sábado, 11 de maio de 2013

O Evangelho Desnudo

 
Porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo! (Tg.2.13)

Encontramos nas Escrituras a referência maior para nossa vida de fé, porém, a Escritura pela Escritura, destituída de uma leitura crítica, pessoal, e sobretudo gentílica, reduze-nos a meros religiosos, judaizantes pagãos e o nosso referencial, - a Bíblia- em um ídolo.
O nosso “irmão” Paulo (como tratado por Pedro), foi convocado pelo Eterno para desaprender o seu judaísmo e desconstruir seu helenismo. Não vogava mais para ele as festas, ritos, sábados - fossem esses o do sétimo dia ou mesmo dos feriados nacionais- Paulo conheceu o “Senhor”, não conheceu o Jesus histórico dos seus conterrâneos e contemporâneos.
Para esse homem, não importava mais o Jesus da religião judaica, do qual não tinha nem uma espécie de saudosismo, muito menos o Jesus helênico e histórico dos embates teológicos- filosóficos. Paulo conseguiu enxergar além do véu, já que o véu lhe fora retirado no fulgor da revelação ablepsante da estrada de Damasco, a qual lhe deslindou o espírito do Evangelho.
Usando o seu filtro exegético revelacional celeste, logrou êxito em extrair do Jesus homem o espírito do evangelho no homem Jesus, influenciando gente magnífica como João evangelista e o doutor Lucas, entre outros.
No Evangelho anunciado por esse homem - O único “falador” da aliança de Cristo que chama o Evangelho de “meu Evangelho” - o seguidor de Cristo não passa pelo crivo de nenhum pastor, padre, bispo ou tribunal inquisitório a fim de ser aprovado como tal, antes, tem a prerrogativa do auto exame imputado pela graça.
No Evangelho Paulino o discípulo percebe-se assentado em lugares celestiais enquanto salvo, todavia, tremendamente débil enquanto homem. No Evangelho desnudo, o homem se encontra com Deus sendo simplesmente ele mesmo. Tendo a liberdade de chorar suas dores, derrotas e angústias, sem precisar ouvir: “Agora é só vitória”, uma reverberação de gosto duvidoso da máxima: “Homem não chora”, tantas vezes ouvida na minha infância.
No Evangelho desnudo, não há necessidade de se fazer convertido ou converter, pois o Evangelho que alcança o pecador o faz pelo Espírito, e esse, age como superego Divino. Não há de se ensejar nele nenhuma prática que não seja pelo Espírito, abominando de forma veemente todo tipo de constrangimento, preconceito, ou religiosismo fanático e perverso, incompatíveis com o Espírito de Cristo.
O Evangelho desnudo, desnuda a alma e o rosto de quem o abraça, pede licença para sair das retilíneas da Escritura para as curvilíneas do nosso ser. É hora de assumir a veracidade e realidade do Evangelho desnudo com toda crueza e escândalo que provoca. É hora de lançar fora a religião da escrava Hagar cujos filhos são como ela, escravos da lei, da letra e dos ritos, mas desprovidos da fé, do amor e da misericórdia inerentes ao Evangelho.
A propósito, você viu os textos bíblicos que citei? Não? Então abra os olhos para dentro de você, pois toda minha fala foi eivada de passagens que propositalmente não metamorfoseei em texto, esperando que você o faça, posto que acredito teres o Evangelho no espírito. Mas se não os achou no espírito, leia o Evangelho com a alma desnuda e os encontrarás.
Em Cristo, Wanderley Nunes.