sábado, 6 de julho de 2013

Igreja Vencida

Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.

Se quisermos simplesmente espiritualizar o texto petrino, o reduziremos a uma batalha metafísica de caráter inglório. Por outro lado, só existe uma maneira para não cometermos o “pecado” do  reducionismo, desvirtuamento, e empobrecimento do escrito em questão: A observação, a priori, do  contexto.    

Pedro está claramente encorajando os companheiros de fé, em um momento de perseguição. Lembremo-nos que a eclésia nessa época não era popular - não estava na moda “ser de Jesus”- e não possuía poder político. 

É lógico, que como humanos que eram, traziam consigo os seus temores e carências. A maioria não havia ainda obtido maturidade suficiente para lidar com as pressões de  carregar o vitupério de Cristo.

Por essa razão, a carta diz: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.

Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”. (I Pe.5.6-10).

Os versos supra falam de ansiedade, sofrimentos contínuos, suavizados pelo consolo de que não serão para sempre, daí o termo “por um pouco” de tempo. Mais patente ficará a ideia de perseguições se voltarmos ao capítulo anterior da carta:

“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando.

Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome. ( I Pe.4.12-16).

   O Diabo.

Depois de observarmos a motivação da carta, podemos depreender do texto uma melhor compreensão a respeito do “diabo” citado nela. No grego διάβολος (diábolos) = acusador,  caluniador. Lendo Pedro com o olhar na realidade dos fatos ocorridos à época, veremos que o “diabo” ali está personificado na perseguição, calúnia e injuria sofrida por aqueles que seguiam o Nazareno.

Vale ressaltar, que não cremos como a igreja crê hoje com relação ao diabo, todavia, usaremos a forma meramente biblicista, para desse modo, tentar rechaçar interpretações isentas do pensar lógico, filosófico, teológico, e claro, minimamente inteligente, ainda que lançando mão da hermenêutica ortodoxa.

Mas vamos adiante... O diabo enquanto entidade espiritual (lembre que minha abordagem aqui é apenas bíblica, para que os biblicistas não me acusem de não fazer uso das escrituras) foi vencido na cruz:

 “Ele (O Senhor) nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl.1.13). “Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (I Jo.3.8); “e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl.2.15).

“...Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. ( Hb.2.14).

Observamos nessa exposição a vitória de Jesus Cristo sobre todas as forças e potestades malignas. A  Escritura Neotestamentária assegura não só o triunfo de Jesus sobre o mal, como também nos nomina morada de Deus e templo do Espírito Santo: I Co. 6.19; Cl. 1.27; II Co. 13.5.

De forma lógica, racional, e meramente bíblica concluímos: Se Deus faz morada naquele que crê, logo, não permitirá jamais que o maligno o tome de assalto, se apossando daquele que lhe pertence: “…Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo.10.28). “… Porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (I Jo. 4.4).

E em outro lugar diz: “Aquele que nasceu de Deus (Jesus Cristo homem) o guarda, e o Maligno não lhe toca”. (I Jo.5.18). “A palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno” (I Jo.2.14).
Os dois trunfos do mal.

Sabendo que nós, como santuário de Deus, não estamos suscetíveis a qualquer forma de possessão maligna – que porventura ainda persistamos em temer - e que só nós temos o poder e o arbítrio de oportunizar os ardis das chamadas “hostes espirituais da maldade” (Ef. 4.27); a pergunta a ser formulada então é: De que maneira os poderes maléficos podem atuar na vida daquele que crê?

Primeiro, precisamos entender que o “estrago” já foi feito no momento em que houve a transgressão registrada em Gênesis (creia você na literalidade dela ou não).

Quando agora, ouvimos o chamado e nos achegamos a Deus, somos salvos e justificados pela fé, entretanto, continuamos vivendo em um corpo corruptível, que segundo as Escrituras, só será perfeito ou “incorruptível” no último dia, quando estivermos face a face com Cristo. (I Co.15.42). 

Hoje somos salvos de direito e ninguém tomará isso de nós, pois foi algo conquistado por Cristo e a nós outorgado por graça. Há, no entanto, o “vírus” do pecado, o qual nos trouxe a morte e que se encontra em nós. Ainda que salvos pela fé, escrituristicamente sabemos que esse mundo segue o  seu ciclo até o dia do Senhor, quando então, nós e toda criação receberemos a incorruptibilidade.

Por causa da corruptibilidade generalizada, é que o mal tem o poder de influenciar o modo de crer da humanidade, e claro, da Igreja.

O “vírus” está no ar e traz consigo dois grandes ardis: a incredulidade, fazendo o homem pensar o Evangelho usando categorias meramente humanas; e o fanatismo.

“E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens”.
(Mt.16.22,23).

Pedro não está aqui possesso de demônios, apenas influenciado pelo momento e pelas  contingências secularistas (diabólicas). Jesus diz aqui, que o “diabo” não cogita (não entende) das  coisas de Deus. É pertinente observar, que o secularismo foi inculcado na humanidade desde o início.

O “sereis como Deus” (Gn.3.5), ecoa de geração a geração com o mesmo apelo avassalador a uma vida hedonista, onde o homem é dono do seu nariz, recusando viver e crer no Evangelho.

“Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século (Secularismo = materialismo) cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (II Co. 4. 3,4).

O primeiro trunfo do mal é produzir uma casta de ateus cristãos, gente que quanto ao Evangelho de Jesus Cristo são incréus, leem a bíblia com um olhar judeu pagão, veem a graça como  produto do mérito, o “agora” como o alvo, e o “porvir” como prescindível. Esse tipo de fé nada mais é que anti fé, anti Evangelho e anticristo.

“...são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas”. (Fp. 3.18-19).

O segundo trunfo, próprio deste século, é o fanatismo. Sua vítima é empurrada por suas crenças,  militância e ativismo para bem perto de sua religião, porém, para bem longe de Jesus Cristo.

Ele é personificado no sacerdote e levita da parábola do bom samaritano, onde o culto perde o referencial  de expressão a Deus através do semelhante, para se tornar um cabide de ritualizações esteticamente  perfeitas, porém, duas vezes morta. (Lc. 10.30-37).

O fanatismo prescinde do pensar inteligente e lógico, imaginando que o raciocínio venha menoscabar ou desvirtuar a fé, o que não é verdade, pois ela está ancorada em bases escriturísticas  e históricas muito fortes, e não no mero ativismo surdo encontrado na estressada e exaurida Marta.

O Cristo que a Igreja professa crer, venceu todas as potestades. A Igreja, porém, tem sido vencida, ora pelo ateísmo cristão - desprezando a graça de Deus e o viver somente pela fé - ora pelo  fanatismo religioso utópico do céu na terra, aqui e agora - quimera de corações seduzidos pelo discurso pragmático e malicioso da religião do nosso tempo.

No entanto, a saída contínua a mesma: Crer em Jesus como senhor para além da vida e da morte, o Senhor da graça salvífica, a qual redime o pior dos seres humanos, conscientizando-o para humano ser, transformando-o de ególatra embotado em altruísta solícito, de mero religioso segregacionista em agregador consciencioso…

A solução nunca foi e nunca será religião, ela também não se encontra no Jesus dos judeus, nem dos cristãos. Só mesmo no metafísico caminho - o Jesus ressurreto - fruível nos gestos de bondade e misericórdia... Percebido sobretudo, por aquele que consegue enxergar Deus para além das cercas separatistas das crenças mesquinhas e rasas, pois só aí, Deus em Cristo será encontrado.

O que se necessita de fato é mais de Deus, mais da graça…Fora com a minha igreja vencida! Fracassada! Fora com a minha verdade irredutível! Com meus preconceitos oriundos do apedeutismo contumaz!

Em Cristo, se é vencedor quando o intuito é a vitória do todo, quando só um vence, a eclésia perde, entretanto, quando individualmente se busca o bem comum, o resultado é o triunfo.
Isso é um sonho? Definitivamente não, isso é comunhão, isso é eclésia.


Wanderley Nunes

sábado, 11 de maio de 2013

O Evangelho Desnudo

 
Porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo! (Tg.2.13)

Encontramos nas Escrituras a referência maior para nossa vida de fé, porém, a Escritura pela Escritura, destituída de uma leitura crítica, pessoal, e sobretudo gentílica, reduze-nos a meros religiosos, judaizantes pagãos e o nosso referencial, - a Bíblia- em um ídolo.
O nosso “irmão” Paulo (como tratado por Pedro), foi convocado pelo Eterno para desaprender o seu judaísmo e desconstruir seu helenismo. Não vogava mais para ele as festas, ritos, sábados - fossem esses o do sétimo dia ou mesmo dos feriados nacionais- Paulo conheceu o “Senhor”, não conheceu o Jesus histórico dos seus conterrâneos e contemporâneos.
Para esse homem, não importava mais o Jesus da religião judaica, do qual não tinha nem uma espécie de saudosismo, muito menos o Jesus helênico e histórico dos embates teológicos- filosóficos. Paulo conseguiu enxergar além do véu, já que o véu lhe fora retirado no fulgor da revelação ablepsante da estrada de Damasco, a qual lhe deslindou o espírito do Evangelho.
Usando o seu filtro exegético revelacional celeste, logrou êxito em extrair do Jesus homem o espírito do evangelho no homem Jesus, influenciando gente magnífica como João evangelista e o doutor Lucas, entre outros.
No Evangelho anunciado por esse homem - O único “falador” da aliança de Cristo que chama o Evangelho de “meu Evangelho” - o seguidor de Cristo não passa pelo crivo de nenhum pastor, padre, bispo ou tribunal inquisitório a fim de ser aprovado como tal, antes, tem a prerrogativa do auto exame imputado pela graça.
No Evangelho Paulino o discípulo percebe-se assentado em lugares celestiais enquanto salvo, todavia, tremendamente débil enquanto homem. No Evangelho desnudo, o homem se encontra com Deus sendo simplesmente ele mesmo. Tendo a liberdade de chorar suas dores, derrotas e angústias, sem precisar ouvir: “Agora é só vitória”, uma reverberação de gosto duvidoso da máxima: “Homem não chora”, tantas vezes ouvida na minha infância.
No Evangelho desnudo, não há necessidade de se fazer convertido ou converter, pois o Evangelho que alcança o pecador o faz pelo Espírito, e esse, age como superego Divino. Não há de se ensejar nele nenhuma prática que não seja pelo Espírito, abominando de forma veemente todo tipo de constrangimento, preconceito, ou religiosismo fanático e perverso, incompatíveis com o Espírito de Cristo.
O Evangelho desnudo, desnuda a alma e o rosto de quem o abraça, pede licença para sair das retilíneas da Escritura para as curvilíneas do nosso ser. É hora de assumir a veracidade e realidade do Evangelho desnudo com toda crueza e escândalo que provoca. É hora de lançar fora a religião da escrava Hagar cujos filhos são como ela, escravos da lei, da letra e dos ritos, mas desprovidos da fé, do amor e da misericórdia inerentes ao Evangelho.
A propósito, você viu os textos bíblicos que citei? Não? Então abra os olhos para dentro de você, pois toda minha fala foi eivada de passagens que propositalmente não metamorfoseei em texto, esperando que você o faça, posto que acredito teres o Evangelho no espírito. Mas se não os achou no espírito, leia o Evangelho com a alma desnuda e os encontrarás.
Em Cristo, Wanderley Nunes.











quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Cordeiro foi morto antes da fundação do mundo?



“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. Ap 13:8.

O referido versículo é usado muitas vezes para defender a literalidade da morte de Jesus ainda antes da fundação do mundo, todavia, tal afirmação necessita de argumentos que venham corroborar essa assertiva.

Vale ressaltar que em nenhum momento é dito que o cordeiro foi morto “antes”, mas “desde” a fundação do mundo. Uma tradução mais literal para esse texto seria:

“E hão de adorá-la todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado”.

De fato a afirmação do texto é quanto a predeterminação Divina da morte do cordeiro, cuja efetivação estava de antemão assegurada, como se já tivesse sido levada a efeito; do mesmo modo como é assegurado o naufrágio da fé daqueles que não possuem seus nomes no livro da vida.

Paulo escrevendo a Timóteo patenteia a ideia da morte do cordeiro em sua manifestação terrena : “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;

E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte (com sua morte), e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho” (II Tm.1.9-10).

Pedro em conformidade com Paulo assevera: “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido (Não morto), ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (I Pe.1.19,20).

A predeterminação da morte de Jesus só vem fortalecer a ideia da soberania de Deus, pois demonstra claramente sua hegemonia absoluta, inclusive no que se refere aos seus planos.

Há pensamentos e propósitos seus inexistentes na esfera humana, no mundo da matéria, que só “existem” na sua inacessível e incomensurável mente, a bíblia assim o demonstra.

“Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó {Ex 3,6}? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos” (Mt.22.31,32);

“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia”. ( Sl.139.16).

As escrituras explicitam de forma inequívoca a onipotência de Deus quando o mostra considerando existente o inexistente: (Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem (Rm.4.17).

Logo, os propósitos de Deus quanto aos homens delineados na eternidade, não são efetivados nessa dimensão, pois dizem respeito à humanidade caída, e não a seres celestes não contaminados pelo pecado.

Ademais, o derramamento de sangue através de sacrifícios e holocaustos foi ordenado aos homens, não aos anjos. Não há nem uma palavra da Escritura sobre uma morte vicária nos céus. A bíblia fala daquele terrível dia no calvário, quando o decreto eterno foi concretizado, como bem testificou Pedro no dia de pentecostes.

“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. (At. 2.23).

Jesus foi morto de fato na eternidade ou no tempo?

Tomar apocalipse 13. 8 em particular, para afirmar a morte literal de Jesus na eternidade, antes da sua entrada na linha do tempo, é desmontar o ato salvífico em todas suas instâncias, é destituir Deus de sua ontologia, já que na eternidade ele é espírito, e na dimensão que a bíblia chama de céu não há derramamento de sangue, muito menos morte com já foi dito. Um espírito não tem carne, nem sangue.

Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.(Lc. 24.39).

Na dimensão atemporal de Deus, fora da cronologia humana, tendo como base sua infinitude e poder de convergir em si todas as coisas, não se consegue falar da morte do cordeiro, sem apontar para o pecado que a causou. Tudo isso teria que ter sido factual no âmbito eterno (céu).

O que podemos apreender aqui a respeito da morte sacrificial do cordeiro de Deus, é que isso só seria possível no campo dos seus atributos e de forma descendente, ou seja, a eternidade, o atemporal imiscuindo-se no tempo. No entanto, necessitamos compreender o tempo em sua ambivalência.


kairos (καιρός) e Kronos (Κρόνος)

Kairos, como usado no mundo helênico, é algo como um momento que nos parece particularmente adequado para levarmos a efeito os nossos planos particulares, tornando-os nesse âmbito um tempo propício.

O Kairos aplicado às escrituras do Novo Testamento, não comunga da ideia helenista de planificações e projetos humanos, é antes um decreto Divino que faz desta ou daquela data um Kairos.

E te derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo (Kairos ) da tua visitação (Lc.19.44)

. και εδαφιουσιν σε και τα τεκνα σου εν σοι και ουκ αφησουσιν εν σοι λιθον επι λιθω ανθ ων ουκ εγνως τον καιρον της επισκοπης σου 

Em outro lugar é apontado um Kairos concernente ao anticristo.
“E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo (Kairos) seja manifestado”. (II Ts 2.6).

και νυν το κατεχον οιδατε εις το αποκαλυφθηναι αυτον εν τω εαυτου καιρω

Paulo ainda se refere a um Kairos (tempo propício) quando seria revelado o único e verdadeiro Deus, Senhor dos senhores.

“A qual a seu tempo (Kairos) mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores”(I Tm. 6.15).

ην καιροις ιδιοις δειξει ο μακαριος και μονος δυναστης ο βασιλευς των βασιλευοντων και κυριος των κυριευοντων 

Observado no sentido Neotestamentário, o Kairos pode ser distribuído na linha do tempo formando a história da salvação, particularizando-a em etapas. Nunca esse Kairos decretivo se encontra presente na linha contínua do tempo, posto que pertence ao atemporal, ao Divino, àquele que não existe, pois sustenta toda a existência em si mesmo, estando ele mesmo fora da existência do ser.

“Pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas” (At.17.25).

Κρόνος (Kronos)

Κρόνος é o tempo sequencial, existencial, que à semelhança da mitologia helênica, nos vence, nos devora, nos mede em sua redoma temporal e nós o medimos, mas nunca nos congratulamos em contemporaneidade, pois embora Kronos seja dimensionado de forma terreal, ele é sempre ulterior a nós homens.

É de sua nomenclatura imponente que derivam cronologia, cronômetro, cronograma, nominações sempre voltadas à altaneira obra de aferir aquele que desnuda nossa efemeridade.

Deus manifestando-se no Kronos

Deus em sua sabedoria e arbítrio (aliás, Deus é o único que não tem o arbítrio escravizado por nada, nem por ninguém) resolveu manifestar-se ao homem, por isso criou um corpo de carne no ventre Mariano: “No principio era o Logos (a mente ou inteligência suprema de Deus), o Logos estava com Deus (isso não foge da lógica em momento algum) e o Logos era Deus.

Assim como não podemos desassociar a mente do corpo sem aniquilar todo o ser , Deus sendo espírito não pode ser desassociado daquilo que o “sustenta” enquanto ser - sua faculdade criadora, inteligente e ativa - O Logos.

Na dimensão ou mundo estritamente espiritual não havia possibilidade de Deus ser visto por nenhum ser terráqueo. O que de Deus os homens puderam ver foram teofanias, ou seja, manifestações físicas as quais indicavam a “presença” Divina, fosse por meio do fogo, fenômenos nas águas etc.

Tudo ponteado por interpretações antropomórficas das mais diversas, algumas delas descritas pela própria bíblia, com o intuito de expressar em linguagem inteligível a revelação Divina.

E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.

Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus” (Ex.3.4-6).

Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv 15.3).

“Ajuntai-vos todos vós, e ouvi: Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR o amou, e executará a sua vontade contra babilônia, e o seu braço será contra os caldeus”. ( Is.48.14).

Deus é descrito falando do meio do fogo em um sarçal, como tendo olhos e braços tal quais os humanos.

Toda a linguagem figurada da bíblia com relação ao Divino, busca metafisicamente e por analogia, expressar e qualificar Deus enquanto ser, algo dialeticamente inalcançável, encontrando sua perfeição dialógica tão somente na encarnação do Logos.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.

εν αρχη ην ο λογος και ο λογος ην προς τον θεον και θεος ην ο λογος  (Jo.1.1).

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”

και λογος σαρξ ο εγενετο και εσκηνωσεν εν ημιν και εθεασαμεθα την δοξαν αυτου δοξαν ως μονογενους παρα πατρος πληρης χαριτος και αληθειας (Jo.1.14).

O que era “realidade” exclusiva do Logos (mente) de Deus no tempo sem tempo, ganha um Kairos (um tempo propício). Na encarnação, e só nela, Deus se faz homem, e assim sendo, torna-se real aquilo que não o era para os homens, nem mesmo para os anjos, pois fazia parte única e exclusivamente da mente inatingível e inenarrável do Todo poderoso, o qual ocultou e revelou tudo em seu tremendous mysterium, O Logos.

“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória”.

και ομολογουμενως μεγα εστιν το της ευσεβειας μυστηριον θεος εφανερωθη εν σαρκι εδικαιωθη εν πνευματι ωφθη αγγελοις εκηρυχθη εν εθνεσιν επιστευθη εν κοσμω ανεληφθη εν δοξη (I Tm. 3.16).

“Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória”.(I co.2.7,8).

Observamos então, que a morte do cordeiro estava claramente planificada na mente Divina, onde de fato era real e inexorável, entretanto, carecia de uma personificação humana, a fim de que o homem fosse salvo por um perfeito igual que o substituísse e o justificasse. Glória pois a ele.

Em Cristo, Wanderley Nunes

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A oração que Deus não ouve

De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites (Tg.4.1-3).
Nesses tempos de “decretos”, “determinações”, “amarrações”, “atos proféticos” e afins, parece impossível conceber a veracidade do que afirma Tiago: Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. A princípio, o que podemos observar no texto apostólico é o combate de forma incisiva à raiz de todo o problema que assolava a comunidade à qual a carta se dirigia : O ego.
Aquele povo estava sofrendo fracassos em sua vida de fé (comunhão), por tratarem a vida cristã como se a mesma fosse apenas a borra do Judaísmo, ou uma seita judaica em busca de auto afirmação. Na aliança judaica, as promessas eram todas ligadas a temporalidade e a busca da aquisição de bens terrestres e uma vida longeva ( Dt.28.1-14).
O que essa sede desenfreada por terem suas aspirações concretizadas a todo custo - graças a influência da aliança mosaica - estava fazendo, era tornar esses pseudo-cristãos (digo isso com muito amor, pois estavam “sinceramente enganados”) em pessoas amargas, frustradas, rancorosas. Pessoas que não se alegravam com quem estava alegre, nem choravam com os chorosos.
A tentativa de fazer a transposição da Aliança mosaica para o cristianismo, resultou desde o princípio em um desastre, pois é como colocar remendo de pano novo em vestido velho, é costurar de baixo para cima (para o inalcançável) o véu já rasgado de cima para baixo (Mc.15.37, 38).
O que era sinal de comunhão na Aliança Judaica (prosperidade, posse da terra prometida e seu usufruto) não o é na Aliança de Cristo. Lembre-se, conosco gentios não foi feita nenhuma Aliança cuja fruição seja terreal, antes, todas as promessas feitas a nós são de cunho futuristas e eternais: O sumo sacerdote é eterno, o sacrifício (o cordeiro) é eterno, a terra prometida é eterna, a vida é eterna, o gozo de todas as benesses é eterno.
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas.” (Hb.8.6).
E para aqueles que eram judeus ou prosélitos a Aliança firmada com o sangue de Cristo, se tornava de fato, uma nova aliança. Daí observamos o escritor aos hebreus falar para aqueles que estavam saudosos das formas, sacrifícios e ritos do judaísmo, que a Aliança de Cristo (para eles nova aliança) era sim uma melhor aliança, de fato infinitamente melhor.
Fazer o que os destinatários da carta de Tiago estavam fazendo é fruto da incompreensão do que é a vida cristã, a qual não fomenta a ditadura do “ter” em detrimento do “ser”. Os ricos, na referida carta, são exortados a não supervalorizarem suas posses, mas aprenderem a ser generosos e justos para com todos (Tg. 5.1-6).
Na Aliança Cristã a oração respondida e que, de fato, agrada a Deus, é aquela baseada na sua vontade soberana e no bem comum (I Jo.5.14), ou seja, o que deve ser bom para aquele que pede, deve servir para que outros: familiares, amigos mais chegados e o meio social em que convive, pois isso subjaz ao verdadeiro espírito cristão que é de amor e partilha. Uma oração egocêntrica é idólatra e estranha ao espírito cristão e por conseguinte não recebida como um cheiro de suavidade por Deus (Ap. 5. 8 e 8. 4), posto que é abominável.
Mediante o que já foi explicitado aqui, a dedução é simples e objetiva: A oração que visa única e exclusivamente a locupletação do pedinte, o qual insta diante de Deus por bens meramente efêmeros e cuja resposta positiva da parte dos céus (se fosse possível tal concepção) serviria apenas para alimentar a avareza, a vaidade, a arrogância religiosa e o hedonismo, não possui nem de longe a anuência das Escrituras, muito menos a benção de Deus.
Conforme Tiago, tal oração, não só não é respondida positivamente, como caracteriza os espiritualmente adúlteros, compromissados com a presente era e ansiosos por reinarem em um mundo que jaz no maligno e que não deseja de fato o reinar de Cristo.
“Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei.” (Hb. 13. 5).
E disse-lhes: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” (Lc.12. 15).
“Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos.” (Ef. 5. 3).
“Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria.” (Cl.3.5).
Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira.” (Ap. 22. 15).
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (I Co. 15. 19).
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo,
Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.
Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas.” (Fp. 3.18-21).
Em Cristo, Wanderley Nunes.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Paulo e o seu ministério

Ao meu amigo Jabson
Querido amigo, desculpe a demora em responder a suas indagações a respeito do ministério do “nosso amado irmão Paulo”. Temos aqui apenas uma breve e simples introdução. Espero que sirva como um ponto de partida e um flash, que venha ancorar sua fé na mensagem dada por Deus ao mensageiro gentílico. Revelação esta eclipsada e esquecida por alguns séculos, mas sendo agora restaurada por amor dos eleitos. Deus continue te abençoando e boa leitura.
O Espírito de verdade.
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.”(Jo.16.12-14).
Essas palavras foram sempre interpretadas como instruções de Jesus com respeito ao Espírito Santo que seria derramado no dia de pentecoste, todavia, é de conhecimento de qualquer estudante mais atento das escrituras que Deus sempre se revelou ao homem, no homem e através do homem. Isto está explicito no chamado de Noé (Gn.6. 8, 13-14), de Abraão (Gn.12.1-3) e outros.
Deus em sua revelação nunca trabalhou no vácuo, sempre usou alguém para entregar a mensagem que desejava transmitir. Se não há alguém com uma mensagem dada por Deus, logo haverá muitas “mensagens”.
Deus sempre tratou com a humanidade enviando uma mensagem e por conseguinte um mensageiro, pois sempre que os homens interpretaram as palavras de Deus a seu modo, houve divergências e as mais loucas heresias. Temos um personagem que lança muito luz sobre esse assunto: João Batista.
“Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.” (Lc.1.13-17).
Deus estava visitando o seu povo, era iminente a irrupção do ministério de Jesus Cristo. Os Israelitas estavam em sua terra, havia uma religião instituída e suas mais diversas ramificações: Fariseus, saduceus, zelotes, essênios... Todos se diziam guardiões da verdade última de Deus. Em meio a essa verdadeira Babilônia, Deus envia um homem com uma mensagem.
Um louco do deserto, um eremita palrador cujas palavras possuíam a unção de Elias, não para convencer com sinais miraculosos e prodígios visíveis, mas para converter o coração mais pedregoso, e chamar á conversão o mais indiferente e religioso pecador.
Olhando para a Escritura hoje, com um olhar de quem perscruta a história, não é difícil reconhecer João Batista e seu ministério. Com nossa moderna e tradicional visão, no mínimo aceitamos o Batista como o precursor do Messias. Entretanto, não foi assim em sua época.
A mera figura do profeta era em si mesma asquerosa, ele quebrava todos os paradigmas da religião vigente. Acentuando mais ainda essas diferenças, o fato de estar inserido em uma sociedade teocrática. João Batista era a antítese da religião instituída.
Enquanto o sacerdote se vestia pomposamente de linho fino (Ex.28.4), João trajava peles de camelo (Mc.1.6); segundo a lei um animal impuro (Lv.11.4), que não deveria servir de alimento, nem mesmo se poderia tocar em seu cadáver. A alimentação também era um diferencial entre o profeta e a religião do seu tempo. O sacerdote se alimentava de flor de farinha (Lv.2.1-3), o Batista consumia gafanhotos e mel silvestre (Mc.1.6).
A mensagem contida na indumentária e culinária nem um pouco ortodoxas do atalaia de Deus, indicava um basta em todo formalismo podre e meramente ritualista da religião. Tudo o que Deus mesmo havia instituído para sua glória, o homem estava usando de forma egolátrica, para sua própria locupletação e bel prazer.
Haviam transformado o rito - antes uma expressão de adoração, temor e tremor - em uma fórmula fria, casuísta e aos olhos de Deus uma verdadeira abominação. João se vestia de peles de animal “imundo”, para dizer com isso que as justiças produzidas por meras ritualizações sem o espírito do temor, eram nada mais que um acinte a Deus, uma abominação maior de que vestir-se de peles de camelo.
Do mesmo modo, a alimentação do profeta falava que mais repugnante que se alimentar de gafanhotos era o deliciar-se com o seu próprio pão, usando o nome do Senhor como um mero pretexto : “E sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos do que é nosso; tão-somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio.” (Is.4.1).
Quando a palavra era exposta, para de fato alimentar o povo que se chamava pelo nome do Senhor, a reação era sempre negativa, não desejavam alimentar-se do pão do céu, e sim dos seus quereres.
“[...]a alma deles se enfastiou de mim.” (Zc.11.8b).
O papel do mensageiro.
Temos nas Escrituras um tipo perfeito de mensageiro de Deus na figura do escravo Eliezer, enviado por Abraão para trazer a noiva amada para Isaque. No sistema denominacional, Eliezer é uma prefiguração do Espírito Santo.
Se observarmos com olhos mais bíblicos que tradicionalistas, perceberemos que isso é uma falácia, já que a pregação de modo nenhum é feita pelo Espírito de Deus, seu papel é comissionar e equipar. Também não é obra para anjos. Eles laboram em favor dos que hão de ser salvos (Hb.1.14), porém não possuem a prerrogativa da pregação, ela foi dada ao homem (Rm.10. 14-17).
Note a descrição perfeita de um pregador que recebe de Deus a responsabilidade de entregar uma mensagem para a noiva do Senhor, preparando-a para o encontro com o esposo.
O mensageiro Eliezer (não o Espírito Santo, mas um homem com uma mensagem do Espírito Santo), o escravo mais experimentado de Abraão (Deus), é convocado para levar uma palavra que trará a salvo Rebeca, a noiva (a Igreja eleita do Senhor), para o encontro com Isaque (Jesus Cristo, Deus que se fez homem). (Gn. 24.2-4).
A noiva Rebeca (a Igreja eleita, não estamos falando de denominação, nem de instituição “a” ou “b”; falamos de pessoas, o corpo de Cristo) tem como principal característica a obediência à palavra e discerne instintivamente a mensagem transmitida pelo escravo do Senhor.
E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu senhor, e partiu, pois que todos os bens de seu senhor estavam em sua mão, e levantou-se e partiu para Mesopotâmia, para a cidade de Naor.
E fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto a um poço de água, pela tarde, ao tempo que as moças saíam a tirar água. E disse: O SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, dá-me hoje bom encontro, e faze beneficência ao meu senhor Abraão! Eis que eu estou em pé junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água. Seja, pois, que a donzela, a quem eu disser: Abaixa agora o seu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo Isaque, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu senhor. E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, que havia nascido a Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o seu ombro. E a donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem homem não havia conhecido; e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro e subiu. Então o servo correu-lhe ao encontro, e disse: Peço-te, deixa-me beber um pouco de água do teu cântaro. E ela disse: Bebe, meu senhor. E apressou-se e abaixou o seu cântaro sobre a sua mão e deu-lhe de beber. E, acabando ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os teus camelos, até que acabem de beber. E apressou-se, e despejou o seu cântaro no bebedouro, e correu outra vez ao poço para tirar água, e tirou para todos os seus camelos. E o homem estava admirado de vê-la, calando-se, para saber se o SENHOR havia prosperado a sua jornada ou não. E aconteceu que, acabando os camelos de beber, tomou o homem um pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as suas mãos, do peso de dez siclos de ouro; E disse: De quem és filha? Faze-mo saber, peço-te. Há também em casa de teu pai lugar para nós pousarmos? E ela lhe disse: Eu sou a filha de Betuel, filho de Milca, o qual ela deu a Naor. Disse-lhe mais: Também temos palha e muito pasto, e lugar para passar a noite. Então inclinou-se aquele homem e adorou ao SENHOR.
(Gn.24.10-26).
Como já mencionamos, Deus sempre fez uso de um atalaia para entregar sua mensagem. Foi assim quando chamou Noé, quando tirou Abraão de Ur dos Caldeus, o mesmo se deu no envio de José lá no Egito, como também Moisés resgatando o povo da escravidão, Elias combatendo a idolatria a baal, Eliseu idem, depois podemos observar João Batista, no tempo que Roma dominava o povo de Deus, e possuía influência direta em sua religião.
Mais tarde vem Cristo, é crucificado, morto, e ressurge ao terceiro dia. Chega o pentecostes, os discípulos recebem o Espírito prometido. Havia a necessidade do Evangelho chegar às mais longínquas nações, e às mais diversas culturas, tudo isso teria que ser feito sem os entraves da lei ou seus resquícios. Para que isso fosse levado a efeito, Deus teria que comissionar, como sempre fez, um mensageiro.
Paulo o primeiro mensageiro aos Gentios.
O Senhor foi buscar no próprio Judaísmo o austero e zeloso Saulo, cujo nome significa: Pedido; denotando assim que os seus pais oraram a Deus em busca de um filho homem, o que era de muita importância na religião judaica, para assim perpetuar as suas tradições.
Ao ser convertido à fé em Cristo, no caminho de Damasco (At. 22.6, 15 e 21), adota um nome gentílico, mais precisamente romano: Paulo - que quer dizer: pequeno; numa clara demonstração de desprendimento, que é o verdadeiro espírito do Cristianismo.
A mensagem que Paulo trouxe, não era fruto de uma convivência física com os apóstolos, e muito menos com o Senhor, que aliás, ele nem conheceu pessoalmente. Foi sim, o resultado de um chamado de Deus e de seguidas revelações, que punham o seu ministério em um patamar muito superior aos dos outros apóstolos.
“Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.” (Gl 1.11,12).
Paulo foi chamado para levar as boas novas (evangelho) aos Gentios. A seu respeito estava profetizado (Is. 49.6) : “... Também te dei para luz dos Gentios, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.” E ele próprio discerniu essa profecia. (At.13. 46,47).
Pedro, Tiago e João foram na verdade chamados para anunciar a salvação em Cristo aos Judeus, embora Pedro, a princípio, tenha sido um instrumento do qual Deus se utilizou, para que os Gentios começassem a ouvir a palavra, (At. 15.7) , até que o ministério gentílico de Paulo se manifestasse:
“Antes pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão (porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para os Gentios)”. (Gl 2.8).
“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a Graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fossemos aos Gentios e eles à circuncisão.” (Gl 2.9).
Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos Gentios, na fé e na verdade.” (I Tm 2.7).
O Apóstolo Paulo entendeu, como nenhum outro apóstolo, a dimensão da palavra “Graça” - o favor imerecido de Deus aos homens - o vemos falando disso no episódio quando repreendeu Pedro, pois este tinha comunhão com os Gentios, todavia, quando aparecia alguém, vindo de Jerusalém da parte do apóstolo Tiago, ele se afastava e evitava até participar das refeições com eles. (Gl 2.11-18). Para Paulo a Graça era total, era viver a vida da fé. (Tt 3.5-7).
O apóstolo dos gentios não pensava a Igreja instituição, e sim o corpo de Cristo. Sabemos pelo relato da própria escritura que Paulo:
  1. Trabalhou mais que os outros apóstolos:
“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo”. (I Co. 15.10).
  1. Com esse evangelho revelado, Paulo foi o que mais escreveu epístolas, já que tinha muito o que transmitir. Foram 13 epístolas, quase a metade do Novo Testamento.
  2. Foi quem mais evangelizou:
Evangelizou a Ásia em dois anos, Atos 19:10; e parte da Europa, Espanha e Itália (Roma), (Rm.15:28-29).
  1. Ratificou a encarnação de Deus em Cristo ( Cl.1.19, 2.9 e I Tm.3.16)
  2. Batizou em o nome do Senhor Jesus Cristo ( At.19.5), conforme lhe fora revelado de antemão pelo próprio Senhor na estrada de Damasco. ( At. 9.5 e 18).
  3. Discerniu claramente estar sendo o veículo humano do Espírito da verdade, profetizado por Cristo para conduzir os gentios das trevas para a luz. (At. 26.17,18).
  4. De igual modo compreendeu ser o mensageiro da graça de Deus para a Igreja nascente (II Co.3.6, Cl.1.23 e 25, Ef. 3.8,9, II Co.11.2,3), eivada de costumes e ritos judaizantes.
Que fique bem claro em nossas mentes, que o evangelho revelado, como bem profetizou Jesus (Jo.16.12), foi dado a Paulo.
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”.
A perfeita vontade de Deus, como vimos a pouco, que o próprio Jesus Cristo, como ministro da lei (Rm. 15.8) não pôde em hipótese nenhuma falar dela, foi uma missão reservada a esse escravo Eliezer, pois o Espírito que desceu sobre os apóstolos no dia de Pentecostes, atuou em Paulo de forma específica para o pôr como “luz dos Gentios”.
“Mas quando vier aquele espírito da verdade, ele vos guiará em toda verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir” (Jo. 16.13).
Em nenhum apóstolo estes textos proféticos se harmonizam tão bem, exceto em Paulo. Usado pelo Espírito de Deus não falou de si mesmo, como profeta gentílico, só falou o que recebeu do Senhor e profetizou sobre a corrupção da Igreja no fim dos tempos.
Sim, este precioso mensageiro nos revelou a perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). Um verdadeiro Eliezer em sua geração, preocupado em entregar ao seu Senhor uma noiva pura, como enfaticamente o vemos falando a Igreja em Corinto.
“Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” (II Co.11.2,3).
Em outra ocasião, exorta aos gálatas a não abraçarem um outro evangelho, pois qualquer outro conteúdo bíblico-doutrinário, que não possuísse as características Paulinas, deveria ser veementemente rechaçado como uma mensagem de infernal condenação.
“Mas ainda que um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. (Gl. 1.8).
Paulo o modelo.
Sabemos que a mensagem aos gentios tem como primeiro arauto e modelo Paulo. Observamos que as cartas enviadas as Igrejas gentílicas, registradas em Apocalipse são referenciais importantes para corroborarem nossa argumentação. O próprio livro assegura ser uma mensagem atemporal e profética.
“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Ap.1.3).
Do mesmo modo, as cartas enviadas às Igrejas vislumbram um tempo além daquele momento vivido pelo profeta João evangelista, pois retratam episódios claramente não circunscritos aquele período histórico. Isso fica patenteado através dos significados dos nomes de cada uma das Igrejas asiáticas citadas ali .
Há traços das fases vividas pela Igreja através dos séculos, traços esses, que o mais cético crítico do Evangelho não terá condições de refutar sua veracidade e historicidade. João escreveu para sete Igrejas locais, Deus, porém, falou para sete fases proféticas da Igreja em sua peregrinação terrena.
Em cada uma dessas fases sobreveio a apostásia, entretanto, Deus sempre proveu uma mensagem para restaurar aos seus filhos a palavra confiada ao primeiro mensageiro e modelo de todos os outros que viriam.
As dispensações gentílicas.
  1. Éfeso – Desejável e/ou relaxada. Tendo como fundamento o Jesus revelado através da mensagem Paulina, embora saibamos que o apóstolo dos gentios não chega ao final desta dispensação, sendo executado antes por Roma. No entanto, o que está em jogo aqui é a mensagem pregada por ele, a qual deixou discípulos fiéis, como por exemplo: Timóteo e Epafrodito, dentre outros.
  2. Logo em seguida temos Esmirna – Significa mirra, que era uma resina perfumada produzida por esmagamento. A mirra é usada na produção de óleos, perfumes e utilizada comumente para preparar corpos embalsamados para o velório. Tornou-se por isso, símbolo de amargura e sofrimento. O nome Esmirna era então muito significativo, apontando para uma Igreja sofredora, perseguida por Roma, todavia, exalando sempre o bom cheiro de Cristo.
  3. Pérgamo- Completamente casada e/ou elevada pelo casamento. A profecia aqui fala do relacionamento entre a Igreja e Roma. Desde da época em que Roma deixa de perseguir a Igreja 312, logo em seguida é proclamada a paz 313 D.c, até por volta do Sec. VI, D.c. É a fase e m que a Igreja começa a aderir ao balaísmo e ao nicolaísmo.
  4. Tiatira - Sacrifício de trabalho. É a dispensação em que a Igreja retorna às práticas veterotestamentárias, como também adere aos costumes pagãos de Roma. Essa dispensação vai de 606 a 1520 D.c.
  5. Sardes – Remanescente. Esse tempo pode ser claramente identificado com a época da reforma protestante, bem como o “anjo” da Igreja pode ser reconhecido indubitavelmente na pessoa de Lutero, pois além de dar os primeiros passos para que a Igreja abandonasse o paganismo, as obras da lei e os costumes pagãos, agiu e falou como um verdadeiro anjo de Deus, um profeta para sua época. Esse período vai de 1520 a 1750 D.c.
  6. Filadélfia - Amor fraternal, Um hiato excelente, onde tudo funcionou muito bem. Parecia um prenúncio da vinda de Cristo. O que se destaca nessa época de ouro da espiritualidade “protestante”, é o incansável trabalho evangelístico de John Wesley. Sua Igreja era literalmente o povo. Wesley de fato, não fundou nem uma denominação. Ele próprio dizia: “ Minha paróquia é o mundo.” Essa dispensação, vai de 1750 a 1906 D.c.
  7. Laodicéia - Governo do povo ou o povo governando. Essa dispensação se inicia em 1906 com a eclosão do pentecostalismo em Los Angeles, Estados Unidos, e perdura até a vinda de Cristo para buscar sua noiva amada. É a fase mais longa e mais difícil, pois a Igreja nominal traz em si os frutos abundantes de todas as dispensações precedentes. Vemos agora o “primeiro amor” falado em Éfeso totalmente esquecido, a Igreja tem renovado continuamente seus votos de fidelidade ao casamento realizado em Pérgamo com a religião Romana, pagã-judaica e apóstata. As práticas observadas em Tiatira, foram tão aperfeiçoadas que o “crente” hoje serve ao romanismo, pensando está servindo a Cristo. Como observado em Sardes, há muita aparência religiosa, entretanto não há vida espiritual. Tens nome de que vives, mas estás morto.” Ap.3.1.
Sabemos que em todas as dispensações houve sempre um remanescente com o espírito encontrado em Filadélfia, esperando apenas ouvir a voz da trombeta profética (Is.58.1, Jo.10.16) para seguir seu sonido. Pois no corpo doutrinário Paulino, não se dá ensejo a outro evangelho ou ao relativismo tão em voga nos dias de hoje.
“Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.” (Ef.4. 4-6)
Sabendo de antemão isso, abracemos a mensagem que Deus deu a Paulo e que está restaurando nesta última fase da Igreja, a mensagem da Graça de Deus.
Em Cristo, Wanderley Nunes.

sábado, 25 de agosto de 2012

O líder segundo o evangelho

“Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles.
Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo.” (Mt 20.25-27).
O que acabamos de ler são palavras pronunciadas por Jesus. Fiz questão de negritar aquelas que considerei mais relevantes para minha breve alocução sobre o líder segundo o evangelho. Se observarmos todo o texto em seu contexto mediato e imediato, veremos que o arrazoado do mestre se deu por causa de uma discussão entre os discípulos, pois dois deles queriam a preeminência.
Jesus aponta de modo muito claro a explícita diferença entre o governo secular (no caso, romano) e o governo da sua eclésia (a igreja). No secularismo há domínio, embora maquiado de democracia (o voto obrigatório no Brasil que o diga), na eclésia do Senhor há liberdade, e o filho de Deus é cativo única e exclusivamente da consciência renovada pelo evangelho, digo com todas as letras: e-v-a-n-g-e-l-h-o!!!! Não falo de religiosismo, fanatismo e afins.
O “não será assim entre vós” de Cristo, é veemente e não deixa lugar para dúvidas. Não há espaço para autoritarismo e sim para ser o modelo do rebanho. A influência de alguém na eclésia do Senhor sempre foi reconhecida pelo serviço prestado à comunidade eclesial. “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam” (I Tss.5.12).
No discurso do Senhor Jesus, o maior é aquele que mais doa de si para o reino. Quer ser um dos grandes? Trabalhe com a seriedade de um fiel empregado, possuindo todos os direitos trabalhistas: férias, décimo terceiro, honra da parte dos homens... É basicamente isto que o texto deseja transmitir. Quer ser o primeiro na eclésia? Seja o escravo. O escravo foi comprado, não possui herança, não trabalha por salário, não espera décimo terceiro e nem reconhecimento.
Presbítero, bispo, pastor
Nas escrituras, no ministério apostólico, e ao longo da história da igreja no primeiro século, não encontramos a estrutura hierárquica produzida a partir da sua romanização, a qual se desenvolveu em meio as desculpas sobre a demorada volta do Senhor e a necessidade de salvaguardar a linhagem sucessória dos apóstolos.
O que era domínio do Espírito, tornou-se uma usurpação disfarçada de zelo, que levou a igreja ao clericalismo bem profetizado em apocalipse, onde o Senhor Jesus denuncia os nicolaítas:“Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio”. (Ap. 2.6).
Observe que a igreja em Éfeso, embora sendo exortada a voltar aos princípios elementares da sua fé, é ainda elogiada pelo Senhor por ter algo em comum com Ele; o asco ao nicolaísmo. A essa altura é imprescindível saber o que isso significa. Nicolaíta provém de dois vocábulos: nicao - vencedor, dominador ou conquistador, e laos - laicato ou governo do povo. Portanto, nicolaíta é alguém que governa (domina) sobre o povo comum.
Vemos aqui uma manifestação repudiosa do Senhor contra aquela semente de autoritarismo tirânico e arbitrário, que culminaria em uma hierarquia papal epidêmica, pois perpassaria à era medial, e mesmo a reforma não seria capaz de debelá-la.
A estrutura reformada, a princípio, suavizou a questão, porém, ao longo da história da igreja a configuração estrutural da eclésia foi se secularizando e tornando-se cada vez mais parecida com a religião romanista.
Isso não era senão um retorno ao judaísmo, com influências pagãs, as quais descaracterizaram a eclésia, tornando-a cristã nominal, desprovida de sua credencial celeste, communionem Sanctorum1 .
É pertinente a observação que há um desenvolvimento do nicolaísmo. Em Éfeso, ele está circunscrito a obras, no entanto, em Pérgamo o que era mera ação, obra, torna-se doutrina: “Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio”. Ap.2.15.
Há no clericalismo atual, que grassa em todo o sistema denominacional evangélico um profundo choque com a doutrina do sacerdócio universal de todos os cristãos (I Pe.2.9). Na atual conjuntura, somos ensinados a sermos dependentes da figura pastoral.
No pastorado conforme o Novo Testamento, os ministros preparam a eclésia para a maturidade e liberdade em Cristo: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento (amadurecimento) dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.
Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito (maduro), à medida da estatura completa de Cristo”. (Ef. 4.11-13).
Pastores, presbíteros e bispos, nada mais são que serviçais do Reino, os quais receberam a graça e a honra de serem chamados para o santo ministério (ministério = serviço). Pastor é sempre uma palavra referida a Cristo no Novo Testamento, com a exceção de Ef. 4.11, embora saibamos que o presbítero também é um apascentador.
Presbítero (πρεσβυτερος) – é um irmão mais velho, ou seja, alguém com uma larga experiência, conhecimento e testemunho de fé claramente reconhecidos pela igreja local. O seu chamado é para cuidar do rebanho (I Tm. 3. 1-7, Tt.1.5-9). O mesmo se pode dizer do bispo ( επίσκοπος ), que para Paulo possuí a mesma acepção de presbítero.
“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo seja irrepreensível...”.(Tt.1.5-7).
Reconhecimento sim, clericalismo não
“Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória (I Pe. 5.1-4).
Podemos observar nas palavras de Pedro a completa ausência da ideia de uma pirâmide hierárquica clerical, que invadiu a igreja a partir de Inácio de Antioquia no fim do século I, o qual já defendia o primado dos bispos como únicos representantes de Cristo frente a Igreja e o mundo.
“Segui ao bispo, vós todos, como Jesus Cristo ao Pai. Segui ao presbítero como aos apóstolos[...] Ninguém ouse fazer sem o bispo coisa alguma concernente à Igreja. Como válida só se tenha a eucaristia celebrada sob a presidência do bispo ou de um delegado seu. […] Sem a união do bispo não é lícito batizar nem celebrar a eucaristia; só o que tiver sua aprovação será do agrado de Deus e assim será firme e seguro o que fizerdes.” 2
Inácio também afirma em suas cartas o primado de Roma : “Roma preside a Igreja na caridade”.3
Tal atitude é veementemente rechaçada por João em uma de suas cartas, em que um certo Diótrefes ansiava o poder em detrimento da autoridade apostólica: “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe.
Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja”. (III Jo. 9,10).
Perceba que Diótrefes estava contra os apóstolos e usurpou a autoridade dos discípulos do Senhor, se achando no direito de ditar normas, não tendo sido chamado por Deus para apascentar, muito menos para presidir a Igreja de Cristo.
Se voltarmos para a epístola de Pedro notamos que aquele que dizem, ter obtido o primado de Roma, e isso do próprio Cristo, demonstra com suas palavras desconhecer, e sobretudo, não reconhecer essa doutrina.
Quando fala dos colegas presbíteros, em momento algum se põe como superior : “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles”. Note que para Pedro nada o diferenciava com relação aos outros presbíteros, ele era um com eles. Pedro não se sentia bispo deles, o que o estacava entre os irmãos era ter sido testemunha das aflições de Cristo.
Havia sim um respeito da parte da Igreja aos apóstolos do Senhor, porém isso nunca levou a Igreja, até essa época, para crença de um bispo sobre todos os bispos, isso nunca foi ideia da Igreja nascente dos apóstolos, e muito menos de Cristo.
Podemos perceber que para Paulo, o apóstolo dos gentios, não havia um maioral em Jerusalém responsável por toda a Igreja em todos os lugares. Quando se refere aos mais proeminentes apóstolos, fala no plural: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas...” (Gl. 2.9). Em nenhum momento Paulo mencionou um bispado único.
Outro fato que aclara a visão apostólica sobre a direção da Igreja pode ser observado em dois episódios. Quando Samaria recebeu o Evangelho, nada se mencionou sobre uma autoridade acima da Igreja enviando algum obreiro para aquela cidade, pelo contrário, outros apóstolos enviaram aqueles que eram tidos como os maiores. Lembre-se, para Jesus o maior é o que serve.
Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João”. (At. 8. 14).
O segundo episódio a ser analisado diz respeito ao trato que Pedro dá a Paulo: “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada”. (II Pe. 3.15).
Sabemos que o nicolaísmo se encontra tão arraigado na Igreja, que se um ministro chamar outro de irmão sem lhe titular como pastor, bispo, apóstolo ou coisa que o valha, será motivo bastante para um grande desentendimento entre os dois.
Pedro e os demais apóstolos reconheciam o chamado e a obra de Paulo: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo...” ( Gl. 2. 9). Entretanto, para eles o apostolado era um serviço prestado a eclésia do Senhor, não um cargo que denotava uma superioridade hierárquica sobre os demais.
O apóstolo Pedro compreendia de modo muito claro a posição, sabedoria e ministério Paulino, e esse era mais um motivo para chamá-lo de “amado irmão”, pois para Pedro alguém que agia como Paulo, deveria de fato ser muito amado pelos outros apóstolos e pela eclésia do Senhor.
O reconhecimento do trabalho apostólico e episcopal por parte da igreja sempre teve como ponto basilar o serviço.
Protestando o não reconhecimento do seu ministério, Paulo diz aos coríntios: “Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.” (I Co. 9.2). Paulo não está reclamando autoridade para si, e sim o reconhecimento do serviço apostólico.
Em outro lugar acrescenta: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” ( II Co. 12.15). O vemos noutro lugar xpressando o que entendia sobre apostolado.
“Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens.
Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos;
Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos.” (I Co. 4. 9-13).
É interessante notar que tanto Pedro quanto Paulo, falam de apascentamento como cuidado com o rebanho do Senhor: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele. (I Pe. 5.2). Falando das qualidades do bispo Paulo diz que a casa deste deve ser governada, porém, quando se refere a igreja, declara que deve ser cuidada.
“Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)” (I Tm. 3 .4-5).
É esse tipo de líder que deve ser honrado pela igreja.
O clericalismo religioso, que por vezes descamba para a política secular, fazendo do rebanho apenas produtores de lã, leite e carne para a locupletação de um lobo voraz e mercenário, que usa a eclésia como mero curral eleitoral e objeto das suas ambições mais esdrúxulas, esse sim, deve sofrer por parte dos seguidores de Cristo uma rejeição veemente, total e absoluta.
Que a eclésia do Senhor em tempos tão difíceis, tenha o discernimento e a equidade necessária para rejeitar o nicolaísmo, e com respeito, terno e entranhável afeto, reconhecer os irmãos (presbítero, bispos= pastores) que foram chamados para serem ovelhas guias do rebanho do Senhor.
“Obedecei aos vossos guias (termo original) e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” ( Hb. 13. 17).
Em Cristo, Wanderley Nunes.
1 a comunhão dos santos
2Apud New Advent. Página visitada em 29/01/2011.
3Ibid.

sábado, 26 de maio de 2012

Hebreus 13.11-13.

“Pois aqueles animais cujo sangue é trazido para dentro do Santo dos Santos, pelo sumo sacerdote, como oblação pelo pecado, têm o corpo queimado fora do acampamento”.
Pelo simples fato de possuirmos um altar (o sacrifício de Jesus), que não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo (referindo-se ao sacerdócio judaico), é importante e necessária a explicitação de que o sacrifício propiciatório de Cristo foi uma oblação (oferta) do seu sangue, o qual foi apresentado para nossa justificação no altar Divino.
“muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo (Hb. 9.14).
Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus.” (Hb.9.24).
Porém, para que que tal sacrifício fosse efetivado teria que haver uma vítima perfeita, não um animal, mas um ser humano impecável (Hb.10.1,4; 7.26), nominado por Paulo como “o último Adão”. “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante (I Co.15.45); O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu” (I Co.15.47).
Tudo isso teria que ocorrer primariamente no âmbito terreno, para depois ganhar sua concretude no âmbito eterno, pois como homem-servo, o Jesus ressuscitado diz a atônita Madalena quando tenta abraçá-lo: “ […] Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus ( Jo.20.17). Nesse episódio se cumpre Hb.9.24.
Antes de se apresentar no tabernáculo celestial como o cordeiro sacrificial perfeito, Cristo padeceu aqui, e o seu corpo – como a vítima sacrificada no altar santíssimo no dia da expiação – foi imolado fora das portas da cidade de Jerusalém, demonstrado ser essa uma morte vituperante, pois o cordeiro do culto israelita era levado para longe do arraial (comunidade judaica), sendo vedado ao sumo sacerdote e a qualquer judeu comer dele, por ser o corpo do pecado, e por essa razão, tinha que ser incinerado longe dos israelitas.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (II Co.5. 21).
É com essa imagem do ritual expiatório que o escritor de Hebreus afirma: “Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb. 13.12). Aqui é apontada a grande diferença entre as sombras ritualísticas dos holocaustos da lei mosaica, e a realidade salvífica e vicária da morte de Cristo.
Como o verdadeiro cordeiro de Deus (Jo.1.29), através do seu sangue, tornou o pecador santo por aquilo que ele fez: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
“Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” (Rm. 5.8-10).
Tendo Cristo assim padecido por nós, cabe-nos reconhecer que não resta mais nenhum sacrifício que possamos fazer a fim de agradá-lo, pois tudo já foi consumado (Jo.19.30). De modo pedagógico e exemplar Jesus “saiu” para sofrer fora do arraial das sombras (leis e rituais religiosos judaicos).
O sair, sempre foi algo muito próprio daqueles que discerniram o chamado de Deus. Noé saiu construindo uma arca para livramento da sua família, Abraão saiu sem saber para onde ia, guiado apenas pelo vento do espírito. No antigo concerto, talvez o sair mais significativo, eivado de representações espirituais e escatológicas se deu no êxodo do Egito.
As saídas individuais ou de nações inteiras relatadas nas escrituras hebraicas, indicam que o povo de Deus foi, é, e sempre será, um povo chamado para sair. Daí o imperativo de Hebreus 13.13. “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.”
O sair, não coincidentemente, se encontra na raiz da palavra ekklesia,composta por dois radicais gregos: ek que significa para fora e klesia que significa chamados. Chamados para fora ou chamados para sair, denota a natureza orgânica da comunidade daqueles ouvem a voz do Senhor. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.”(Jo.10.27).
“Me seguem”, nas palavras de Jesus indicam a disposição dos seus ouvintes de negarem-se a si mesmos: conceitos, preconceitos, tradições humanas e afins, com o firme intuito de ser apenas um discípulo na simplicidade do evangelho (II Co. 11.3). É com essa ideia, que o amanuense inspirado imperativa e radicalmente vocifera:
Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.”
No contexto social e histórico no qual foi redigida essa carta, observa-se apenas um caminho para a manutenção de uma fé puramente neotestamentária por parte dos irmãos hebreus - os quais ainda davam ouvidos aos ecos e reverberações da lei mosaica - um rompimento definitivo com o judaísmo e suas implicações.
Para isso, teriam que sair do arraial, só assim poderiam encontrar de fato Jesus. Nessa saída, teriam que estar dispostos a carregar o desprezo de sofrerem a alcunha de ex-judeus, ex-povo do templo, ex-dependente de sacerdotes, ex-povo ritualístico, ex...
Nesse vitupério (desprezo) imposto pela religião institucional, é que a eclésia do Senhor se tona concreta e definitivamente gente da nova aliança.
Quando Paulo fala da sua fé em Cristo e tudo que teve que renegar - leia-se claramente e com todas as letras, todo o rito judaico - por causa do vinho novo que recebera, é que axiomaticamente diz: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1. 10).
Vituperados sim pelos homens, porém acolhidos pelo Senhor na liberdade do evangelho da graça, para viver pela fé, na fé do filho de Deus. “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” (Rm.2.28,29).
Em Cristo e por Cristo, Wanderley Nunes.