não contaminados pelo pecado.

Ademais, o derramamento de sangue através de sacrifícios e holocaustos foi ordenado aos homens, não aos anjos. Não há nem uma palavra da Escritura sobre uma morte vicária nos céus. A bíblia fala daquele terrível dia no calvário, quando o decreto eterno foi concretizado, como bem testificou Pedro no dia de pentecostes.

“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. (At. 2.23).

Jesus foi morto de fato na eternidade ou no tempo?

Tomar apocalipse 13. 8 em particular, para afirmar a morte literal de Jesus na eternidade, antes da sua entrada na linha do tempo, é desmontar o ato salvífico em todas suas instâncias, é destituir Deus de sua ontologia, já que na eternidade ele é espírito, e na dimensão que a bíblia chama de céu não há derramamento de sangue, muito menos morte com já foi dito. Um espírito não tem carne, nem sangue.

Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.(Lc. 24.39).

Na dimensão atemporal de Deus, fora da cronologia humana, tendo como base sua infinitude e poder de convergir em si todas as coisas, não se consegue falar da morte do cordeiro, sem apontar para o pecado que a causou. Tudo isso teria que ter sido factual no âmbito eterno (céu).

O que podemos apreender aqui a respeito da morte sacrificial do cordeiro de Deus, é que isso só seria possível no campo dos seus atributos e de forma descendente, ou seja, a eternidade, o atemporal imiscuindo-se no tempo. No entanto, necessitamos compreender o tempo em sua ambivalência.


kairos (καιρός) e Kronos (Κρόνος)

Kairos, como usado no mundo helênico, é algo como um momento que nos parece particularmente adequado para levarmos a efeito os nossos planos particulares, tornando-os nesse âmbito um tempo propício.

O Kairos aplicado às escrituras do Novo Testamento, não comunga da ideia helenista de planificações e projetos humanos, é antes um decreto Divino que faz desta ou daquela data um Kairos.

E te derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo (Kairos ) da tua visitação (Lc.19.44)

. και εδαφιουσιν σε και τα τεκνα σου εν σοι και ουκ αφησουσιν εν σοι λιθον επι λιθω ανθ ων ουκ εγνως τον καιρον της επισκοπης σου 

Em outro lugar é apontado um Kairos concernente ao anticristo.
“E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo (Kairos) seja manifestado”. (II Ts 2.6).

και νυν το κατεχον οιδατε εις το αποκαλυφθηναι αυτον εν τω εαυτου καιρω

Paulo ainda se refere a um Kairos (tempo propício) quando seria revelado o único e verdadeiro Deus, Senhor dos senhores.

“A qual a seu tempo (Kairos) mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores”(I Tm. 6.15).

ην καιροις ιδιοις δειξει ο μακαριος και μονος δυναστης ο βασιλευς των βασιλευοντων και κυριος των κυριευοντων 

Observado no sentido Neotestamentário, o Kairos pode ser distribuído na linha do tempo formando a história da salvação, particularizando-a em etapas. Nunca esse Kairos decretivo se encontra presente na linha contínua do tempo, posto que pertence ao atemporal, ao Divino, àquele que não existe, pois sustenta toda a existência em si mesmo, estando ele mesmo fora da existência do ser.

“Pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas” (At.17.25).

Κρόνος (Kronos)

Κρόνος é o tempo sequencial, existencial, que à semelhança da mitologia helênica, nos vence, nos devora, nos mede em sua redoma temporal e nós o medimos, mas nunca nos congratulamos em contemporaneidade, pois embora Kronos seja dimensionado de forma terreal, ele é sempre ulterior a nós homens.

É de sua nomenclatura imponente que derivam cronologia, cronômetro, cronograma, nominações sempre voltadas à altaneira obra de aferir aquele que desnuda nossa efemeridade.

Deus manifestando-se no Kronos

Deus em sua sabedoria e arbítrio (aliás, Deus é o único que não tem o arbítrio escravizado por nada, nem por ninguém) resolveu manifestar-se ao homem, por isso criou um corpo de carne no ventre Mariano: “No principio era o Logos (a mente ou inteligência suprema de Deus), o Logos estava com Deus (isso não foge da lógica em momento algum) e o Logos era Deus.

Assim como não podemos desassociar a mente do corpo sem aniquilar todo o ser , Deus sendo espírito não pode ser desassociado daquilo que o “sustenta” enquanto ser - sua faculdade criadora, inteligente e ativa - O Logos.

Na dimensão ou mundo estritamente espiritual não havia possibilidade de Deus ser visto por nenhum ser terráqueo. O que de Deus os homens puderam ver foram teofanias, ou seja, manifestações físicas as quais indicavam a “presença” Divina, fosse por meio do fogo, fenômenos nas águas etc.

Tudo ponteado por interpretações antropomórficas das mais diversas, algumas delas descritas pela própria bíblia, com o intuito de expressar em linguagem inteligível a revelação Divina.

E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.

Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus” (Ex.3.4-6).

Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv 15.3).

“Ajuntai-vos todos vós, e ouvi: Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR o amou, e executará a sua vontade contra babilônia, e o seu braço será contra os caldeus”. ( Is.48.14).

Deus é descrito falando do meio do fogo em um sarçal, como tendo olhos e braços tal quais os humanos.

Toda a linguagem figurada da bíblia com relação ao Divino, busca metafisicamente e por analogia, expressar e qualificar Deus enquanto ser, algo dialeticamente inalcançável, encontrando sua perfeição dialógica tão somente na encarnação do Logos.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.

εν αρχη ην ο λογος και ο λογος ην προς τον θεον και θεος ην ο λογος  (Jo.1.1).

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”

και λογος σαρξ ο εγενετο και εσκηνωσεν εν ημιν και εθεασαμεθα την δοξαν αυτου δοξαν ως μονογενους παρα πατρος πληρης χαριτος και αληθειας (Jo.1.14).

O que era “realidade” exclusiva do Logos (mente) de Deus no tempo sem tempo, ganha um Kairos (um tempo propício). Na encarnação, e só nela, Deus se faz homem, e assim sendo, torna-se real aquilo que não o era para os homens, nem mesmo para os anjos, pois fazia parte única e exclusivamente da mente inatingível e inenarrável do Todo poderoso, o qual ocultou e revelou tudo em seu tremendous mysterium, O Logos.

“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória”.

και ομολογουμενως μεγα εστιν το της ευσεβειας μυστηριον θεος εφανερωθη εν σαρκι εδικαιωθη εν πνευματι ωφθη αγγελοις εκηρυχθη εν εθνεσιν επιστευθη εν κοσμω ανεληφθη εν δοξη (I Tm. 3.16).

“Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória”.(I co.2.7,8).

Observamos então, que a morte do cordeiro estava claramente planificada na mente Divina, onde de fato era real e inexorável, entretanto, carecia de uma personificação humana, a fim de que o homem fosse salvo por um perfeito igual que o substituísse e o justificasse. Glória pois a ele.

Em Cristo, Wanderley Nunes

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Paulo e o seu ministério

Ao meu amigo Jabson
Querido amigo, desculpe a demora em responder a suas indagações a respeito do ministério do “nosso amado irmão Paulo”. Temos aqui apenas uma breve e simples introdução. Espero que sirva como um ponto de partida e um flash, que venha ancorar sua fé na mensagem dada por Deus ao mensageiro gentílico. Revelação esta eclipsada e esquecida por alguns séculos, mas sendo agora restaurada por amor dos eleitos. Deus continue te abençoando e boa leitura.
O Espírito de verdade.
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.”(Jo.16.12-14).
Essas palavras foram sempre interpretadas como instruções de Jesus com respeito ao Espírito Santo que seria derramado no dia de pentecoste, todavia, é de conhecimento de qualquer estudante mais atento das escrituras que Deus sempre se revelou ao homem, no homem e através do homem. Isto está explicito no chamado de Noé (Gn.6. 8, 13-14), de Abraão (Gn.12.1-3) e outros.
Deus em sua revelação nunca trabalhou no vácuo, sempre usou alguém para entregar a mensagem que desejava transmitir. Se não há alguém com uma mensagem dada por Deus, logo haverá muitas “mensagens”.
Deus sempre tratou com a humanidade enviando uma mensagem e por conseguinte um mensageiro, pois sempre que os homens interpretaram as palavras de Deus a seu modo, houve divergências e as mais loucas heresias. Temos um personagem que lança muito luz sobre esse assunto: João Batista.
“Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.” (Lc.1.13-17).
Deus estava visitando o seu povo, era iminente a irrupção do ministério de Jesus Cristo. Os Israelitas estavam em sua terra, havia uma religião instituída e suas mais diversas ramificações: Fariseus, saduceus, zelotes, essênios... Todos se diziam guardiões da verdade última de Deus. Em meio a essa verdadeira Babilônia, Deus envia um homem com uma mensagem.
Um louco do deserto, um eremita palrador cujas palavras possuíam a unção de Elias, não para convencer com sinais miraculosos e prodígios visíveis, mas para converter o coração mais pedregoso, e chamar á conversão o mais indiferente e religioso pecador.
Olhando para a Escritura hoje, com um olhar de quem perscruta a história, não é difícil reconhecer João Batista e seu ministério. Com nossa moderna e tradicional visão, no mínimo aceitamos o Batista como o precursor do Messias. Entretanto, não foi assim em sua época.
A mera figura do profeta era em si mesma asquerosa, ele quebrava todos os paradigmas da religião vigente. Acentuando mais ainda essas diferenças, o fato de estar inserido em uma sociedade teocrática. João Batista era a antítese da religião instituída.
Enquanto o sacerdote se vestia pomposamente de linho fino (Ex.28.4), João trajava peles de camelo (Mc.1.6); segundo a lei um animal impuro (Lv.11.4), que não deveria servir de alimento, nem mesmo se poderia tocar em seu cadáver. A alimentação também era um diferencial entre o profeta e a religião do seu tempo. O sacerdote se alimentava de flor de farinha (Lv.2.1-3), o Batista consumia gafanhotos e mel silvestre (Mc.1.6).
A mensagem contida na indumentária e culinária nem um pouco ortodoxas do atalaia de Deus, indicava um basta em todo formalismo podre e meramente ritualista da religião. Tudo o que Deus mesmo havia instituído para sua glória, o homem estava usando de forma egolátrica, para sua própria locupletação e bel prazer.
Haviam transformado o rito - antes uma expressão de adoração, temor e tremor - em uma fórmula fria, casuísta e aos olhos de Deus uma verdadeira abominação. João se vestia de peles de animal “imundo”, para dizer com isso que as justiças produzidas por meras ritualizações sem o espírito do temor, eram nada mais que um acinte a Deus, uma abominação maior de que vestir-se de peles de camelo.
Do mesmo modo, a alimentação do profeta falava que mais repugnante que se alimentar de gafanhotos era o deliciar-se com o seu próprio pão, usando o nome do Senhor como um mero pretexto : “E sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos do que é nosso; tão-somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio.” (Is.4.1).
Quando a palavra era exposta, para de fato alimentar o povo que se chamava pelo nome do Senhor, a reação era sempre negativa, não desejavam alimentar-se do pão do céu, e sim dos seus quereres.
“[...]a alma deles se enfastiou de mim.” (Zc.11.8b).
O papel do mensageiro.
Temos nas Escrituras um tipo perfeito de mensageiro de Deus na figura do escravo Eliezer, enviado por Abraão para trazer a noiva amada para Isaque. No sistema denominacional, Eliezer é uma prefiguração do Espírito Santo.
Se observarmos com olhos mais bíblicos que tradicionalistas, perceberemos que isso é uma falácia, já que a pregação de modo nenhum é feita pelo Espírito de Deus, seu papel é comissionar e equipar. Também não é obra para anjos. Eles laboram em favor dos que hão de ser salvos (Hb.1.14), porém não possuem a prerrogativa da pregação, ela foi dada ao homem (Rm.10. 14-17).
Note a descrição perfeita de um pregador que recebe de Deus a responsabilidade de entregar uma mensagem para a noiva do Senhor, preparando-a para o encontro com o esposo.
O mensageiro Eliezer (não o Espírito Santo, mas um homem com uma mensagem do Espírito Santo), o escravo mais experimentado de Abraão (Deus), é convocado para levar uma palavra que trará a salvo Rebeca, a noiva (a Igreja eleita do Senhor), para o encontro com Isaque (Jesus Cristo, Deus que se fez homem). (Gn. 24.2-4).
A noiva Rebeca (a Igreja eleita, não estamos falando de denominação, nem de instituição “a” ou “b”; falamos de pessoas, o corpo de Cristo) tem como principal característica a obediência à palavra e discerne instintivamente a mensagem transmitida pelo escravo do Senhor.
E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu senhor, e partiu, pois que todos os bens de seu senhor estavam em sua mão, e levantou-se e partiu para Mesopotâmia, para a cidade de Naor.
E fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto a um poço de água, pela tarde, ao tempo que as moças saíam a tirar água. E disse: O SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, dá-me hoje bom encontro, e faze beneficência ao meu senhor Abraão! Eis que eu estou em pé junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água. Seja, pois, que a donzela, a quem eu disser: Abaixa agora o seu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo Isaque, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu senhor. E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, que havia nascido a Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o seu ombro. E a donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem homem não havia conhecido; e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro e subiu. Então o servo correu-lhe ao encontro, e disse: Peço-te, deixa-me beber um pouco de água do teu cântaro. E ela disse: Bebe, meu senhor. E apressou-se e abaixou o seu cântaro sobre a sua mão e deu-lhe de beber. E, acabando ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os teus camelos, até que acabem de beber. E apressou-se, e despejou o seu cântaro no bebedouro, e correu outra vez ao poço para tirar água, e tirou para todos os seus camelos. E o homem estava admirado de vê-la, calando-se, para saber se o SENHOR havia prosperado a sua jornada ou não. E aconteceu que, acabando os camelos de beber, tomou o homem um pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as suas mãos, do peso de dez siclos de ouro; E disse: De quem és filha? Faze-mo saber, peço-te. Há também em casa de teu pai lugar para nós pousarmos? E ela lhe disse: Eu sou a filha de Betuel, filho de Milca, o qual ela deu a Naor. Disse-lhe mais: Também temos palha e muito pasto, e lugar para passar a noite. Então inclinou-se aquele homem e adorou ao SENHOR.
(Gn.24.10-26).
Como já mencionamos, Deus sempre fez uso de um atalaia para entregar sua mensagem. Foi assim quando chamou Noé, quando tirou Abraão de Ur dos Caldeus, o mesmo se deu no envio de José lá no Egito, como também Moisés resgatando o povo da escravidão, Elias combatendo a idolatria a baal, Eliseu idem, depois podemos observar João Batista, no tempo que Roma dominava o povo de Deus, e possuía influência direta em sua religião.
Mais tarde vem Cristo, é crucificado, morto, e ressurge ao terceiro dia. Chega o pentecostes, os discípulos recebem o Espírito prometido. Havia a necessidade do Evangelho chegar às mais longínquas nações, e às mais diversas culturas, tudo isso teria que ser feito sem os entraves da lei ou seus resquícios. Para que isso fosse levado a efeito, Deus teria que comissionar, como sempre fez, um mensageiro.
Paulo o primeiro mensageiro aos Gentios.
O Senhor foi buscar no próprio Judaísmo o austero e zeloso Saulo, cujo nome significa: Pedido; denotando assim que os seus pais oraram a Deus em busca de um filho homem, o que era de muita importância na religião judaica, para assim perpetuar as suas tradições.
Ao ser convertido à fé em Cristo, no caminho de Damasco (At. 22.6, 15 e 21), adota um nome gentílico, mais precisamente romano: Paulo - que quer dizer: pequeno; numa clara demonstração de desprendimento, que é o verdadeiro espírito do Cristianismo.
A mensagem que Paulo trouxe, não era fruto de uma convivência física com os apóstolos, e muito menos com o Senhor, que aliás, ele nem conheceu pessoalmente. Foi sim, o resultado de um chamado de Deus e de seguidas revelações, que punham o seu ministério em um patamar muito superior aos dos outros apóstolos.
“Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.” (Gl 1.11,12).
Paulo foi chamado para levar as boas novas (evangelho) aos Gentios. A seu respeito estava profetizado (Is. 49.6) : “... Também te dei para luz dos Gentios, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.” E ele próprio discerniu essa profecia. (At.13. 46,47).
Pedro, Tiago e João foram na verdade chamados para anunciar a salvação em Cristo aos Judeus, embora Pedro, a princípio, tenha sido um instrumento do qual Deus se utilizou, para que os Gentios começassem a ouvir a palavra, (At. 15.7) , até que o ministério gentílico de Paulo se manifestasse:
“Antes pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão (porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para os Gentios)”. (Gl 2.8).
“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a Graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fossemos aos Gentios e eles à circuncisão.” (Gl 2.9).
Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos Gentios, na fé e na verdade.” (I Tm 2.7).
O Apóstolo Paulo entendeu, como nenhum outro apóstolo, a dimensão da palavra “Graça” - o favor imerecido de Deus aos homens - o vemos falando disso no episódio quando repreendeu Pedro, pois este tinha comunhão com os Gentios, todavia, quando aparecia alguém, vindo de Jerusalém da parte do apóstolo Tiago, ele se afastava e evitava até participar das refeições com eles. (Gl 2.11-18). Para Paulo a Graça era total, era viver a vida da fé. (Tt 3.5-7).
O apóstolo dos gentios não pensava a Igreja instituição, e sim o corpo de Cristo. Sabemos pelo relato da própria escritura que Paulo:
  1. Trabalhou mais que os outros apóstolos:
“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo”. (I Co. 15.10).
  1. Com esse evangelho revelado, Paulo foi o que mais escreveu epístolas, já que tinha muito o que transmitir. Foram 13 epístolas, quase a metade do Novo Testamento.
  2. Foi quem mais evangelizou:
Evangelizou a Ásia em dois anos, Atos 19:10; e parte da Europa, Espanha e Itália (Roma), (Rm.15:28-29).
  1. Ratificou a encarnação de Deus em Cristo ( Cl.1.19, 2.9 e I Tm.3.16)
  2. Batizou em o nome do Senhor Jesus Cristo ( At.19.5), conforme lhe fora revelado de antemão pelo próprio Senhor na estrada de Damasco. ( At. 9.5 e 18).
  3. Discerniu claramente estar sendo o veículo humano do Espírito da verdade, profetizado por Cristo para conduzir os gentios das trevas para a luz. (At. 26.17,18).
  4. De igual modo compreendeu ser o mensageiro da graça de Deus para a Igreja nascente (II Co.3.6, Cl.1.23 e 25, Ef. 3.8,9, II Co.11.2,3), eivada de costumes e ritos judaizantes.
Que fique bem claro em nossas mentes, que o evangelho revelado, como bem profetizou Jesus (Jo.16.12), foi dado a Paulo.
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”.
A perfeita vontade de Deus, como vimos a pouco, que o próprio Jesus Cristo, como ministro da lei (Rm. 15.8) não pôde em hipótese nenhuma falar dela, foi uma missão reservada a esse escravo Eliezer, pois o Espírito que desceu sobre os apóstolos no dia de Pentecostes, atuou em Paulo de forma específica para o pôr como “luz dos Gentios”.
“Mas quando vier aquele espírito da verdade, ele vos guiará em toda verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir” (Jo. 16.13).
Em nenhum apóstolo estes textos proféticos se harmonizam tão bem, exceto em Paulo. Usado pelo Espírito de Deus não falou de si mesmo, como profeta gentílico, só falou o que recebeu do Senhor e profetizou sobre a corrupção da Igreja no fim dos tempos.
Sim, este precioso mensageiro nos revelou a perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). Um verdadeiro Eliezer em sua geração, preocupado em entregar ao seu Senhor uma noiva pura, como enfaticamente o vemos falando a Igreja em Corinto.
“Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” (II Co.11.2,3).
Em outra ocasião, exorta aos gálatas a não abraçarem um outro evangelho, pois qualquer outro conteúdo bíblico-doutrinário, que não possuísse as características Paulinas, deveria ser veementemente rechaçado como uma mensagem de infernal condenação.
“Mas ainda que um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. (Gl. 1.8).
Paulo o modelo.
Sabemos que a mensagem aos gentios tem como primeiro arauto e modelo Paulo. Observamos que as cartas enviadas as Igrejas gentílicas, registradas em Apocalipse são referenciais importantes para corroborarem nossa argumentação. O próprio livro assegura ser uma mensagem atemporal e profética.
“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Ap.1.3).
Do mesmo modo, as cartas enviadas às Igrejas vislumbram um tempo além daquele momento vivido pelo profeta João evangelista, pois retratam episódios claramente não circunscritos aquele período histórico. Isso fica patenteado através dos significados dos nomes de cada uma das Igrejas asiáticas citadas ali .
Há traços das fases vividas pela Igreja através dos séculos, traços esses, que o mais cético crítico do Evangelho não terá condições de refutar sua veracidade e historicidade. João escreveu para sete Igrejas locais, Deus, porém, falou para sete fases proféticas da Igreja em sua peregrinação terrena.
Em cada uma dessas fases sobreveio a apostásia, entretanto, Deus sempre proveu uma mensagem para restaurar aos seus filhos a palavra confiada ao primeiro mensageiro e modelo de todos os outros que viriam.
As dispensações gentílicas.
  1. Éfeso – Desejável e/ou relaxada. Tendo como fundamento o Jesus revelado através da mensagem Paulina, embora saibamos que o apóstolo dos gentios não chega ao final desta dispensação, sendo executado antes por Roma. No entanto, o que está em jogo aqui é a mensagem pregada por ele, a qual deixou discípulos fiéis, como por exemplo: Timóteo e Epafrodito, dentre outros.
  2. Logo em seguida temos Esmirna – Significa mirra, que era uma resina perfumada produzida por esmagamento. A mirra é usada na produção de óleos, perfumes e utilizada comumente para preparar corpos embalsamados para o velório. Tornou-se por isso, símbolo de amargura e sofrimento. O nome Esmirna era então muito significativo, apontando para uma Igreja sofredora, perseguida por Roma, todavia, exalando sempre o bom cheiro de Cristo.
  3. Pérgamo- Completamente casada e/ou elevada pelo casamento. A profecia aqui fala do relacionamento entre a Igreja e Roma. Desde da época em que Roma deixa de perseguir a Igreja 312, logo em seguida é proclamada a paz 313 D.c, até por volta do Sec. VI, D.c. É a fase e m que a Igreja começa a aderir ao balaísmo e ao nicolaísmo.
  4. Tiatira - Sacrifício de trabalho. É a dispensação em que a Igreja retorna às práticas veterotestamentárias, como também adere aos costumes pagãos de Roma. Essa dispensação vai de 606 a 1520 D.c.
  5. Sardes – Remanescente. Esse tempo pode ser claramente identificado com a época da reforma protestante, bem como o “anjo” da Igreja pode ser reconhecido indubitavelmente na pessoa de Lutero, pois além de dar os primeiros passos para que a Igreja abandonasse o paganismo, as obras da lei e os costumes pagãos, agiu e falou como um verdadeiro anjo de Deus, um profeta para sua época. Esse período vai de 1520 a 1750 D.c.
  6. Filadélfia - Amor fraternal, Um hiato excelente, onde tudo funcionou muito bem. Parecia um prenúncio da vinda de Cristo. O que se destaca nessa época de ouro da espiritualidade “protestante”, é o incansável trabalho evangelístico de John Wesley. Sua Igreja era literalmente o povo. Wesley de fato, não fundou nem uma denominação. Ele próprio dizia: “ Minha paróquia é o mundo.” Essa dispensação, vai de 1750 a 1906 D.c.
  7. Laodicéia - Governo do povo ou o povo governando. Essa dispensação se inicia em 1906 com a eclosão do pentecostalismo em Los Angeles, Estados Unidos, e perdura até a vinda de Cristo para buscar sua noiva amada. É a fase mais longa e mais difícil, pois a Igreja nominal traz em si os frutos abundantes de todas as dispensações precedentes. Vemos agora o “primeiro amor” falado em Éfeso totalmente esquecido, a Igreja tem renovado continuamente seus votos de fidelidade ao casamento realizado em Pérgamo com a religião Romana, pagã-judaica e apóstata. As práticas observadas em Tiatira, foram tão aperfeiçoadas que o “crente” hoje serve ao romanismo, pensando está servindo a Cristo. Como observado em Sardes, há muita aparência religiosa, entretanto não há vida espiritual. Tens nome de que vives, mas estás morto.” Ap.3.1.
Sabemos que em todas as dispensações houve sempre um remanescente com o espírito encontrado em Filadélfia, esperando apenas ouvir a voz da trombeta profética (Is.58.1, Jo.10.16) para seguir seu sonido. Pois no corpo doutrinário Paulino, não se dá ensejo a outro evangelho ou ao relativismo tão em voga nos dias de hoje.
“Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.” (Ef.4. 4-6)
Sabendo de antemão isso, abracemos a mensagem que Deus deu a Paulo e que está restaurando nesta última fase da Igreja, a mensagem da Graça de Deus.
Em Cristo, Wanderley Nunes.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O JEJUM E A GRAÇA DE DEUS

INTRODUÇÃO
Sempre que compartilhamos a palavra de Deus e tratamos do evangelho da graça surgem perguntas com relação a alguns textos obscuros, e por vezes ambíguos os quais, até então, não havia ainda nos ensejado tão agradável oportunidade para analisá-los à luz do pensamento paulino .
Abordaremos o jejum e a graça e como harmonizar o jejum com a palavra neotestamentária, se é que isso pode ser feito. Buscaremos também, respostas plausíveis para algumas dessas indagações, perscrutando a mente envolvente, brilhante, e sobretudo iluminada do “escravo” do Senhor, epíteto com o qual se apresentava Paulo, na maior parte dos seus escritos.
Observaremos o pensamento e o comportamento paulino diante da igreja de Jerusalém, bem como suas atitudes diante dos ritos judaicos. Sua engenhosa e inspirada argumentação de que os gentios são filhos da livre, como Isaque, também merecerá aqui nossa atenção, juntamente com a ideia apostólica de que estamos debaixo da lei de Cristo.
Finalizando nossa argumentação, investigaremos textos controversos saídos da própria pena de Paulo, comparando-os ao que se pode extrair do seu ministério relatado por Lucas em Atos.
Que Deus nos abençoe nessa sublime empreitada.

O JEJUM E JESUS

O primeiro passo para compreender a questão do jejum com relação ao Novo Testamento perpassa por dois textos: Mt. 9.14,15 e Mt. 17.21.
“Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?”

“E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão.”
Os textos deixam patente que os discípulos de Jesus não jejuavam. Se isso não fosse verdade o próprio Cristo teria refutado a afirmação, todavia, ele não só confirma, como aponta os motivos para os seus seguidores não praticarem esse rito judaico. O mestre associa aqui esse sacrífico da lei à tristeza : “Podem porventura andar tristes os filhos das bodas...” . Logo em seguida menciona o motivo para não jejuar: “A presença do esposo”, ou seja, Jesus estando com os seus discípulos não haveria necessidade de jejum (leia o texto “O evangelho da graça x os rudimentos da lei”).
Outra questão associada a essa mesma passagem é quanto aos dias em que o esposo seria tirado. A interpretação comum afirma que seria quando Cristo fosse assunto aos céus, então a igreja ficaria sem o noivo. Essa afirmação aparentemente ganha um pouco mais de força devido ao pensamento trinitarista de que Jesus é a segunda pessoa da trindade, logo não é ele que está hoje na igreja, e sim o Espírito santo.
Mesmo se concordássemos com essa ideia, que indubitavelmente não comungamos, facilmente poderíamos contraditá-la, pois há diversos textos bíblico que confirmam, inquestionavelmente, a presença de Jesus em espírito na igreja.
Se há contradição na doutrina trinitariana com relação a estar Cristo na igreja hoje ou não, para nós que cremos que Jesus é Deus - e que se tornou homem na encarnação, e está em espírito hoje na obra da regeneração dos eleitos - não há nenhuma dificuldade.
Conforme o pensamento tradicional, Jesus (o esposo) foi tirado e não está com a igreja, por isso, ela precisa jejuar, todavia, no mesmo evangelho o mestre afirma: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” (Mt. 28:20). Ora, se Jesus disse que só haveria necessidade de jejuar se ele não estivesse presente, e se de fato está presente, como bem afirma Mt. 28.20, então não há necessidade de jejum.

ALGUNS VERSÍCULOS QUE ATESTAM A PRESENÇA DE JESUS

“E tendo chegado diante da Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu.” (At. 16.7); “a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl.1.27); “Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós?” (II Co.13.5).
Acreditamos que fica muito explicito que só haveria necessidade de jejuar se o esposo não estivesse presente, entretanto, sabemos que hoje na Nova Aliança Cristo não só está conosco, como também está em nós, conforme dantes prometera : “O Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco (era o próprio Jesus), e estará (a partir do pentecoste) em vós.” (Jo.14.17).
Seguindo essa linha de pensamento, o mesmo pode ser aplicado no que se refere a Mateus 17. 21, pois o contexto fala de um episódio em que Jesus convoca Pedro, Tiago e João para um momento de comunhão no qual os discípulos testemunham a transfiguração do Senhor. É justamente quando descem do monte que encontram os outros nove seguidores de Cristo discutindo com os fariseus, pois não haviam conseguido expulsar o demônio de um rapaz.
A razão de não obterem sucesso no intento aclara-se facilmente se for seguida a linha de pensamento delineada pelo próprio Jesus: Não estando na presença dele se faz necessário o jejum. Sabemos pelo relato de Mateus que foi isso mesmo que aconteceu. Há ainda uma agravante, quando perguntado sobre a razão de não poderem lograr êxito contra o diabo, Cristo não fala em um primeiro momento no jejum, mas sim na falta de fé.
“Depois os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, perguntaram-lhe: Por que não pudemos nós expulsá-lo? Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível.” (Mt. 17.19,20). E só em seguida diz que lhes era preciso jejuar, claro, pois não possuíam fé bastante e não estavam com o esposo, e isso segundo o pensamento do próprio Jesus.

COMPREENDENDO A MENTE DE PAULO

E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. (I Co. 9.20-22).
É muito importante para a compreensão de alguns textos, que se tenha uma visão clara do pensamento real do escritor com relação ao assunto a ser abordado. Não podemos agir diferente com relação ao apóstolo dos gentios. Urge compreender o que é importante para Paulo, como também, o que é secundário ou de nenhum préstimo.
Para isso, analisaremos o pensamento Paulino com relação a lei Mosaica e a sua harmonia ou discrepância com a fé em Cristo. Para levarmos a efeito nossa investigação, observemos como o apóstolo crê que a salvação é conquistada:

A salvação pela graça
  • “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” ( Rm.3.24);
  • “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus
    (Ef. 2. 8).
  • “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”( Tt.3.5). Para Paulo, não há dom maior do que a salvação em Cristo, ele crê que em Jesus temos tudo:
  • “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8.32).
A fé judaica e o Novo Concerto
  • “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (II Coríntios 3.6).
  • “E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória.”( II Co. 3. 7)
  • “E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
    Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido.” (II Co. 3.13,14).
  • “Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará. Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” (II Co. 3.16,17).
Nos versículos supracitados vemos o apóstolo dos gentios escrevendo de forma taxativa que era ministro capacitado por Deus, entretanto, não da Antiga Aliança que era um ministério de morte, pois embora houvesse sido gravado em pedras e tivesse o seu quinhão de glória, sua vigoração estava limitada pela vinda de Jesus Cristo e o estabelecimento de uma nova dispensação.
“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. (Gl.4.4,5).
Paulo no texto corintiano usa o véu que cobriu o rosto de Moisés como uma figura do véu do templo em Jerusalém, o qual se rasgou de alto a baixo (Mc. 15. 37,38), simbolizando o fim da separação entre o homem e Deus.
Daquele momento em diante qualquer um que cresse na morte salvífica de Cristo, independente de ser sacerdote, levita, leigo, assassino ou prostituta, crendo no preço sacrificial da morte redentora de Cristo desfrutava, agora, de pleno acesso a Deus pela fé; o véu fora tirado.
O Velho Testamento, para o apóstolo da graça, não tem em si mesmo mais razão de ser. Por isso, assevera de forma categórica, que se houver uma conversão do judaísmo ao cristianismo haverá liberdade em Cristo, aqui prefigurada pelo véu.
Quando o véu judaizante, espiritualmente e literalmente já rasgado por Jesus, for assumidamente rasgado pela igreja cristã, haverá perfeita liberdade em Cristo : “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (Jo 8. 32,36).

Paulo e as obras da lei
A carta de Paulo aos gálatas tem como objetivo trazê-los de volta ao evangelho da graça, pois haviam sido seduzidos a abraçarem preceitos judaizantes obsoletos (Gl. 3.1). De uma forma bem incisiva o apóstolo diz, que se está sendo pregado um evangelho que não se harmoniza com aquele que ele próprio havia pregado, fosse considerado anátema1.
Aos gálatas fica evidenciada a distinção entre lei e graça, sobretudo com a farta explanação paulina ao referir-se a diferença entre o que Abraão recebeu pela fé e as obras da lei, a qual veio 430 anos depois da promessa.
“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.
De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.” (Gl. 3.8-9).
Logo em seguida faz a separação:
“Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” (Gl. 3.10).
Observemos que se faz menção ao livro da lei, sendo citado o texto de Dt. 27.26, com uma agravante específica : Se é para adotar as obras da lei, se faz necessário adotar todas elas.2 Paulo não menciona com isso apenas a abstenção alimentar, dias de guarda ou a circuncisão, e sim todas as coisas escritas no livro da lei. Seguindo através do prisma Paulino, todo esforço envidado para agradar a Deus e ser aceito por ele baseado em elementos da lei, constitui-se em uma maldição para o ofertante.
  • “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. (Gl.2.16).
  • “Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.” ( em vão - Gl.2.21).
Baseado nessas assertivas, vejamos alguns rudimentos da lei aos quais os gálatas estavam sendo persuadidos a abraçar.
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. (Gl.4.9,10).
Está incluído aqui de forma inconteste, uma das datas mais importantes do calendário judaico: O dia da expiação.

O dia da expiação.

A palavra “expiação” (heb. kippurim, derivado de kaphar, que significa “cobrir”) comunica a ideia de cobrir o pecado mediante um “resgate”, de modo que haja uma reparação ou restituição adequada pelo delito cometido (note o princípio do “resgate” em Êx.30.12; Nm 35.31; Sl 49.7; Is 43.3).
(1) A necessidade da expiação surgiu do fato que os pecados de Israel (Lv.16.30), caso não fossem expiados, sujeitariam os israelitas à ira de Deus (cf. Rm 1.18; Cl 3.6; 1Ts 2.16). Por conseguinte, o propósito do Dia da Expiação era prover um sacrifício de amplitude ilimitada, por todos os pecados que porventura não tivessem sido expiados pelos sacrifícios oferecidos no decurso do ano que findava.
Dessa maneira, o povo seria purificado dos seus pecados do ano precedente, afastaria a ira de Deus contra ele e manteria a sua comunhão com Deus (Lv.16.30-34; Hb 9.7).
(2) Porque Deus desejava salvar os israelitas, perdoar os seus pecados e reconciliá-los consigo mesmo, Ele proveu um meio de salvação ao aceitar a morte de um animal inocente em lugar deles (i.e., o animal que era sacrificado); esse animal levava sobre si a culpa e a penalidade deles (Lv.17.11; cf. Is 53.4,6,11) e cobria seus pecados com seu sangue derramado.

A cerimônia da expiação.

Levíticos 16 descreve o Dia da Expiação, o dia santo mais importante do ano judaico. Nesse dia, o sumo sacerdote, vestia as vestes sagradas, e de início preparava-se mediante um banho cerimonial. Em seguida, antes do ato da expiação pelos pecados do povo, ele tinha de oferecer um novilho pelos seus próprios pecados. A seguir, tomava dois bodes e, sobre eles, lançava sortes: um tornava-se o bode do sacrifício, e o outro tornava-se o bode expiatório (16.8). Sacrificava o primeiro bode, levava seu sangue, entrava no Lugar Santíssimo, para além do véu, e aspergia aquele sangue sobre o propiciatório, o qual cobria a arca contendo a lei divina que fora violada pelos israelitas, mas que agora estava coberta pelo sangue, e assim se fazia expiação pelos pecados da nação inteira (16.15,16).

Como etapa final, o sacerdote tomava o bode vivo, impunha as mãos sobre a sua cabeça, confessava sobre ele todos os pecados dos israelitas e o enviava ao deserto, simbolizando isto que os pecados deles eram levados para fora do arraial para serem aniquilados no deserto (16.21, 22).

(1) O Dia da Expiação era uma assembleia solene; um dia em que o povo jejuava e se humilhava diante do Senhor (16.31). Esta contrição de Israel salientava a gravidade do pecado e o fato de que a obra divina da expiação era eficaz somente para aqueles de coração arrependido e com fé perseverante (cf. 23.27; Nm 15.30; 29.7).
(2) O Dia da Expiação levava a efeito a expiação por todos os pecados e transgressões não expiados durante o ano anterior (16.16, 21). Precisava ser repetido cada ano da mesma maneira3.

Esse dia também passou a ser chamado pelos israelitas de o dia do Jejum (Jr.36.6). Era um dia solene, um feriado sagrado. Paulo admoesta a alguns irmãos judeus que estavam com ele na embarcação, (os quais notadamente ainda estavam observando esse rudimento da lei) dizendo que o “jejum” - o dia da expiação - já havia passado, dando a entender que os judaizantes podiam cuidar dos seus afazeres no barco (At. 27. 9).
Se observarmos Gálatas veremos qual era o pensamento do apóstolo com relação aos dias solenes da religião judaica, dos quais o dia da expiação era o maior.
Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias e meses, e tempos, e anos (Gl.4.9,10).
Esses dias aqui citados, incluiem sem dúvida o dia da expiação, que era uma celebração israelita. Os gentios Gálatas, não tinham nada haver com isso, assim como nós também não temos, com a agravante que além dessa cerimônia ser de origem judaica, já foi cravada por Cristo na cruz. Se não temos que praticar o ritual expiatório, também, não temos que praticar o jejum nele embutido.

Filhos da livre

“Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.” (Gl.4.22-25).
“Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.” ( Gl.4.30,31).
Observe o argumento paulino : O filho da escrava, humanamente falando, era filho de Abraão, entretanto, trazia nas veias o sangue escravo. Ainda que fosse filho da vontade do patriarca, no que se refere a herança não haveria esperança alguma para o seu futuro. Já que concernente a promessa, só seria considerado filho o que nascesse do ventre de Sara.
“Disse Deus mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome. Porque eu a hei de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das nações; reis de povos sairão dela.” (Gn. 17.15,16).
Isso fica ainda mais patente no episódio em que o Senhor pede que Abraão sacrifique Isaque, Deus mostra aí que só considera filho de Abraão àquele que nasceu do ventre de Sara, pois é dito de Isaque que é o filho único do patriarca.
“E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.” (Gn.22.1,2).
Do mesmo modo, todos os que desejam conseguir sua herança divina através da lei mosaica, representada por Agar, chamada apostolicamente de “monte sinai”, o local onde foi promulgada e entregue a lei para Moisés, só irão colher jugo e servidão.
A tese paulina é que, assim como Sara teve seu filho mediante a promessa e intervenção divina, sendo posteriormente usada por Deus, para exigir que Abraão mandasse embora a escrava e seu filho, do mesmo modo, a nossa salvação é fruto da soberana graça divina, e para que essa graciosa herança seja desfrutada, é necessário que se lance fora a escrava (a lei) e o seu fruto (a servidão) .

A defesa da fé

Nós gentios não somos filhos da lei (judeus), nem física, nem espiritualmente. Esse concerto jamais nos foi dirigido. A repreensão que Paulo fez ao judeu Pedro, aclara muito bem a situação dos gentios na mente do apóstolo da graça.
“E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gl. 2.11,14).
Desejar se utilizar de uma aliança escravagista, que a nós jamais foi dirigida, é tornar-se judaizante, consequentemente separado de Cristo.
Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.” (Gl. 5.4).
Escrevendo aos romanos, Paulo assegura que assim como a mulher está ligada ao marido até que ele morra, e morrendo o marido fica livre para casar com quem quiser, do mesmo modo, Cristo morreu, e nós pela fé morremos com ele, libertando-nos da dispensação judaica da lei (Rm.7.1-4). Do contrário, teríamos que nos sujeitar ao regime judaico, a saber, a lei com seus sacrifícios, rituais e cerimonias.
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz (Cl.2.14). Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa4, ou da lua nova, ou dos sábados, Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” (Cl.2.16-17).

Debaixo da lei de Cristo


“Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.” (I Co. 9.21).
Ainda usando a carta aos Gálatas como referencial, atenhamo-nos ao enunciado do capítulo 5.22-24. “Mas o fruto do Espírito é : amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.”
“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gl .6.2). No pensamento paulino, quando você é habitação do Espírito Santo, é levado sempre a produzir o fruto do Espírito, jamais a fé de quem assim é guiado, se resumirá a meras ordenanças e preceitos religiosos, extirpados por Cristo na nova aliança por sua caducidade e inoperância justificatória.
“E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê.” (At.13.39).

Textos controversos

“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (At.13.2,3).
Para que compreendamos o que aconteceu nessa ocasião, é sumamente importante que observemos todo o contexto. A igreja de Antioquia foi estabelecida por discípulos de Jerusalém, com ajuda posterior de alguns irmãos que evangelizaram os gregos, formando uma igreja mista, de prevalecença judaica.
“E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.
E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor. E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia.” (At.11.19-22).
Só um pouco mais tarde é que Paulo vai para essa igreja, não como pastor, e sim como colaborador.
“E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia.
E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.” (At.11.25,26).
Observe que a igreja em Antioquia foi fundada por discípulos judaizantes, além de tudo, o primeiro obreiro enviado para apascentar aquelas ovelhas foi Barnabé, levita natural de Chipre (At.4.36). Barnabé possuía uma carga cultural altamente judaica, isso fica comprovado quando na Antioquia mesmo, por influência de Paulo, essa igreja começa a abandonar alguns costumes do judaísmo, todavia, aparecem por lá alguns irmãos vindos de Jerusalém, da parte do líder Tiago, fato que atemoriza Pedro, e vemos então Barnabé revelando sua falta de firmeza na mensagem paulina da graça, bem como o seu judaísmo latente.
“E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.
Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.
E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.” (Gl.2.11-13).
O fato acima mencionado, com certeza se deu depois do primeiro ano que Paulo ficou com aquela igreja (At.11.25,26), pois no principio, percebemos uma dependência demonstrada na preocupação em estar sempre em contato com Jerusalém a fim de prestar contas.
“E Barnabé e Saulo, havendo terminado aquele serviço, voltaram de Jerusalém, levando também consigo a João, que tinha por sobrenome Marcos.” (At.12.25).

Compreendendo o texto
“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (At.13.2,3).
Como já foi observado anteriormente, a direção da igreja em Antioquia era judaica. O versículo citado deixa claro que : a) O jejum foi dirigido pela liderança de Antioquia. b) Eles foram apartados (separados) pela igreja de Antioquia para um trabalho específico, muito embora, a ordem tenha partido de Deus. c) Isso é inegável, pois o verso termina : “E pondo sobre eles as mãos, os despediram. Quem impõe as mãos é quem está abençoando.” (At.9.12; I Tm.5.22).
O mesmo fato se deu em outro momento, em que debaixo da direção judaizante da Antioquia, o vemos participando de um jejum (At.14.23), como também em outra situação o encontramos em Jerusalém participando de uma cerimônia votiva.
“E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei. Que faremos pois? em todo o caso é necessário que a multidão se ajunte; porque terão ouvido que já és vindo. Faze, pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto5. Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei.” (At. 21.21-24).
Um outro fator a ser salientado, é que Paulo era um articulador versátil e flexível, sabia transitar no meio altamente judaizante, como também possuía autoridade suficiente para se posicionar sobre a liberdade dos gentios com relação a lei e seus rudimentos. Podemos notar facilmente isso em dois episódios distintos com respeito a circuncisão.
O primeiro diz respeito a Timóteo, Paulo claramente respeita os judaizantes, os quais ainda não estavam a par do decreto firmado em Jerusalém (At.15.28,29); vale salientar, que esse decreto era contraditório em sua essência, pois ao mesmo tempo que parecia propor uma liberdade aos gentios que se achegavam a fé, os devolviam ao velho sistema levítico, mandando-os para sinagoga, para os sábados, e para a apreciação da lei (At. 15.19-21).
Ficando demonstrado assim de forma inequívoca ,que os irmãos da circuncisão não possuíam nem de longe, o discernimento espiritual e bíblico do apóstolo do gentios (Gl.2.7-9). Mas, voltemo-nos para o episódio em que Paulo transige, na ocasião em que isso lhe é permitido.

A transigência paulina
“E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego; Do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio. Paulo quis que este fosse com ele; e tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.” (At. 16.1-3).

A intransigência paulina
Encontramos Paulo agora em uma outra ocasião, laborando em seu ministério gentílico e buscando os colegas de Jerusalém para lhes fazer ver a provisão Divina concedida aos gentios, da qual ele era o emissário. Isso é evidenciado nas palavras : “E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios...”(Gl.2.2). Leiamos o texto em sua completude.
“Depois, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito. E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão. Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se; E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão. Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.” (Gl.2.1-5).

Os textos Corintianos
“Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, Nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns.” (II Co. 6.4,5).
“Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejuns muitas vezes, em frio e nudez.” (II Co. 11.27).
A epístola aos coríntios, é sobretudo, uma defesa apaixonada e veemente do ministério que o apostolo havia recebido do Senhor. Paulo aqui não está fazendo uma apologética estritamente pessoal, mas defendendo todo um arcabouço dispensacional, que o incluía como arauto primaz.
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.” (II.Co.4.5).
E é como ministro do Cristo ressurreto, que ele se apresenta como tendo um ministério recomendável, pois não era mensageiro de um evangelho meramente humano e triunfalista, e sim, um servo do reino, reino esse que torna o seu ministro um participante ativo não só das conquistas e vitórias, mas também das lutas e aflições inerentes ao caráter do evangelho.
No texto de II Co. 6.4 são enumeradas nove situações - devidamente amparadas pelo ponto basilar : A paciência - as quais relaciona como credenciais, que segundo Paulo, faziam o seu ministério digno de aceitação.
Ele os divide em grupos de três. Em termos subjetivos cita : a) aflições, necessidades (privações), angústias. b) apresenta situações pessoais objetivas: açoites, prisões e tumultos, esse último, com certeza refere-se as confusões em que se envolveu por causa da palavra (At.13.50;14.19; 16.19; 19.29). c) trabalhos, vigílias, jejuns. Nesse ponto apresenta as dificuldades que conscientemente assumiu como um escravo 6 de Cristo. É interessante corroborarmos nossa argumentação com as palavras de Colin Kruse, que discorre com muita sobriedade a respeito do texto de II Co. 11.27, o qual notadamente, é uma continuidade do assunto iniciado em II Co. 6.4,5.
[…] Por estar incluído entre exemplos de trabalhos e fadigas, interpretaríamos melhor as noites insones como sendo devidas ao fato de Paulo pregar e ensinar pela madrugada afora (At. 20.7-12; 31), visto que as pessoas precisavam trabalhar durante o dia e só podiam ouvi-lo à noite; talvez ele se referisse ao exercício de sua profissão de tecelão de tendas, em horário noturno, para sustentar-se, usando as horas do dia para seu trabalho missionário (II Ts. 3.7,8). Em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez. A despeito do rendimento de seu trabalho artesanal, e das ofertas vindas de Macedônia, houve épocas em que Paulo sofreu necessidades (Fp.4.10-13) e ficou sem ter o que comer, sem água e sem vestimenta adequada (Rm. 8.35, I Co. 4.11; II Tm. 4.13) 7

Considerações finais
Embora na argumentação de Colin percebamos a ausência do jejum, cremos que esse tema foi satisfatoriamente abordado no parágrafo textos controversos, quando usamos o livro de Atos, único referencial juntamente com as cartas Paulinas, que possuímos para compreender o pensamento e a fé do apóstolo da graça.
Pois se a fadiga, era resultado do sacrificial trabalho desse mensageiro de Deus; as vigílias na verdade, como bem relata Atos (as únicas menções que temos sobre trabalhos que adentravam a madrugada), apontam apenas e unicamente para oportunidades para a pregação ou viagens missionárias destituídas de qualquer conforto.
No mesmo âmbito, é mencionado o jejum, e do mesmo modo, qualquer estudioso que use critérios sérios de interpretação bíblica, só poderá mencionar as passagens do livro de Atos (At.13.2,3; At.14.23), as quais já foram analisadas, demonstrando terem sido eventos nos quais, para não por dificuldades nos ombros da igreja, o apóstolo preferiu transigir, calando-se. Isso pode ser observado também com relação ao voto (At.18.18)8 .
Logo, ninguém tem autoridade para ensinar vigílias, jejuns e votos sobre essas bases, as quais na verdade, inexistem.
“ [...]se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço; Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção. Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção ( Hb. 9.9-12).

Wanderley Nunes.
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1 Esse termo era usado para apontar os animais separados para serem mortos em sacrifício a Deus ( Lv.27,29), daí vem a ideia de anátema: Condenado, amaldiçoado (Js.6.17,7.12).Com essa significação se encontra o termo grego em I Co.16.22;Rm.9,3; I Co. 12.3 e Gl.1.8,9. Buckland, dicionário bíblico,Editora vida, São Paulo-SP, p27.
2 Deuteronômio - Resumo: Os Israelitas são comandados a se lembrarem de quatro coisas: a fidelidade de Deus, a santidade de Deus, as bênçãos de Deus e as advertências de Deus. Os três primeiros capítulos recapitulam a viagem saindo do Egito para a sua localização atual, Moabe. Capítulo 4 é um chamado à obediência, a ser fiel ao Deus que foi fiel a eles.
Capítulos 5 a 26 são uma repetição da lei. Os dez mandamentos, assim como leis sobre sacrifícios e dias especiais e o resto da lei são dados à nova geração. Bênçãos são prometidas aos que obedecem (5:29; 6:17-19, 11:13-15) e fome é prometida àqueles que infringem a lei (11:16-17).
O tema de bênção e maldição continua nos capítulos 27-30. Esta parte do livro termina com uma escolha bem definida que é apresentada a Israel: “... te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição” . O desejo de Deus para o Seu povo encontra-se no que Ele recomenda: “escolhe pois a vida” (30:19). Nossa dívida e gratidão a esse belo resumo encontrado no site: wwwgotquestions.org- ( as palavras em negrito são por nossa conta).
3Creditamos essa apreciação do tema “expiação” ao site www.estudosgospel.com.br , ao qual damos o aval, comungando da mesma crença com relação a referida abordagem. Salientamos apenas, que no dia da expiação o israelita não trabalhava, era um feriado totalmente dedicado ao Senhor.
4 Dias de festa judaicos: 1) Páscoa (Lv.23.5), 2) Pentecostes ou festa das semanas (Ex.34.22), 3) A festa das trombetas ou ano novo ( Nm.8.2-12), 4) O dia da expiação, 5) A festa dos tabernáculos ( Lv 23: 34; Dt 16:13), 6) Festa das luzes ou dedicação (Jo.10.22), 7) Purim ou sortes ( Et.9.28; Jo. 5.1).
5 Paulo participou de uma outra cerimônia votiva em Cencréia (At. 18.18), mais uma vez usando o voto como estratégia para evangelizar entre os judeus.
6 A palavra usada por Paulo ao referir-se a si próprio com relação a Cristo é doulos, mais corretamente traduzido por escravo, podemos encontrar essa acepção em Gl.1.10; Rm.1.1; Tt.1.1.
7 Kruse, Colin G. II Coríntios introdução e comentário, São Paulo,- SP , Ed. vida Nova 1994, p .210
8 A motivação de Paulo se tomarmos apenas esse versículo parece obscura, no entanto, o versículo 21 patenteia a intenção do apóstolo: Ir a Jerusalém, e como já outrora analisamos, havia um desconforto entre Paulo e os judaizantes. Essa situação, ele sempre procurava contornar, buscando a paz enquanto ali se encontrava.