sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Manifesto irreligioso.


Defino religião, a despeito das suas diversas etimologias, como o enquadramento do Divino pelo humano, uma tentativa fracassada de possuir um Deus. Se há um Deus que pode ser possuído por um mortal e seguir os seus ditames e quereres, logo ele é um “deus”, e qual o gênio da lâmpada, possui um amo.

Para que esse deus sobreviva então, serão criadas ou emprestadas de outros sistemas de crenças algumas leis e normas, para que todos que queiram, possam entrar debaixo desse guarda-chuva. Também serão impostas muitas “verdades absolutas”, todos os fiéis, de forma unívoca terão que viver e morrer por isso. “Verdades”, que são apenas reverberações de psiques adoecidas em busca de autoafirmação.

O máximo que se conseguiu chegar palmilhando esse caminho foi à religião cristã de todas as vertentes, não importa, fomos enquadrados. Não temos mais vida própria, vivemos para “Jesus” de modo carola e fantasista.

O Jesus verbo de Deus é o caminho, não há intermediários, mas a religião cristã organizou um teatro cujos fantoches somos nós. Jesus se tornou secundário, “o caminho” é o sistema que fala em nome dele. Ouvimos que conhecendo a verdade em Cristo teríamos liberdade, o homem então inventou a igreja[1], engaiolou a fé, monopolizou a salvação e condenou os que ousaram pensar fora da caixa. 

Quando alguém vem para uma “igreja” pensando que encontrou Jesus – encontrou na verdade o Jesus religioso da igreja – aprende que precisa “ganhar almas” (inclusive as almas dos familiares), ou então manter distância dos que pensam diferente e podem “influenciá-lo a abandonar a fé, leia-se a igreja, já que para a instituição, os que te levam a refletir e racionalizar a fé são todos endemoniados. Desde então, instaura-se uma guerra nada santa, e em nome da religião, separam-se os maiores amigos.

Você não “pode” mais passar o natal com seus familiares, porque na festa haverá bebida, ou então, porque você não acredita mais no natal e o bom velhinho não passa de um demônio. Aí está então você só, acreditando que Jesus faz festa por causa da sua atitude “dignamente religiosa”.

Logo ele, que disse pra Zaqueu o publicano com fama de corrupto: Me convém dormir na tua casa; para sua geração: Não precisam de médicos senão os doentes, pois vim buscar e salvar maus e perdidos.

Que verdade escandalosa! Jesus não salva bons, perfeitos e impecáveis, eles tem a si mesmos como céu. Cristo é o Senhor dos fracos, débeis, depauperados… daqueles que compreendem que sua fortaleza consiste em reconhecer sua fraqueza.

O Jesus que creio e sigo, não é o Jesus dos quadros pintados pelos grandes artistas, muito menos o Jesus da religião cristã, sobretudo evangélica; a propósito, a muito deixou de ser do evangelho. O Jesus que creio não é dos templos, das catedrais, dos milagres com hora marcada. O Jesus que creio não possui beleza exterior, embora seja artífice de tudo que é belo. Esse Jesus que creio, sempre se preocupou com gente. Amou o pobre, banqueteou-se com os ricos, deu conselhos aos poderosos, alimentou multidões famintas…

O Jesus do evangelho continua escandalizando religiosos, pois religião é especialista em repressão, Jesus em celebração. O seu primeiro milagre foi socorrer um noivo na sua festa de casamento. Se Jesus fosse um crente industrializado pelo puritanismo tradicional, coitado do noivo! Mas ele era alguém que amava a vida. A água foi transformada em vinho (ninguém vai pra festa pra beber água), e a festa pôde continuar…

O Jesus do evangelho deixou claro que quem gosta de enquadramento, sistematizações e afins, não tem como receber a boa notícia. Veio João Batista, não comia carne, não bebia vinho (não ia pra festa…) vocês não o receberam. Vim eu, como carne, bebo vinho (vou e patrocino festas), e vocês dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores.

Continua tudo do mesmo jeito… Por isso, abandonei a religião e deixei de ser crente. Não! Não fiz isso por que sou melhor de que eles (religiosos), talvez eu seja o pior de todos. Deixei por que sou humano demais para uma fé de super-homens e extraterrestres impingida pela religião cristã. Escolhi confiar no Deus que a Bíblia tenta explicar e os homens tentam entender, mas que está infinitamente além dos homens e da própria escritura.

A Bíblia no Antigo testamento conta histórias, traz predições, testemunhos do povo judeu e sua saga ao longo dos séculos. O Novo Testamento materializa e sintetiza tudo isso na pessoa de Jesus e transforma em algo que me diz respeito enquanto homem, todavia, os clericatos atualizaram eventos importantes em determinado período – os quais não mais seriam repetidos – em objeto de culto. Trocou-se o sentido pala forma, a adoração pela liturgia.

A grande mensagem do evangelho, não é o tanto que tenho que me esforçar para cumprir determinadas normatizações, o evangelho é a boa notícia: Deus me amou! O verbo aqui está no pretérito perfeito, embora o vernáculo seja diminuto demais para expressar o amor de Deus, lanço mão da forma presente e futura respectivamente: Deus me ama, Deus me amará. Poderia simplificar tudo isso com o gerúndio: Deus está me amando, forma verbal usada para falar de algo em processo contínuo, porém, você de forma arguta e lógica diria: Deus está me amando sim, desde quando?

A religião vai perguntar sobre o mérito e tua decisão de ser salvo – os calvinistas perguntarão pela eleição e continuarão na eterna discussão com os arminianos – Enfaticamente direi: Deus me amou, isto possui um “que” de eternidade. Quando não existia nem minha poeira cósmica Deus me amou, quando passei a existir no tempo e no espaço Deus me amou. Quando sorri, chorei, adoeci, fiquei curado, quando pequei!!! Deus me amou!

A religião cristã procura sempre pelo mérito ou demérito. Prefiro o Jesus do evangelho, que me amou independente do meu bem ou meu mal. Prefiro me reunir e está cercado de pessoas de carne e osso, que tem carências, frustrações, sonhos, realizações e admitem que eu possa ser alvo destas mesmas vicissitudes, sem por isso, deixar de me chamar de irmão.

Quero ter a graça de adoecer e não ser visitado por alguém que necessita mostrar a “igreja” que visitou um moribundo, na verdade, quero ter a graça de que quando desejar não ser importunado, tenha respeitado o meu momento, e assim sendo, continuar contando com a estima de todos.

Quero ter a graça de falar publicamente das minhas orações não respondidas, daquela dor que não passa, da tentação que não supero… 

Chega de mentira! Chega de ilusão! Chega de religião! Quero aprender a desfrutar do Jesus Senhor, que rasgou o véu do templo, inviabilizando o sacerdotalismo e o levitismo. Quero aprender a amar o Jesus Senhor que me ama para além da vida… Por fim, não quero me apegar tanto a esta vida a ponto de esquecer que Deus tem prazer na minha morte. Não porque seja sádico, e sim, porque é Deus. O humano aqui sou eu… E você!


W anderley Nunes.

[1] A comunidade de Cristo: Eclésia, nada tem a ver com a igreja institucionalizada de hoje.

2 comentários:

Unknown disse...

Rebelar-se, não se conformar, estar no meio mais não ser dele difícil não é mesmo?Só tem um jeito renunciar. O problema esta justamente ai muitos crêem que desistir é fraqueza e que esta tem que ser superada com determinação e sacrifício.
Nunca fui do tipo que discute as convicções alheias, sou do tipo questionadora e por esta razão já passei (sem estacionar) por vários ambientes mais em nenhum deles se escuta o que falam na mensagem restauradora.
Há as indagações nos corredores, os desapontamentos, as desconstruções contato ou não tudo junto e misturado tão excitante, por que não? Afinal a igreja esta viva ou pelos deveria não são pessoas?Não é isto que aprendemos?Sempre digo pro mais chegados que só permanecem na mensagem os anormais, pois os normais não agüentam a pressão, ou seja, a realidade.
Porém há momentos que não tem saída e lá estava eu disparando minhas (perolas) e falando o que tenho apreendido na mensagem, vale ressaltar, resistir bravamente mais caramba eu fui sabatinada e ai não deu outra.
Como vocês ganham almas?Como vocês acolhem aqueles que aceitam a Jesus?Vocês trabalham em células?
Uma vontade de dizer assim: Olha é mais ou menos como na pré historia pegamos pelos cabelos e arrastamos até a nossa igreja.
Após a sabatina pude observar a surpresa e o aspecto interrogativo de minha entrevistadora diante de respostas como estas:
Como base no que diz a Bíblia: 1 João 4:19 (Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro), Efésios 2:4 (Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou) perguntei: Você acha que cabe esta declaração, aceitar Jesus?O ganhar almas esta em que versículo?O que a Escritura afirma: Filipenses 2:13(Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade) e para esta palavra célula não há nenhum resultado se pesquisado na Bíblia online porem encontramos em 1 Coríntios 12:27(Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular).
Momento informativo: De acordo com a revista Recreio - 07.07.2011 - (N° 591 - Ano 12): Há cerca de 10 trilhões de células no corpo humano.
Conclusão lemos a mesma Bíblia mais a compreensão e totalmente oposta, não que eu seja dona da verdade já que a verdade é Cristo Amém tenho que dizer obrigada Senhor pela mensagem restauradora por recrutar homens que não querem ser super crentes que tem como missão anunciar as boas novas, suas metas não são adquirir mais adeptos, encher templos, fazer propósito que acredito ser de propósito que são criados para escravizar, amedrontar, depenar os bolsos e alienar as mentes, obrigada Senhor pela oportunidade de conhecê-los e por permitir que eu apreenda todas os dias mais de Ti.
P.Sarges

Unknown disse...

Este texto é de uma profundidade e clareza que parece um despertar de um sonho ruim que quando você acorda fica aliviado. Infelizmente para maioria religiosa que não tem pensamentos próprios vão perder uma ótima oportunidade de uma verdadeira libertação em Cristo, pois vão rotular como heresia.
Que Deus continue te abençoando grandemente.
Baruch.