quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Comentário de Gálatas 1.11,12 – Revelação de Jesus Cristo



Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.

“Faço-vos, porém, saber, irmãos”. Paulo com essas palavras deseja enfatizar a origem e originalidade do evangelho que prega. O vocábulo “irmãos”, empregado aqui, tanto é um termo carinhoso – preparando os corações galacianos para as severas exortações que viriam – como indica também o reconhecimento de que Paulo os considera de fato, da família da fé.

Ainda se pode acrescentar um outro motivo para os gálatas serem chamados de irmãos: Apesar de terem tão rapidamente se distanciado da fé que lhes fora apresentada pelo apóstolo dos gentios, isso, no entanto, não era razão suficiente para que lhes fosse dispensado qualquer outro tratamento que não o de irmãos.


Nota-se não ser Paulo, nem de longe, um institucionalista apaixonado, muito menos um fanático religioso, do tipo que preceitos, bandeiras, e flâmulas estão acima daquilo que deveria ser hipoteticamente o alvo e o objeto de amor de qualquer comunidade de fé: O ser humano.

“Que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem”. Paulo principia sua autodefesa axiomaticamente dizendo que a boa nova anunciada por ele não era κατα ανθρωπον (kata antrôpon) “segundo o homem” – a tradução da versão bíblica revista e atualizada, referência aqui, é fidedigna ao verter para o português a expressão grega – Não era nem um tipo de engendramento filosófico religioso, havia algo mais no seu ensino, indicando serem suas elucubrações não meras adaptações do pensamento judaico.

“Porque eu não o recebi…”. O apóstolo deixa entrever aqui, que não fora alvo das transmissões escriturísticas orais como era costume em Israel, claramente indicado pela expressão “não recebi”.

Um bom exemplo disso se encontra na carta aos Hebreus, tida por muito tempo como uma epístola saída da pena de Paulo, entretanto, tem sido demonstrado através de pesquisas mais recentes não ser esse de fato um texto Paulino. Uma das maiores provas se encontra na chamada “evidência interna”. No capítulo 2, o escritor diz o oposto do que Paulo afirmou aos gálatas.

Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram [1]

Enquanto o escritor aos Hebreus se coloca no grupo dos que ouviram de terceiros o evangelho, Paulo diz que “não recebeu” de ninguém. E quando afirma não ter aprendido de homem algum, está categoricamente falando não ter consultado mestres humanos para ter chegado onde chegou.

Isso não significa de modo algum, não ter ele feito suas pesquisas e ponderações, como também não ter aceitado ainda que posteriormente, algumas tradições apostólicas - daqueles que eram discípulos antes dele - as quais se coadunavam com aquilo que cria.


Um bom exemplo disso é I Co. 15.3:


Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.

Nesse texto há uma patente indicação de uma tradição apostólica, pois conforme Paulo afirma, seus antecessores transmitiam os ensinos, usando conjuntamente as escrituras – o antigo testamento e os profetas – a fim de corroborarem suas assertivas. Quando ele diz “entreguei o que recebi” está  fazendo uso dessa tradição, a qual se conformava perfeitamente com o evangelho que pregava.

“Nem aprendi de homem algum”. Quando faz tal asseveração, busca rebater as acusações daqueles que diziam que o evangelho que anunciava não possuía legitimidade, por ele não ser discípulo como os outros, não fazer parte do colegiado apostólico, não ter andado com Jesus, muito menos ter sido instruído pessoalmente por ele.

O que estava em jogo era todo o trabalho de Paulo e sua credibilidade junto aos gálatas, por isso, “os falsos irmãos” tentavam desqualificá-lo perante a igreja da Galácia. Deduze-se facilmente a síntese de suas vis argumentações: Se Paulo não possuía autoridade e nem autonomia apostólica para instruir aquela igreja, se o que ensinava não vinha de nem um dos apóstolos, muito menos do próprio Jesus, sua fonte então seria secundária, clandestina e inverossímil.

Desse modo, o evangelho da graça que pregava e, por conseguinte, as igrejas que haviam recebido suas instruções eram todas apóstatas e palmilhavam o caminho do erro. Por isso, era de suma importância uma tomada de posição firme.

O interessante nessa afirmação de Paulo, é que um leitor incauto ou mais desatento poderá achar a princípio que Paulo está concordando com seus acusadores, é como se dissesse: “É verdade, não aprendi com os apóstolos”. Quando na verdade, o que realmente queria dizer é que o que transmitira era oriundo de uma fonte superior.

No entanto, o teor da sua argumentação vai muito além de que simplesmente não ter sido instruído por homem algum - isso inclui Pedro, Tiago e João - muito menos sua prédica ser fruto da sua mente pródiga ou delirante, dependendo da interpretação e da boa ou má vontade dos avaliadores.

“Mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Aqui está a motivação para o evangelho que o apóstolo das gentes anunciava. É explícito - exceto para os mais simplistas -  que o arcabouço do ensino Paulino não era fruto exclusivamente da estrada de Damasco.

Seja qual for a interpretação que possa ser dada – literal ou metafórica – o fato é que não é em Damasco, mas a partir de Damasco que se desenvolvem as formulações de fé Paulinas, tendo como marco inicial sua passagem por lá, independente de qual tenha sido a experiência Cristológica que tenha ocorrido nele.

É pertinente salientar a expressão “revelação” Αποκαλυψεως (apokalupsis). Essa palavra traz em si a ideia de descortinar, descobrir, tirar o véu. O que se pode concluir observando a trajetória de Paulo, é que cedo no caminho de Damasco, se deslindou para ele Jesus como o messias prometido, posteriormente, tendo como ponto de partida a “revelação” de Jesus Cristo, pôde então fundamentado no cabedal de conhecimento judaico grego, erigir a maior obra literária conhecida a respeito da fé em Jesus de Nazaré.



Wanderley Nunes



[1] Hb.2.1-3

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Reflexões: Rituais e cerimônias...



Rituais e cerimônias não plenificam ninguém.
O homem se realiza no ato, sobretudo no ato ético,
esse sim, o faz mais próximo da imagem de Deus.

Wanderley Nunes