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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Comentário de Gálatas 1. 13,14 – Extremamente Zeloso



13 Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava.

14  E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.


Paulo lembra aos gálatas o que eles ouviram ao seu respeito. O que tenta transmitir com isso, é a razão da sua completa mudança e total abandono da fé judaica; é como se quisesse dizer: Daí eu já vim! Conheço muito bem o proceder dos meus compatriotas e já deixei tudo isso para trás.



Como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava – Agora, detalha suas ações, era um perseguidor. A lei mosaica falava sobre condenar o falso profeta, e era assim que Paulo considerava Jesus e consequentemente todos os seus discípulos. Como um austero judeu, não só perseguia com verbalizações, como também usava de meios violentos no intuito de exterminar aquela “seita”, ainda que para isso fosse necessário dar cabo dos seus seguidores.


O que pode ser lido nas entrelinhas, quando cita sua antiga fé rigorosa e combatente, é que, só mesmo uma experiência cognitiva, que lhe trouxesse novas convicções, de fato, teria o poder de fazê-lo mudar de ideia, logo, se isso aconteceu, deveria ser um sinalizador para a igreja da Galácia, seduzida a percorrer as veredas as quais Paulo havia abandonado, justamente por ter encontrado em Jesus “o caminho.”


A grande mensagem do evangelho de Cristo, e que fique bem explícito, de “Cristo”, não da igreja instituída – deixando claro que não somos contra a instituição em si, todavia, aborrecemos e rechaçamos o “engaiolamento” e monopólio da “verdade” produzido por ela – é o amor, a paz, a ética e a aceitação mútua, pois todos, independente da fé, e mesmo os que comungam as mesmas crenças, possuem diferenças entre si, por isso, a grande “verdade” é o Cristo unificador do diferente.


Como dito em ocasiões anteriores, não é o que se fala de Cristo que salva, mas sim Cristo. De modo algum, tal formar de pensar torna inócua ou anomista a minha fé, entretanto, faz com que embora tenha minhas convicções, o Jesus Senhor, torna-se para mim, maior que “o Jesus da igreja”, pertencente e de uso exclusivo de um grupo, cujas práticas os torna detentores da “verdade”, isso não é aceitável do ponto de vista do Cristo glorioso e sem fronteiras.


A asseveração: “Meu Cristo é melhor que o seu” e  “só minha forma de crer é salvífica”, em si mesma é proveniente de um olhar unifocal, incapaz de visualizar um Jesus desprovido de pertencimento religioso. Um Jesus assim, está estigmatizado pelos rituais, dogmas e paramentos litúrgicos, segundo a visão empedernida e embotada dos forjadores do uni pertencente Jesus, na realidade, idealização que atende somente a interesses institucionais.


Paulo em nenhum momento renega sua nação e as crenças do seu povo, na realidade, sabe e fala da sua pátria com orgulho, todavia, aponta para um unificador de povos, e compreende que para isso acontecer, tem que cair por terra tudo que causa divisão e que de fato não diz respeito aos valores  éticos e morais comuns a todos os homens. Algo importante para ser salientado é nada indicar haver nenhuma ilusão por parte de Paulo em converter a nação israelita.


A fala dele aos gálatas trata sobretudo do gentil que abraçou a fé em Jesus e está sendo cooptado por “irmãos” de Jerusalém, os quais tentam enredá-los a tomar emprestado os antigos rituais segregacionistas judaicos, que não possuem em si mesmo o poder de melhorar ninguém pessoalmente, servindo apenas como sinalizador de diferenças e impossibilidades para o estrangeiro desejoso de abraçar o evangelho. Isso era o que Paulo praticara como zeloso Hebreu e é contra isso que se levanta agora.


14 E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.


É imprescindível salientar que a carreira de Paulo no judaísmo, foi eivada de ação e militância, poucas vezes vistas em pessoas da sua idade, inclusive com relação aos que divergiam da sua “sagrada fé”. Justamente por ser “extremamente zeloso”, levou às últimas consequências sua fúria contra a “seita dos Nazarenos”.


Entretanto, quando chega a conclusão de que Jesus possuía todas as características messiânicas, se coadunando assim com os seus íntimos e patrióticos anseios, não pensa duas vezes em lançar fora “os excessos” da sua bagagem religiosa, para então carregar o jugo suave e o fardo leve do Nazareno.


É relevante a observação de que a carga religiosa foi deixada para trás, no entanto, o fardo e o jugo de apontar para o mundo a bondade graciosa do evangelho, que “mata” o religioso fanatizado e faz surgir um homem eclesiástico, um ser comunitário, esse sim, o apóstolo dos gentios levou até o fim dos seus dias.


Nesse sentido, o seu zelo extremado de outrora foi transferido para um outro alvo. Uma dedicação como essa, um zelo e um amor dessa envergadura, devem de fato constranger de forma idílica e conscienciosa todo aquele que uma vez se iniciou no “caminho”.



...Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou [1]



Wanderley Nunes



[1] II Co.5.14,15 – Versão Revista e Atualizada.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Comentário de Gálatas 1.11,12 – Revelação de Jesus Cristo



Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.

“Faço-vos, porém, saber, irmãos”. Paulo com essas palavras deseja enfatizar a origem e originalidade do evangelho que prega. O vocábulo “irmãos”, empregado aqui, tanto é um termo carinhoso – preparando os corações galacianos para as severas exortações que viriam – como indica também o reconhecimento de que Paulo os considera de fato, da família da fé.

Ainda se pode acrescentar um outro motivo para os gálatas serem chamados de irmãos: Apesar de terem tão rapidamente se distanciado da fé que lhes fora apresentada pelo apóstolo dos gentios, isso, no entanto, não era razão suficiente para que lhes fosse dispensado qualquer outro tratamento que não o de irmãos.


Nota-se não ser Paulo, nem de longe, um institucionalista apaixonado, muito menos um fanático religioso, do tipo que preceitos, bandeiras, e flâmulas estão acima daquilo que deveria ser hipoteticamente o alvo e o objeto de amor de qualquer comunidade de fé: O ser humano.

“Que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem”. Paulo principia sua autodefesa axiomaticamente dizendo que a boa nova anunciada por ele não era κατα ανθρωπον (kata antrôpon) “segundo o homem” – a tradução da versão bíblica revista e atualizada, referência aqui, é fidedigna ao verter para o português a expressão grega – Não era nem um tipo de engendramento filosófico religioso, havia algo mais no seu ensino, indicando serem suas elucubrações não meras adaptações do pensamento judaico.

“Porque eu não o recebi…”. O apóstolo deixa entrever aqui, que não fora alvo das transmissões escriturísticas orais como era costume em Israel, claramente indicado pela expressão “não recebi”.

Um bom exemplo disso se encontra na carta aos Hebreus, tida por muito tempo como uma epístola saída da pena de Paulo, entretanto, tem sido demonstrado através de pesquisas mais recentes não ser esse de fato um texto Paulino. Uma das maiores provas se encontra na chamada “evidência interna”. No capítulo 2, o escritor diz o oposto do que Paulo afirmou aos gálatas.

Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram [1]

Enquanto o escritor aos Hebreus se coloca no grupo dos que ouviram de terceiros o evangelho, Paulo diz que “não recebeu” de ninguém. E quando afirma não ter aprendido de homem algum, está categoricamente falando não ter consultado mestres humanos para ter chegado onde chegou.

Isso não significa de modo algum, não ter ele feito suas pesquisas e ponderações, como também não ter aceitado ainda que posteriormente, algumas tradições apostólicas - daqueles que eram discípulos antes dele - as quais se coadunavam com aquilo que cria.


Um bom exemplo disso é I Co. 15.3:


Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.

Nesse texto há uma patente indicação de uma tradição apostólica, pois conforme Paulo afirma, seus antecessores transmitiam os ensinos, usando conjuntamente as escrituras – o antigo testamento e os profetas – a fim de corroborarem suas assertivas. Quando ele diz “entreguei o que recebi” está  fazendo uso dessa tradição, a qual se conformava perfeitamente com o evangelho que pregava.

“Nem aprendi de homem algum”. Quando faz tal asseveração, busca rebater as acusações daqueles que diziam que o evangelho que anunciava não possuía legitimidade, por ele não ser discípulo como os outros, não fazer parte do colegiado apostólico, não ter andado com Jesus, muito menos ter sido instruído pessoalmente por ele.

O que estava em jogo era todo o trabalho de Paulo e sua credibilidade junto aos gálatas, por isso, “os falsos irmãos” tentavam desqualificá-lo perante a igreja da Galácia. Deduze-se facilmente a síntese de suas vis argumentações: Se Paulo não possuía autoridade e nem autonomia apostólica para instruir aquela igreja, se o que ensinava não vinha de nem um dos apóstolos, muito menos do próprio Jesus, sua fonte então seria secundária, clandestina e inverossímil.

Desse modo, o evangelho da graça que pregava e, por conseguinte, as igrejas que haviam recebido suas instruções eram todas apóstatas e palmilhavam o caminho do erro. Por isso, era de suma importância uma tomada de posição firme.

O interessante nessa afirmação de Paulo, é que um leitor incauto ou mais desatento poderá achar a princípio que Paulo está concordando com seus acusadores, é como se dissesse: “É verdade, não aprendi com os apóstolos”. Quando na verdade, o que realmente queria dizer é que o que transmitira era oriundo de uma fonte superior.

No entanto, o teor da sua argumentação vai muito além de que simplesmente não ter sido instruído por homem algum - isso inclui Pedro, Tiago e João - muito menos sua prédica ser fruto da sua mente pródiga ou delirante, dependendo da interpretação e da boa ou má vontade dos avaliadores.

“Mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Aqui está a motivação para o evangelho que o apóstolo das gentes anunciava. É explícito - exceto para os mais simplistas -  que o arcabouço do ensino Paulino não era fruto exclusivamente da estrada de Damasco.

Seja qual for a interpretação que possa ser dada – literal ou metafórica – o fato é que não é em Damasco, mas a partir de Damasco que se desenvolvem as formulações de fé Paulinas, tendo como marco inicial sua passagem por lá, independente de qual tenha sido a experiência Cristológica que tenha ocorrido nele.

É pertinente salientar a expressão “revelação” Αποκαλυψεως (apokalupsis). Essa palavra traz em si a ideia de descortinar, descobrir, tirar o véu. O que se pode concluir observando a trajetória de Paulo, é que cedo no caminho de Damasco, se deslindou para ele Jesus como o messias prometido, posteriormente, tendo como ponto de partida a “revelação” de Jesus Cristo, pôde então fundamentado no cabedal de conhecimento judaico grego, erigir a maior obra literária conhecida a respeito da fé em Jesus de Nazaré.



Wanderley Nunes



[1] Hb.2.1-3

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Comentário de Gálatas 1.10 – Agradando a homens ou a Deus?

Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.

Paulo aqui se refere ao alvo da sua prédica: Falar da boa nova, tentar levar todo homem judeu ou gentio, ao evangelho. O intento Paulino era de fato cumprir esse propósito.

“…E toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”1.

“…Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”2.

“…Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério3.”

“…Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”4.

O dilema dos Gálatas

O grande entrave nesse momento é que os gálatas estavam sofrendo sérios ataques dos discípulos de Jerusalém, que buscavam desacreditar Paulo e seus ensinos. Tudo indica, que uma das acusações era que ele escoimava os galacianos das práticas da lei, com o intuito de facilitar a entrada deles na fé do Evangelho.

Paulo por sua vez, argumenta de modo incisivo que ao contrário do que se falava, ele seria a última pessoa que deveria ser acusada de transigir com o Evangelho de Cristo, visto que, antes de optar por seguir a Jesus, fora um dos maiores inimigos da Eclésia nascente.

Como bom fariseu, não aceitava de modo algum, a mínima comunhão entre evangelho e lei, pois a lei de Moisés fala de vida pelo cumprimento dos seus preceitos5, o Evangelho por outro lado, apresenta a vida eterna adquirida pela graça mediante a fé6. Logo, não há comunhão alguma entre lei e Evangelho, eles são antagônicos.

“Os irmãos” de Jerusalém, estavam tentando instruir os gálatas a entrarem no caminho do Evangelho pelas vias da lei, para Paulo, isso era inaceitável.

Se como judeu nunca aceitou isso, muito menos agora conhecendo a graça salvífica do Evangelho de Jesus Cristo.

Por esse motivo, ele argumenta, que se fora o seu propósito isentar-se e/ou até evitar o sofrimento, o vitupério de Cristo, sem dúvida teria continuado sendo um austero judeu, fariseu, guardador empedernido da lei Mosaica, o que lhe proporcionaria reconhecimento e status inerentes ao seu posto.

Quem de fato estava querendo se isentar do vitupério da cruz, e isentar os gálatas, não era Paulo, mas os de Jerusalém. Na mesma carta o apóstolo expõe o estratagema dos legalistas.

Eu, porém, irmãos, se ainda prego a circuncisão, por que continuo sendo perseguido? Logo, está desfeito o escândalo da cruz7“.

Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.

Pois nem mesmo aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei; antes, querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne”8.

Quem estava fazendo isso, Paulo ou “os irmãos” de Jerusalém? No Evangelho anunciado por Paulo, não havia espaço para glória e ostentação humanas, culto do ego, show gospel, encontros com Deus antecipadamente marcados, culto dos empresários, orações cujo o único intuito é se dar bem… Evangelho é cruz, é fé na obra absoluta de Deus, levada a cabo no Gólgota.

O Evangelho nos leva a vivermos por fé, esperando o porvir. Enfrentando os sucessos e fracassos que sem dúvida nos sobrevirão, porém, sempre com os olhos fitos no amanhã, no raiar do novo dia que trará novos céus e nova terra.

Se olharmos para a vida presente com o olhar futurista da fé, pouco ou nenhum espaço haverá para decepções com Deus, para um “evangelho mercadológico”, psicodélico, fruto de mentes paranoicas e megalomaníacas, cujo Deus é o “eu”, cuja efêmera glória serve somente para a confusão deles, pois só pensam nas coisas terrenas9. Evangelho é paz com Deus, paz consigo mesmo, paz que excede todo o entendimento e circunstâncias.

Wanderley Nunes

1II Co.10,5

2At.20.24

3Rm.11.13

4II Tm.4.7

5Lv.18.5

6Ef.2.8,9

7Gl.5.11

8Gl.6.12,13.

9Fp.3.19

terça-feira, 21 de julho de 2015

Comentário de Gálatas 1:8,9 - Além do Evangelho

Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.

Depois de afirmar que só há um Evangelho(V.7), e que descaracterizar a graça é subvertê-lo, adulterá-lo, Paulo reitera aos gálatas sua inexorável crença de que Evangelho, era aquele que havia anunciado a eles.
Lembremo-nos de que na carta aos Gálatas ele não fala de “verdadeiro Evangelho”; há para ele apenas “O Evangelho”, os demais são meras maquiagens, plágios baratos, verdadeiras aberrações.
O Evangelho anunciado pelo doutor dos gentios estava plenamente ancorado no Jesus ressuscitado, aquele que nasceu e viveu como cidadão judeu, mas ressurgiu como salvador do mundo. Nele as barreiras étnicas e culturais são vencidas em nome do bem maior: O amor desmedido de Deus.
As discussões religiosas e suas práticas, ainda que baseadas em boa vontade, nada dizem a respeito de Jesus, embora usem seu nome. A tomada de posição Paulina não se fundamentou em uma intriga de devotos, mas em sua percepção da transcendência do Jesus ressuscitado.
Enquanto o judaísmo estava envolto em sombras ritualísticas e exigências cultuais, o Jesus ressuscitado, apresentado por Paulo, era totalmente livre e descomprometido desses meandros, sendo ele a realidade e o alvo daquela didática. A lei foi dada para o judeu como serva do homem, a fim de conduzi-lo à fé no metafísico, no extracorpóreo.
Por isso, o mestre dos gentios afirma que mesmo se ele ou outro apóstolo – falando do âmbito terrestre - trouxesse uma mensagem diferente daquela já anunciada, fosse considerada anátema1. Mesmo que o mensageiro viesse do céu – supostamente do âmbito celeste - tal mensagem deveria ser rechaçada, posto que espúria ante a pregação definitiva da graça de Deus exposta de antemão por ele.

No versículo 8 a argumentação é tecida com relação a qualquer adição feita ao Evangelho, por isso o uso do “além”, significando Evangelho + obras da lei, ou qualquer tipo de ênfase ao mérito como justificador do homem com relação ao alcance da salvação e/ou os dons de Deus, os quais indubitavelmente transtornam o Evangelho de Cristo, transformando-o em um simulacro, em um arremedo do Evangelho. 

Por conseguinte, o versículo 9 apresenta o outro lado da moeda. A atenção aqui não é com relação ao que foi ensinado e sim no que fora “recebido” pelos gálatas. Tem muito líder religioso usando esses versículos para conduzirem pessoas cativas aos seus projetos megalômanos e avaros.

A fala Paulina ao contrário, percorre o caminho da graça de Deus, o que foi ensinado aos gálatas é que nada dependia deles no que concernia a salvação e aos dons de Deus, tudo era (e é) recebido pela graça mediante a fé em Cristo.

O que pode e deve ser aplicado aos nossos dias, é a exortação de Paulo a que permaneçamos ancorados na fé do filho de Deus; que a salvação por nossas próprias forças e esforços, simplesmente nos empurram para longe do Evangelho de Cristo, anatematizando a nossa fé, transformando em pseudo – evangelho, o que nos foi dado para vida.

Lancemos fora toda obra meritória, tudo o que porventura seja glória para nós diante de de Deus. Contentemo-nos em crer no ato salvífico de Jesus de Nazaré: Em sua vida, morte e ressurreição por nós. Nada há mais para se fazer.

Soli Deo gloria,

Wanderley Nunes

1 Palavra grega que significa ‘coisa exaltada’ dentro de um templo – por exemplo, como oferta de voto a um ídolo. (Assim, em Lc 21.5.) Na versão dos LXX o termo é aplicado aos animais que, oferecidos a Deus, deviam ser mortos (Lv 27.28, 29): daqui vem o sentido genérico ‘condenado’, amaldiçoado (Js 6.17 – 7.12). Com esta significação se encontra o termo grego em 1 Co 16.22 – Rm 9.3 – 1 Co 12.3 e Gl 1.8,9. Em At 23.14 está a palavra empregada no sentido de ‘maldição’.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Comentário de Gálatas 1. 6,7: Evangelho Pervertido

Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
Paulo está espantado com a volatilidade dos Gálatas; como mudaram de opinião tão rapidamente! O ser humano parece sempre inclinado ao mundo da fantasia, sobretudo, se tais devaneios o puserem, ainda que utopicamente, em uma posição privilegiada, segundo sua mente psicótica delirante, pois como bem diz o antigo provérbio popular: “De médico e louco, todo mundo tem um pouco”.
Admira-me que estejais passando tão depressa...”.
Parece ser tão mais fácil abandonar a fé simples, a fé no invisível, no abstrato, para apegar-se ao visível, ao tangível, ao palpável; onde o que fala mais alto são os sentidos. Parece mais fácil crer no que se pode fazer, do que crer no “já está feito” do Evangelho da graça de Deus.
Ao contrário do que se imagina, “o fazer” humano para a justificação, para sua aceitação diante de Deus, nada valem. Todo tipo de arrazoado, cujo fim é imputar justiça ao homem através de suas ações penitenciais, é antes de tudo, uma afronta a penitência única e substitutiva levada a cabo por Jesus de Nazaré.
Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, a mim mesmo me constituo transgressor […] Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão.1
Em outro lugar, quando Paulo fala sobre justificação pela fé, ele diz:
Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?
Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus. Pois que diz a Escritura?
Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.
E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras.2
...daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho...”.
Paulo acusa os gálatas de apostasia. Eles, que haviam aprendido que a salvação era gratuita, um dom de Deus, agora estavam tentando comprar com suas obras aquilo que já haviam recebido pela simples pregação do Evangelho. O apóstolo afirma que eles estavam abandonando o próprio Deus, e muito rápido! O que viviam agora, definitivamente não era o Evangelho.
.... o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo”.
Paulo corrige a própria fala quando diz que não há outro Evangelho. O que na verdade estava em curso, era uma tentativa desenfreada - daí a afirmação de que os gálatas estavam sendo perturbados pelos judaizantes - de perverter, de adulterar (é o significado mais correto aqui) o sentido do que seja Evangelho.
Estratagemas como esses, embora falem de Jesus, e supostamente façam chover sinais e milagres, de forma alguma deveriam ser chamados de Evangelho. Algo assim, é por si só, um acinte ao Evangelho de Jesus Cristo.
Wanderley Nunes.
1Gl.2.18 e 21
2Rm.4.1-6.
















quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Comentário de Gálatas 1.4,5: Segundo a vontade de Deus

O qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja glória pelos séculos dos séculos. Amém!

“O qual se entregou” (tomou nosso lugar). Paulo aponta para a graça revelada em Cristo morrer por nós. Jesus se entregou pelos nossos pecados. Não é salutar para quem quer que seja, desprezar a substituição efetivada por Cristo, de perdido pecador, o homem torna-se salvo e isento de toda culpa pelos méritos de Cristo.

Qualquer tentativa de buscar o favor de Deus através da sua própria indústria, redunda em uma negação, ainda que inconsciente, do demérito humano, pondo Cristo, sua vida, morte e ressurreição, como insuficientes para a justificação do pecador, constituindo-se tal ato, por si só, em uma afronta ao Evangelho da graça de Deus.

Foi contra essa subversão do Evangelho que Paulo se ergueu. Os Gálatas estavam agora tentando alcançar o favor de Deus depositando suas esperanças nos elementos tangíveis e transitórios, os quais os judaizantes inculcava-lhes, desprezando assim os ensinos libertadores do apóstolo dos gentios.

Hoje, quando observamos tudo o que a grande mídia propaga como Evangelho, não podemos fazer vista grossa às explícitas recomendações contidas na carta Galaciana, de modo a rejeitar os rudimentos do mundo: Dias de guarda, vigílias, jejuns, sacrifícios financeiros…

“Para nos desarraigar deste mundo perverso”, a versão Revista e corrigida diz: “Para nos livrar do presente século mau””. A ideia de Paulo é de querer demonstrar a efemeridade do mundo em que vivemos, por si só, a fraqueza do presente século deveria ser entendida como algo malévolo. Cristo morreu para arrancar o homem de tudo o que possa lhe prender a coisas passageiras em detrimento das eternas.

O pensamento Paulino não é demonizar a vida presente, todavia, patentear para sua audiência a inconsistência e vacuidade de uma vida cujo alvo consiste em viver como se o objetivo não fosse o eterno, ou como se o eterno nunca fosse chegar. É nesse mesmo sentido sua fala dirigida aos coríntios.

O tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem; mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa (I Co.7.29 -31).

Pensar ou desejar uma vida dependente de Deus de forma apenas horizontalizada, é sintetizar o Evangelho de modo a descaracterizá-lo do transcendente, é erguer um ídolo cuja consistência é o pó que só alimenta a serpente.

“Segundo a vontade do nosso Deus e pai”. Sendo a vontade de Deus o desapegarmos cada vez mais da atual dimensão, posto que, se assim não fora, absorveríamos as volubilidades da vida como consequência do nosso envolvimento e paixão com o fugaz presente século.

Em lugar de produzir uma frustração mórbida, tal contexto deveria despertar em nós o anseio de viver uma vida intensamente e em toda a plenitude, todavia, com a certeza que toda essa completude e intensidade sempre será absorvida pelo eterno. A vontade de Deus, é que vivamos o hoje com os olhos e o coração no amanhã.

“A quem seja glória pelos séculos dos séculos. Amém!” Esse é o alvo do Evangelho e de todo aquele que nele crê: A Glória de Deus. Se há grupos que vivem um pseudoevangelho, voltado e devotado exclusivamente para seus interesses meramente materialistas, conclui-se então que o reino deles é terreno, o deus deles é o seu ventre, e sua glória constitui-se apenas em uma quimera.

“si in hac vita tantum in Christo sperantes sumus miserabiliores sumus omnibus hominibus” ( I Co.15.19).

Wanderley Nunes.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Comentário de Gálatas 1.3: Graça e paz

E todos os irmãos meus companheiros, às igrejas da Galácia, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do [nosso] Senhor Jesus Cristo.

Paulo continua sua prédica discorrendo sobre o desejo de que os gálatas tivessem de fato, graça e paz. Quando fala: “da parte de Deus […] e do nosso Senhor Jesus Cristo”. Não está aludindo a dois Deuses, mas ao Deus todo poderoso que se declinou ao humano na pessoa de Jesus de Nazaré. O Espírito imortal, invisível, se corporificou a fim de submeter-se ao tempo, espaço, e as circunscrições próprias do mundo tangível e palpável da matéria.

A saudação em si, tem como objetivo apontar que Deus é pai, criador e mantenedor de tudo, e nos deu a graça de continuar sendo o nosso Senhor, mesmo em sua humanidade. Logo, a saudação faz referência clara a Deus, o Deus único crido pelos Judeus e inclusive por Paulo. Referenda também, a revelação deste Deus na figura de Jesus.

A expressão “graça”, na verdade, é a bondade retratada nos méritos de Cristo, que a conquistou para aquele que crê nele. De modo bem explícito: O favor (o ato salvífico) imerecido (ao homem) lhe é imputado (posto em conta) através da vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré.

Quando se crê em Jesus como o Senhor da sua vida, dá-se o ato salvífico na dimensão humana. É como se Cristo tivesse vivido a vida, a morte e a ressurreição do pecador perdido e separado de Deus, tomando completamente o seu lugar. Toda a culpa é abarcada pela morte daquele que foi sacrificado desde a fundação do mundo - fora do concurso humano, mas manifesto ao seu tempo - incluindo em um só ato: Passado, presente e futuro.

O ato salvífico de Cristo é tão extraordinário, que extrapola as expectativas e perspectivas meramente humanas e racionais, cuja pequenez não consegue apreender e dimensionar de forma perfeita a transcendência Divina. Mas ao receber a “graça”, se abre o caminho para a “paz”, paz com Deus, paz consigo mesmo, paz que excede todo o entendimento.

Esse dom indescritível, simplesmente recebido é o que nos faz agradáveis eternamente diante de Deus.

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo[…] Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. ( Rm.1.1, 8-10).

Wanderley Nunes.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Comentário de Gálatas 1.1: Apóstolo de Jesus Cristo.

Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos.


Paulo começa sua carta evidenciando que seu apostolado não era fruto de uma vontade humana superior a sua. Não fora homem algum o responsável por seu comissionamento. Em um tempo em que todos buscam títulos e “nomes”, Paulo se arrisca a falar subjetivamente acerca de um chamado. “Sou apóstolo, Deus me confiou isso.” É mais ou menos esse o discurso dele. 

[…] “Nem por intermédio de homem algum”.

Temos aqui outra afirmação negativa quanto ao envolvimento de Paulo com um clérigo judeu ou cristão. Em síntese, ele diz: Sou apóstolo - alguém enviado com uma missão Divina, é isso que o termo significa, nada mais - não por ordem de ninguém, muito menos por intermédio de quem quer que seja.

Também não alude a uma nomeação presbiteral, episcopal ou pastoral1 comum2, se refere sim, a uma chamada feita diretamente por Deus. Um grande exemplo disso, é que todas as vezes que presbíteros foram convocados ao labor eclesial, esse comissionamento foi feito pela igreja.

Quando os apóstolos chegaram ao consenso de que havia a necessidade premente de substituir Judas, não tiveram dúvidas, deixaram a cargo do próprio Deus, usando o expediente judaico de lançar sortes3. Que fique claro, tal ato praticado por Pedro e os demais nunca mais seria repetido. Ademais, o próprio Paulo nunca faria menção a essa prática.

Paulo advoga uma experiência pessoal e um chamado especifico, similar, ou mesmo superior àqueles que conviveram com Jesus. O que acontece com o doutor dos gentios é algo inédito na história do apostolado, pois para ser admitido no corpo apostólico haviam algumas prerrogativas imprescindíveis: Ter andado com Jesus e ser testemunha ocular de sua ressurreição4, algo que faltava a Paulo.

Quando compreendemos o não credenciamento Paulino ao apostolado por via humana, esclarece-se sua autoafirmação: “Não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum”.

Em Paulo fecha-se o ciclo apostólico como relatado no Novo Testamento. Embora possamos observar o vocábulo “apóstolo”, referindo-se a alguns companheiros mais tardios5, nunca porém, há uma citação dando a esses personagens a mesma importância e status dos chamados apóstolos de Jesus Cristo.

Algo que não deve passar despercebido, é que os apóstolos canônicos6 testemunharam a respeito de Paulo, e eles mesmos o acolheram no colegiado apostólico7. Logo, no sentido requerido por alguns: Apostolado similar ao dos apóstolos do Cordeiro, esse, não existe mais. Apóstolo hoje, e de uma forma mais ampla, é a Eclésia no seu labor evangelístico, e individualmente, os membros desse corpo que foram comissionados por Deus a levar a boa semente do evangelho.

Observando por esse prisma, não devemos acatar a ideia da autoproclamação apostólica de algumas mentes mórbidas, cuja única preocupação é receber os louros e o incensamento público, os quais, na verdade, não possuem direito e muito menos chancela bíblica ou histórica para isso, e mesmo que possuíssem qualquer prerrogativa que o indicasse, mais digno ainda seria o gesto de recusa de tal nominação, visto que todos os apóstolos do Cordeiro coroaram os seus serviços, ungidos pelo sangue do martírio saído das suas próprias veias.

Seriam tais “apóstolos”, apóstolos a esse ponto? Na carta aos Coríntios Paulo fala de como compreende a figura do enviado de Deus8. Ser apóstolo de Jesus cristo nunca foi nada glamoroso, ou algo que o mundo venha respeitar ou pôr como “cabeça”- como querem alguns incautos… E outros nem tanto assim! - Vejamos o que o próprio Paulo fala do seu apostolado canônico.

Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.
Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós desprezíveis. Até a presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; Quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos9.”

Quando abraça a chamada apostólica, Paulo entende que haverá bônus, porém, têm a clara compreensão de que o ônus, embora efêmero, é intenso, árduo, e profundamente doloroso. Mesmo assim, e sob os auspícios do Evangelho que cria, segue sua trajetória que findará em seu suplício e morte por decapitação10. Não sem antes, amargar o abandono e o desprezo da maioria dos seus seguidores11.

Paulus, apostolus Christi Iesu.

Wanderley nunes.

1 Na verdade, sinônimos que apontam para aqueles que foram chamados pela igreja, conselho, ou colegiado, para atuarem tendo um reconhecimento formal das funções já exercidas: Pastor (cuidador e protetor), presbítero (irmão mais velho, mais experiente), bispo (epíscopo, que observa o rebanho, supervisor). Todos os labores citados são comuns aos três: O pastor cuida, protege, é alguém mais experiente, observa o rebanho, tendo uma visão mais ampla devido a sua experiência. Isso do mesmo modo se aplica ao presbítero e ao bispo.

2 Tt.1. 5; At.11 .23

3 At.1. 26

4 At.1. 21-25

5 Rm. 16.7

6 Apóstolos canônicos - Aqui é no sentido de que foram reconhecidos desde o princípio como originais, únicos, e pedras fundamentais para a eclésia em todos os tempos.

7 Gl. 2.7-9; II Pe.3.15,16.

8 É o significado da palavra apóstolo

9 I Co. 4.9-13.

10 II Tm.4.6.

11 II Tm. 4.10; 4.16.

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