13 Porque ouvistes qual
foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja
de Deus e a devastava.
14 E, na minha nação, quanto ao judaísmo,
avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições
de meus pais.
Paulo
lembra aos gálatas o que eles ouviram ao seu respeito. O que tenta transmitir
com isso, é a razão da sua completa mudança e total abandono da fé judaica; é
como se quisesse dizer: Daí eu já vim! Conheço muito bem o proceder dos meus
compatriotas e já deixei tudo isso para trás.

O
que pode ser lido nas entrelinhas, quando cita sua antiga fé rigorosa e
combatente, é que, só mesmo uma experiência cognitiva, que lhe trouxesse novas
convicções, de fato, teria o poder de fazê-lo mudar de ideia, logo, se isso
aconteceu, deveria ser um sinalizador para a igreja da Galácia, seduzida a
percorrer as veredas as quais Paulo havia abandonado, justamente por ter
encontrado em Jesus “o caminho.”
A
grande mensagem do evangelho de Cristo, e que fique bem explícito, de “Cristo”,
não da igreja instituída – deixando claro que não somos contra a instituição em
si, todavia, aborrecemos e rechaçamos o “engaiolamento” e monopólio da
“verdade” produzido por ela – é o amor, a paz, a ética e a aceitação mútua,
pois todos, independente da fé, e mesmo os que comungam as mesmas crenças,
possuem diferenças entre si, por isso, a grande “verdade” é o Cristo unificador
do diferente.
Como
dito em ocasiões anteriores, não é o que se fala de Cristo que salva, mas sim
Cristo. De modo algum, tal formar de pensar torna inócua ou anomista a minha
fé, entretanto, faz com que embora tenha minhas convicções, o Jesus Senhor,
torna-se para mim, maior que “o Jesus da igreja”, pertencente e de uso
exclusivo de um grupo, cujas práticas os torna detentores da “verdade”, isso
não é aceitável do ponto de vista do Cristo glorioso e sem fronteiras.
A
asseveração: “Meu Cristo é melhor que o seu” e
“só minha forma de crer é salvífica”, em si mesma é proveniente de um
olhar unifocal, incapaz de visualizar um Jesus desprovido de pertencimento
religioso. Um Jesus assim, está estigmatizado pelos rituais, dogmas e
paramentos litúrgicos, segundo a visão empedernida e embotada dos forjadores do
uni pertencente Jesus, na realidade, idealização que atende somente a
interesses institucionais.
Paulo
em nenhum momento renega sua nação e as crenças do seu povo, na realidade, sabe
e fala da sua pátria com orgulho, todavia, aponta para um unificador de povos,
e compreende que para isso acontecer, tem que cair por terra tudo que causa
divisão e que de fato não diz respeito aos valores éticos e morais comuns a todos os homens.
Algo importante para ser salientado é nada indicar haver nenhuma ilusão por
parte de Paulo em converter a nação israelita.
A
fala dele aos gálatas trata sobretudo do gentil que abraçou a fé em Jesus e
está sendo cooptado por “irmãos” de Jerusalém, os quais tentam enredá-los a
tomar emprestado os antigos rituais segregacionistas judaicos, que não possuem
em si mesmo o poder de melhorar ninguém pessoalmente, servindo apenas como
sinalizador de diferenças e impossibilidades para o estrangeiro desejoso de
abraçar o evangelho. Isso era o que Paulo praticara como zeloso Hebreu e é
contra isso que se levanta agora.
14
E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade,
sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.
É imprescindível salientar que a carreira de Paulo no judaísmo, foi
eivada de ação e militância, poucas vezes vistas em pessoas da sua idade,
inclusive com relação aos que divergiam da sua “sagrada fé”. Justamente por ser
“extremamente zeloso”, levou às últimas consequências sua fúria contra a “seita
dos Nazarenos”.
Entretanto,
quando chega a conclusão de que Jesus possuía todas as características messiânicas,
se coadunando assim com os seus íntimos e patrióticos anseios, não pensa duas
vezes em lançar fora “os excessos” da sua bagagem religiosa, para então
carregar o jugo suave e o fardo leve do Nazareno.
É
relevante a observação de que a carga religiosa foi deixada para trás, no
entanto, o fardo e o jugo de apontar para o mundo a bondade graciosa do
evangelho, que “mata” o religioso fanatizado e faz surgir um homem
eclesiástico, um ser comunitário, esse sim, o apóstolo dos gentios levou até o
fim dos seus dias.
Nesse
sentido, o seu zelo extremado de outrora foi transferido para um outro alvo.
Uma dedicação como essa, um zelo e um amor dessa envergadura, devem de fato
constranger de forma idílica e conscienciosa todo aquele que uma vez se iniciou
no “caminho”.
...Pois o amor de Cristo
nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E
ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas
para aquele que por eles morreu e ressuscitou [1]
Wanderley Nunes
[1] II Co.5.14,15 – Versão
Revista e Atualizada.