segunda-feira, 8 de setembro de 2014

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Manifesto irreligioso.


Defino religião, a despeito das suas diversas etimologias, como o enquadramento do Divino pelo humano, uma tentativa fracassada de possuir um Deus. Se há um Deus que pode ser possuído por um mortal e seguir os seus ditames e quereres, logo ele é um “deus”, e qual o gênio da lâmpada, possui um amo.

Para que esse deus sobreviva então, serão criadas ou emprestadas de outros sistemas de crenças algumas leis e normas, para que todos que queiram, possam entrar debaixo desse guarda-chuva. Também serão impostas muitas “verdades absolutas”, todos os fiéis, de forma unívoca terão que viver e morrer por isso. “Verdades”, que são apenas reverberações de psiques adoecidas em busca de autoafirmação.

O máximo que se conseguiu chegar palmilhando esse caminho foi à religião cristã de todas as vertentes, não importa, fomos enquadrados. Não temos mais vida própria, vivemos para “Jesus” de modo carola e fantasista.

O Jesus verbo de Deus é o caminho, não há intermediários, mas a religião cristã organizou um teatro cujos fantoches somos nós. Jesus se tornou secundário, “o caminho” é o sistema que fala em nome dele. Ouvimos que conhecendo a verdade em Cristo teríamos liberdade, o homem então inventou a igreja[1], engaiolou a fé, monopolizou a salvação e condenou os que ousaram pensar fora da caixa. 

Quando alguém vem para uma “igreja” pensando que encontrou Jesus – encontrou na verdade o Jesus religioso da igreja – aprende que precisa “ganhar almas” (inclusive as almas dos familiares), ou então manter distância dos que pensam diferente e podem “influenciá-lo a abandonar a fé, leia-se a igreja, já que para a instituição, os que te levam a refletir e racionalizar a fé são todos endemoniados. Desde então, instaura-se uma guerra nada santa, e em nome da religião, separam-se os maiores amigos.

Você não “pode” mais passar o natal com seus familiares, porque na festa haverá bebida, ou então, porque você não acredita mais no natal e o bom velhinho não passa de um demônio. Aí está então você só, acreditando que Jesus faz festa por causa da sua atitude “dignamente religiosa”.

Logo ele, que disse pra Zaqueu o publicano com fama de corrupto: Me convém dormir na tua casa; para sua geração: Não precisam de médicos senão os doentes, pois vim buscar e salvar maus e perdidos.

Que verdade escandalosa! Jesus não salva bons, perfeitos e impecáveis, eles tem a si mesmos como céu. Cristo é o Senhor dos fracos, débeis, depauperados… daqueles que compreendem que sua fortaleza consiste em reconhecer sua fraqueza.

O Jesus que creio e sigo, não é o Jesus dos quadros pintados pelos grandes artistas, muito menos o Jesus da religião cristã, sobretudo evangélica; a propósito, a muito deixou de ser do evangelho. O Jesus que creio não é dos templos, das catedrais, dos milagres com hora marcada. O Jesus que creio não possui beleza exterior, embora seja artífice de tudo que é belo. Esse Jesus que creio, sempre se preocupou com gente. Amou o pobre, banqueteou-se com os ricos, deu conselhos aos poderosos, alimentou multidões famintas…

O Jesus do evangelho continua escandalizando religiosos, pois religião é especialista em repressão, Jesus em celebração. O seu primeiro milagre foi socorrer um noivo na sua festa de casamento. Se Jesus fosse um crente industrializado pelo puritanismo tradicional, coitado do noivo! Mas ele era alguém que amava a vida. A água foi transformada em vinho (ninguém vai pra festa pra beber água), e a festa pôde continuar…

O Jesus do evangelho deixou claro que quem gosta de enquadramento, sistematizações e afins, não tem como receber a boa notícia. Veio João Batista, não comia carne, não bebia vinho (não ia pra festa…) vocês não o receberam. Vim eu, como carne, bebo vinho (vou e patrocino festas), e vocês dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores.

Continua tudo do mesmo jeito… Por isso, abandonei a religião e deixei de ser crente. Não! Não fiz isso por que sou melhor de que eles (religiosos), talvez eu seja o pior de todos. Deixei por que sou humano demais para uma fé de super-homens e extraterrestres impingida pela religião cristã. Escolhi confiar no Deus que a Bíblia tenta explicar e os homens tentam entender, mas que está infinitamente além dos homens e da própria escritura.

A Bíblia no Antigo testamento conta histórias, traz predições, testemunhos do povo judeu e sua saga ao longo dos séculos. O Novo Testamento materializa e sintetiza tudo isso na pessoa de Jesus e transforma em algo que me diz respeito enquanto homem, todavia, os clericatos atualizaram eventos importantes em determinado período – os quais não mais seriam repetidos – em objeto de culto. Trocou-se o sentido pala forma, a adoração pela liturgia.

A grande mensagem do evangelho, não é o tanto que tenho que me esforçar para cumprir determinadas normatizações, o evangelho é a boa notícia: Deus me amou! O verbo aqui está no pretérito perfeito, embora o vernáculo seja diminuto demais para expressar o amor de Deus, lanço mão da forma presente e futura respectivamente: Deus me ama, Deus me amará. Poderia simplificar tudo isso com o gerúndio: Deus está me amando, forma verbal usada para falar de algo em processo contínuo, porém, você de forma arguta e lógica diria: Deus está me amando sim, desde quando?

A religião vai perguntar sobre o mérito e tua decisão de ser salvo – os calvinistas perguntarão pela eleição e continuarão na eterna discussão com os arminianos – Enfaticamente direi: Deus me amou, isto possui um “que” de eternidade. Quando não existia nem minha poeira cósmica Deus me amou, quando passei a existir no tempo e no espaço Deus me amou. Quando sorri, chorei, adoeci, fiquei curado, quando pequei!!! Deus me amou!

A religião cristã procura sempre pelo mérito ou demérito. Prefiro o Jesus do evangelho, que me amou independente do meu bem ou meu mal. Prefiro me reunir e está cercado de pessoas de carne e osso, que tem carências, frustrações, sonhos, realizações e admitem que eu possa ser alvo destas mesmas vicissitudes, sem por isso, deixar de me chamar de irmão.

Quero ter a graça de adoecer e não ser visitado por alguém que necessita mostrar a “igreja” que visitou um moribundo, na verdade, quero ter a graça de que quando desejar não ser importunado, tenha respeitado o meu momento, e assim sendo, continuar contando com a estima de todos.

Quero ter a graça de falar publicamente das minhas orações não respondidas, daquela dor que não passa, da tentação que não supero… 

Chega de mentira! Chega de ilusão! Chega de religião! Quero aprender a desfrutar do Jesus Senhor, que rasgou o véu do templo, inviabilizando o sacerdotalismo e o levitismo. Quero aprender a amar o Jesus Senhor que me ama para além da vida… Por fim, não quero me apegar tanto a esta vida a ponto de esquecer que Deus tem prazer na minha morte. Não porque seja sádico, e sim, porque é Deus. O humano aqui sou eu… E você!


W anderley Nunes.

[1] A comunidade de Cristo: Eclésia, nada tem a ver com a igreja institucionalizada de hoje.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Demitizando a Serpente (Não havia demônio no Éden)


Costumamos ler a Bíblia condicionados e normatizados pelas fôrmas sistemáticas impostas pela teologia, ainda que nunca tenhamos lido um único compêndio teológico, todavia, o vírus da “teologia sistemática da igreja” nos alcançou e fomos infectados. Lemos sobre “amor” em Gênesis e formulamos um sermão cujo ápice encontra-se em I Coríntios 13, sem nos importarmos com as diversas acepções dessa palavra ao longo dos séculos, nem com a cultura na qual estavam inseridos o escritor e o público que recebeu em primeira mão a mensagem Divina. 

Esquecemos que a Bíblia sendo o livro de Deus, é também o livro do homem. Traz uma mensagem transcendente usando, porém, uma linguagem limitada pelo tempo e pelas mudanças socioculturais.

Devido as dificuldades aqui apresentadas, observamos então que a maneira menos dolorosa de ler e refletir as escrituras é usando como expediente investigatório a teologia Bíblica, dissecando de forma sincera e menos parcial possível (se é que alguém consegue) a ideia por trás do texto.

Convido você a observar apenas o livro de gênesis, livrando-se de todos os padrões interpretativos que recebeu por herança, por um breve período, olhe para esse livro como se fosse o único livro que a Bíblia possui. Leia então gênesis 3.1-5.

Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.



Qual a figura que se vê no texto? A figura do diabo? Não, em hipótese alguma, o texto refere-se a uma serpente, inclusive a chama de animal. Encontramos no texto: Deus, Adão, Eva e a serpente. O único ser espiritual no texto é Deus. Paulo (II Co.11.3) no uso da sua brilhante verve, não viu no texto mais do que o texto afirma de forma inexorável: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.”

No pensamento de Paulo não há nem um demônio no Jardim. Outro fato interessante, é que o Apóstolo dos gentios não atribui à serpente a entrada do pecado no mundo; ele não vê um demônio escondido entre as folhagens, esperando a oportunidade para possuir a serpente depois de ter sido expulso do céu. Definitivamente, não há nada disso na mente de Paulo: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm.5.12).

O que observamos é que nesse aspecto, a teologia do doutor dos gentios continua fiel ao pensamento judaico: O pecado é de total responsabilidade humana, a figura da serpente é interpretada como o desejo latente do homem em tornar-se senhor de si, independente e autossuficiente.

Podemos observar, ainda, que quando vem a punição (Gn.3.13,14), todos a sofrem, inclusive a serpente. Detalhe: A punição é para o “animal selvático” (serpente), não há punição para um espírito diabólico que supostamente houvesse se apossado dela.


Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida.

Vale salientar que no Antigo testamento a fé em Deus é uma fé monista. Deus é Senhor absoluto da vida e da morte, do bem e do mal. Trataremos disso em breve, grande abraço. 


W anderley Nunes.

 Redes Sociais: 
Exibido todos os dias às 23h30 na TV Bacana Canal - Canal 17

terça-feira, 26 de agosto de 2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

A NATUREZA É SUA AMIGA, PRESERVE-A!

| PALESTRAS
| MOSTRA DE ARTESANATO
| DISTRIBUIÇÃO DE MUDAS
| E MUITO MAIS ...

DATA:
NESTE DOMINGO: 17 / AGOSTO 2014
ÀS 9:00 MANHÃ
LOCAL: 
PRAÇA DA REPÚBLICA
EM FRENTE AO TEATRO DA PAZ 




Exibido todos os dias às 23h30 na TV Bacana Canal - Canal 17

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Palestra: Misticismo no Evangelho

MISTICISMO NO EVANGELHO
ENTRADA FRANCA

DATA:
Domingo, 03/08/2014 - 9h00

LOCAL: 
CLUBE CIFAMM
Av. Independência, Final da Rua da Apeti
Entre Mário Covas (à 500m da Mário Covas) e Rod. Quarenta Horas
Ananindeua - PA

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Ver Clube CIFAM num mapa maior


Exibido todos os dias às 23h30 na TV Bacana Canal - Canal 17

domingo, 6 de julho de 2014

A RELIGIÃO DO FIM DOS TEMPOS

PALESTRA 
A RELIGIÃO DO FIM DOS TEMPOS
ENTRADA FRANCA

DATA:
Domingo, 06/07/2014 - 9h00
LOCAL:
Rua Jardim da Providência, 177
Sítio Augusto Soares
Águas Lindas
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 Redes Sociais: 
Exibido todos os dias às 23h30 na TV Bacana Canal - Canal 17

terça-feira, 29 de abril de 2014

Você Precisa Participar!

Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.
[…] Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, então, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele respondeu: Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei. (Jo. 20.19-21, 24, 25).

O texto joanino retrata um momento muito difícil para a fé dos discípulos. Por outro lado,  decisivo para o futuro da eclésia[1] que havia de ser efetivada a partir do pentecoste. Há porém, algumas lições simples, no entanto, objetivas a serem observadas. A primeira delas, é que apesar de estarem com medo dos judeus, eles mantinham a comunhão uns com os outros.

Nos momentos de tensão, frustração e desespero, geralmente surge uma tendência à fuga e isolamento. Pedro e a maioria dos seus companheiros de fé não escolheram tal caminho. Estavam com medo, apreensivos, cheios de incertezas, mas permaneceram juntos.

Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade. (Ec. 4.9-12).

Deus em sua sabedoria criou a eclésia, um corpo com muitos membros diferentes, dependentes uns dos outros; labores diversos, entretanto, sacralizados pela vida insuflada pelo Espírito, que faz, a despeito das incongruências e paradoxos, a manutenção da indivisibilidade do corpo.

Ao contrário do que comumente se pensa, o grande equívoco de Tomé não foi primordialmente a dúvida sobre a ressurreição de Cristo, e sim, antes de tudo, o abandono da comunhão dos irmãos. Tomé fez o que muitos fazem hoje: Se desiludiu da fé por não ser aquilo que esperava, consequentemente abandonou os “irmãos”, pois eram apenas “irmãos”, não eram amigos, não havia comunhão real. Era apenas o que o secularismo capitalista produz hoje: relacionamentos interesseiros e rasos, que não suportam as crises comuns à vida.

Felizmente Tomé teve um retorno ao bom senso, e voltou à comunhão dos aflitos e apreensivos, tendo nesse retorno uma notícia no mínimo desconcertante: o mestre havia ressuscitado. Como um aluno que faltara a essa aula, estava aturdido com a “suposta” experiência dos seus amigos, e claro, não podia crer. Tomé não possuía embasamento escriturístico de fé e de comunhão com a vida daquele grupo. Crer na ressurreição naquele momento se tornara uma tarefa impossível para ele.

É somente na comunhão da eclésia, conforme afirma Paulo (Cl. 3.16), que pode haver instrução e admoestação mútua, louvor, gratidão e a busca pelo crescimento na graça e na fé. Logo, não deveríamos nos render às vicissitudes da vida. Jesus não nos convida a abandonar a comunhão dos santos por causa do secularismo e materialismo impingido por essa era, mas sim, relegar à última instância tudo o que nos fere e nos impugna a caminhada de fé.

Outro fator imprescindível para nós, é o desenvolvimento de um caráter com nuanças e tons altruístas. Por isso, Paulo recomenda o perdoar e suportar uns aos outros (Ef. 4.32; Cl. 3.13). Perdoar é passar por cima do nosso orgulho e egocentrismo, é conceder uma nova oportunidade para aquele que nos trouxe prejuízo.

Ainda há algo sobremodo relevante para a contínua construção e aperfeiçoamento do nosso caráter: aprendermos a suportar, dar suporte de verdade ao mais débil e inexperiente na fé (Rm.15.1), não vivendo uma vida mesquinha do agrado próprio (Rm.15.2,3). Você dirá: “Isso é impossível para mim!” Não é! Isso é questão de exercício. É que passamos a vida nos exercitando unilateralmente, sempre voltados para os nossos interesses.




O homem foi criado para viver comunitariamente, para servir partilhando. Quem aprende a servir é mais feliz. A felicidade não está na posse e na conquista, elas são meios que nos conduzem a um contínuo relacionar-se, e nós, desapercebidos não enxergamos. Mesmo os egocêntricos empedernidos sabem, ainda que não o admitam, que a posse e a conquista nada valem sem o outro para acolhê-las, admirá-las e entregar-lhes os “louros”.

Para conquistar, seja em que âmbito for, precisamos uns dos outros. Por que não viver isso na esfera comunal da eclésia, com a alegria e a dor que o servir mútuo proporciona?
Conta-nos as escrituras que Tomé depois da crise permaneceu com os discípulos até o  pentecoste. Mais tarde, saiu pelo mundo falando do Cristo ressurreto.
Segundo um sábio sagrado, mais esperança se tem em um jovem pobre e sábio do que em um monarca experiente, porém insensato, que não acolhe mais conselho de ninguém. (Ec.4.13).

Deixe de olhar só para si e seus problemas, abandone a autocomiseração. O que você precisa é participar.


Em Cristo,


W anderley Nunes.


[1] Eclésia aqui, é a Igreja não no sentido institucional ou denominacional que conhecemos, mas o organismo vivo proposto por Cristo.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Somos livres?

A  vida é feita de compromissos mútuos, numa interdependência democrático-ditatorial.

Sou livre?

Ao adquirir um bem por meio dos bombardeios publicitários nos intervalos da minha programação preferida na TV - quando poderia, por mim mesmo ter ido em busca de um outro não involucrado pela mídia circense, transformadora de abóboras em carruagens cinderélicas - onde foi parar minha liberdade? Tornou-se refém da vaidade e autoafirmação subjacentes em mim. Compro por mim ou pelos outros?


Sou livre! Grito aos quatro ventos.

A “máquina” não está interessada em mim. Como uma inescrupulosa viúva-negra, interessa-se apenas pelo que de mim pode extrair, mesmo que em seguida eu caia morto pela introjeção dos seus arquétipos mordazes.

Ela alimenta-se da minha ilusão do  “ter-para” e não do “ser-eu”, acorrentando-me a inebriada ideia de que comprando o que na verdade eu não quero, serei incensado como quero, posto que o meu “querer ter” é apenas uma internalização de valores artificialmente forjados em mim, torno-me então, vassalo de uma máquina mortífera, subproduto de uma sociedade de exíguos maiorais e por outro lado, de um número sobejo e crescente de manipulados dos quais faço parte. Sou livre?

É estranho e nos causa espécie, a observação de como aceitamos sem hesitar as imposições ideológicas, sejam elas no âmbito das artes, da estética ou da política. Temos assim uma facilidade de entrar na “fôrma” do chamado stablishment. Definitivamente  aceitamos ser nossa liberdade quimérica. Nos assumimos assim, na maioria das vezes, e de modo despudorado, como não livres.

É desse mundo irreal que Jesus nos liberta. Não falo do Jesus histórico, sujeito a cientificidade dos homens, muito menos do Jesus da teologia das faculdades e seminários, os quais pretensamente psicologam a mente de Deus; falo do Jesus vivo que de fato entra na vida dos seus filhos e com eles se incomoda, incomodando-os, mudando-os e conformando-os à sua ética.

Falo do Jesus pai que não pede licença para amar, pois pai que é pai não exige ocasião para isso. O Jesus pai também não faz cerimônia para falar à consciência, repreendendo, exortando, corrigindo… Fazendo feridas de amor, mas nunca se arrependendo de em amor ser pai.

O Jesus que conheço é tudo o que o sacro livro fala, mas ainda é muito mais. Deus é amor, todavia, humanizado em Cristo ele ama. Jesus olhou para aquele que estava doente e o amou, observou a multidão e a amou, na noite em que seria preso amou seus discípulos até o fim. Escolheu amar alguém que no momento mais difícil de sua vida o negou, trouxe para si atado em cordéis de vida aquele que respirava ameaças de morte, fazendo dele seu íntimo amigo.


Que seria de mim, mero homem, se buscasse por mim mesmo tal amor, quando nem o amor conhecia? Para onde iria eu, se nunca possui discernimento para observar a mágica manipulatória do secularismo a minha volta? Impossível seria então compreender o arrebatador amor de Jesus que me desgarrou das matilhas por onde andei, sem perceber que andava com lobos.

Sou livre? Graças a Deus, não.

                                            No amor de Jesus,
Wanderley Nunes.