Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.
Depois de afirmar que só há um Evangelho(V.7), e que descaracterizar a graça é subvertê-lo, adulterá-lo, Paulo reitera aos gálatas sua inexorável crença de que Evangelho, era aquele que havia anunciado a eles.
Lembremo-nos de que na carta aos Gálatas ele não fala de “verdadeiro Evangelho”; há para ele apenas “O Evangelho”, os demais são meras maquiagens, plágios baratos, verdadeiras aberrações.
O Evangelho anunciado pelo doutor dos gentios estava plenamente ancorado no Jesus ressuscitado, aquele que nasceu e viveu como cidadão judeu, mas ressurgiu como salvador do mundo. Nele as barreiras étnicas e culturais são vencidas em nome do bem maior: O amor desmedido de Deus.
As discussões religiosas e suas práticas, ainda que baseadas em boa vontade, nada dizem a respeito de Jesus, embora usem seu nome. A tomada de posição Paulina não se fundamentou em uma intriga de devotos, mas em sua percepção da transcendência do Jesus ressuscitado.
Enquanto o judaísmo estava envolto em sombras ritualísticas e exigências cultuais, o Jesus ressuscitado, apresentado por Paulo, era totalmente livre e descomprometido desses meandros, sendo ele a realidade e o alvo daquela didática. A lei foi dada para o judeu como serva do homem, a fim de conduzi-lo à fé no metafísico, no extracorpóreo.
Por isso, o mestre dos gentios afirma que mesmo se ele ou outro apóstolo – falando do âmbito terrestre - trouxesse uma mensagem diferente daquela já anunciada, fosse considerada anátema1. Mesmo que o mensageiro viesse do céu – supostamente do âmbito celeste - tal mensagem deveria ser rechaçada, posto que espúria ante a pregação definitiva da graça de Deus exposta de antemão por ele.
No versículo 8 a argumentação é tecida com relação a qualquer adição feita ao Evangelho, por isso o uso do “além”, significando Evangelho + obras da lei, ou qualquer tipo de ênfase ao mérito como justificador do homem com relação ao alcance da salvação e/ou os dons de Deus, os quais indubitavelmente transtornam o Evangelho de Cristo, transformando-o em um simulacro, em um arremedo do Evangelho.
Por conseguinte, o versículo 9 apresenta o outro lado da moeda. A atenção aqui não é com relação ao que foi ensinado e sim no que fora “recebido” pelos gálatas. Tem muito líder religioso usando esses versículos para conduzirem pessoas cativas aos seus projetos megalômanos e avaros.
A fala Paulina ao contrário, percorre o caminho da graça de Deus, o que foi ensinado aos gálatas é que nada dependia deles no que concernia a salvação e aos dons de Deus, tudo era (e é) recebido pela graça mediante a fé em Cristo.
O que pode e deve ser aplicado aos nossos dias, é a exortação de Paulo a que permaneçamos ancorados na fé do filho de Deus; que a salvação por nossas próprias forças e esforços, simplesmente nos empurram para longe do Evangelho de Cristo, anatematizando a nossa fé, transformando em pseudo – evangelho, o que nos foi dado para vida.
Lancemos fora toda obra meritória, tudo o que porventura seja glória para nós diante de de Deus. Contentemo-nos em crer no ato salvífico de Jesus de Nazaré: Em sua vida, morte e ressurreição por nós. Nada há mais para se fazer.
Soli Deo gloria,
Wanderley Nunes
1 Palavra grega que significa ‘coisa exaltada’ dentro de um templo – por exemplo, como oferta de voto a um ídolo. (Assim, em Lc 21.5.) Na versão dos LXX o termo é aplicado aos animais que, oferecidos a Deus, deviam ser mortos (Lv 27.28, 29): daqui vem o sentido genérico ‘condenado’, amaldiçoado (Js 6.17 – 7.12). Com esta significação se encontra o termo grego em 1 Co 16.22 – Rm 9.3 – 1 Co 12.3 e Gl 1.8,9. Em At 23.14 está a palavra empregada no sentido de ‘maldição’.