sábado, 28 de novembro de 2015

Os milagres e Is.53

A excessiva mistificação dos cultos modernos, sua ênfase em milagres, retrata claramente o nível precário de conhecimento Bíblico e histórico da grande massa de cristãos de todos os matizes.
A pregação que aponta para a histórica crença no porvir tem se perdido em meio ao discurso da satisfação imediata, do céu aqui na terra, perpassando de forma sutil a ideia de que a fé em Cristo leva a auferir lucros, a vida de quem crê é apresentada como transformada em um conto de fadas, e a terra em que vivem, em um paraíso edênico.
O insistente apelo ao sobrenatural e mistico, tem trazido um prejuízo muito grande a fé de muitos. Constantemente temos lidado com pessoas magoadas, feridas, decepcionadas com o evangelho que lhe foi apresentado e com o “seu deus”.
Um dos grandes sofismas apresentados por esse desevangelho é pregação da cura divina tendo como base o texto de Isaías 53.
Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse.
Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.
Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.
Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.
Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido.
A primeira avaliação a ser feita sobre esse texto, é que foi produzido em um meio judaico, sob uma cultura baseada na Torah, a qual denominamos comumente de pentateuco1. Pecar nesse âmbito era desobedecer a lei, consequentemente se receberia a pena devida.
O texto descreve alguém que viria sem o devido reconhecimento, quase que num ostracismo, para prover um escape com relação ao pecado, causa de todos os percalços de Israel sob a égide da lei.
Muito embora o versículo 4 diga que Ele levou sobre si as nossas enfermidades e dores (dos Judeus), é somente nessa parte do texto de Isaías 53 que a enfermidade e a dor aparecem sem estarem acompanhadas da sua causa (transgressão e iniquidade). No versículo seguinte há uma clara ligação do sacrifício do servo sofredor como pagamento da dívida do pecado de Israel.
Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados2.
Nesse versículo a ênfase é total sobre o pecado como motivo de todas as intempéries da nação Israelita, o servo sofredor aqui, sara do pecado. Parece uma interpretação inverossímil, mas vejamos o que o Novo Testamento nos diz sobre isso.
A interpretação de Pedro
Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos,
O qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca;
Pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente,
Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.
Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma.3
Pedro ao tratar do evento salvífico, nem sequer menciona a ideia de uma cura divina a ser recebida no momento em que alguém se rende a Cristo. Sua interpretação é: Nossos pecados foram carregados por Jesus, em Cristo fomos curados de todos eles.
Pedro que curou pessoas no nome de Jesus, não deu importância supra a cura física, não a pôs em suas cartas em pé de igualdade com a cura da alma. Ele sabia que vivia a fé no amanhã, sua esperança, ou melhor, certeza de esperança, estava no grande dia do Senhor, onde os mortos ressuscitarão, todas as doenças e dores terão ido embora, no cumprimento literal da profecia de Isaías 53.
Wanderley Nunes
1Os cinco primeiros livros da Bíblia Cristã. Que para os judeus contém a revelação da vontade de Deus e sua lei.
2Isaías 53.5
3I Pe.2.21-25

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Comentário de Gálatas 1.10 – Agradando a homens ou a Deus?

Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.

Paulo aqui se refere ao alvo da sua prédica: Falar da boa nova, tentar levar todo homem judeu ou gentio, ao evangelho. O intento Paulino era de fato cumprir esse propósito.

“…E toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”1.

“…Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”2.

“…Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério3.”

“…Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”4.

O dilema dos Gálatas

O grande entrave nesse momento é que os gálatas estavam sofrendo sérios ataques dos discípulos de Jerusalém, que buscavam desacreditar Paulo e seus ensinos. Tudo indica, que uma das acusações era que ele escoimava os galacianos das práticas da lei, com o intuito de facilitar a entrada deles na fé do Evangelho.

Paulo por sua vez, argumenta de modo incisivo que ao contrário do que se falava, ele seria a última pessoa que deveria ser acusada de transigir com o Evangelho de Cristo, visto que, antes de optar por seguir a Jesus, fora um dos maiores inimigos da Eclésia nascente.

Como bom fariseu, não aceitava de modo algum, a mínima comunhão entre evangelho e lei, pois a lei de Moisés fala de vida pelo cumprimento dos seus preceitos5, o Evangelho por outro lado, apresenta a vida eterna adquirida pela graça mediante a fé6. Logo, não há comunhão alguma entre lei e Evangelho, eles são antagônicos.

“Os irmãos” de Jerusalém, estavam tentando instruir os gálatas a entrarem no caminho do Evangelho pelas vias da lei, para Paulo, isso era inaceitável.

Se como judeu nunca aceitou isso, muito menos agora conhecendo a graça salvífica do Evangelho de Jesus Cristo.

Por esse motivo, ele argumenta, que se fora o seu propósito isentar-se e/ou até evitar o sofrimento, o vitupério de Cristo, sem dúvida teria continuado sendo um austero judeu, fariseu, guardador empedernido da lei Mosaica, o que lhe proporcionaria reconhecimento e status inerentes ao seu posto.

Quem de fato estava querendo se isentar do vitupério da cruz, e isentar os gálatas, não era Paulo, mas os de Jerusalém. Na mesma carta o apóstolo expõe o estratagema dos legalistas.

Eu, porém, irmãos, se ainda prego a circuncisão, por que continuo sendo perseguido? Logo, está desfeito o escândalo da cruz7“.

Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.

Pois nem mesmo aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei; antes, querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne”8.

Quem estava fazendo isso, Paulo ou “os irmãos” de Jerusalém? No Evangelho anunciado por Paulo, não havia espaço para glória e ostentação humanas, culto do ego, show gospel, encontros com Deus antecipadamente marcados, culto dos empresários, orações cujo o único intuito é se dar bem… Evangelho é cruz, é fé na obra absoluta de Deus, levada a cabo no Gólgota.

O Evangelho nos leva a vivermos por fé, esperando o porvir. Enfrentando os sucessos e fracassos que sem dúvida nos sobrevirão, porém, sempre com os olhos fitos no amanhã, no raiar do novo dia que trará novos céus e nova terra.

Se olharmos para a vida presente com o olhar futurista da fé, pouco ou nenhum espaço haverá para decepções com Deus, para um “evangelho mercadológico”, psicodélico, fruto de mentes paranoicas e megalomaníacas, cujo Deus é o “eu”, cuja efêmera glória serve somente para a confusão deles, pois só pensam nas coisas terrenas9. Evangelho é paz com Deus, paz consigo mesmo, paz que excede todo o entendimento e circunstâncias.

Wanderley Nunes

1II Co.10,5

2At.20.24

3Rm.11.13

4II Tm.4.7

5Lv.18.5

6Ef.2.8,9

7Gl.5.11

8Gl.6.12,13.

9Fp.3.19

terça-feira, 21 de julho de 2015

Comentário de Gálatas 1:8,9 - Além do Evangelho

Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.

Depois de afirmar que só há um Evangelho(V.7), e que descaracterizar a graça é subvertê-lo, adulterá-lo, Paulo reitera aos gálatas sua inexorável crença de que Evangelho, era aquele que havia anunciado a eles.
Lembremo-nos de que na carta aos Gálatas ele não fala de “verdadeiro Evangelho”; há para ele apenas “O Evangelho”, os demais são meras maquiagens, plágios baratos, verdadeiras aberrações.
O Evangelho anunciado pelo doutor dos gentios estava plenamente ancorado no Jesus ressuscitado, aquele que nasceu e viveu como cidadão judeu, mas ressurgiu como salvador do mundo. Nele as barreiras étnicas e culturais são vencidas em nome do bem maior: O amor desmedido de Deus.
As discussões religiosas e suas práticas, ainda que baseadas em boa vontade, nada dizem a respeito de Jesus, embora usem seu nome. A tomada de posição Paulina não se fundamentou em uma intriga de devotos, mas em sua percepção da transcendência do Jesus ressuscitado.
Enquanto o judaísmo estava envolto em sombras ritualísticas e exigências cultuais, o Jesus ressuscitado, apresentado por Paulo, era totalmente livre e descomprometido desses meandros, sendo ele a realidade e o alvo daquela didática. A lei foi dada para o judeu como serva do homem, a fim de conduzi-lo à fé no metafísico, no extracorpóreo.
Por isso, o mestre dos gentios afirma que mesmo se ele ou outro apóstolo – falando do âmbito terrestre - trouxesse uma mensagem diferente daquela já anunciada, fosse considerada anátema1. Mesmo que o mensageiro viesse do céu – supostamente do âmbito celeste - tal mensagem deveria ser rechaçada, posto que espúria ante a pregação definitiva da graça de Deus exposta de antemão por ele.

No versículo 8 a argumentação é tecida com relação a qualquer adição feita ao Evangelho, por isso o uso do “além”, significando Evangelho + obras da lei, ou qualquer tipo de ênfase ao mérito como justificador do homem com relação ao alcance da salvação e/ou os dons de Deus, os quais indubitavelmente transtornam o Evangelho de Cristo, transformando-o em um simulacro, em um arremedo do Evangelho. 

Por conseguinte, o versículo 9 apresenta o outro lado da moeda. A atenção aqui não é com relação ao que foi ensinado e sim no que fora “recebido” pelos gálatas. Tem muito líder religioso usando esses versículos para conduzirem pessoas cativas aos seus projetos megalômanos e avaros.

A fala Paulina ao contrário, percorre o caminho da graça de Deus, o que foi ensinado aos gálatas é que nada dependia deles no que concernia a salvação e aos dons de Deus, tudo era (e é) recebido pela graça mediante a fé em Cristo.

O que pode e deve ser aplicado aos nossos dias, é a exortação de Paulo a que permaneçamos ancorados na fé do filho de Deus; que a salvação por nossas próprias forças e esforços, simplesmente nos empurram para longe do Evangelho de Cristo, anatematizando a nossa fé, transformando em pseudo – evangelho, o que nos foi dado para vida.

Lancemos fora toda obra meritória, tudo o que porventura seja glória para nós diante de de Deus. Contentemo-nos em crer no ato salvífico de Jesus de Nazaré: Em sua vida, morte e ressurreição por nós. Nada há mais para se fazer.

Soli Deo gloria,

Wanderley Nunes

1 Palavra grega que significa ‘coisa exaltada’ dentro de um templo – por exemplo, como oferta de voto a um ídolo. (Assim, em Lc 21.5.) Na versão dos LXX o termo é aplicado aos animais que, oferecidos a Deus, deviam ser mortos (Lv 27.28, 29): daqui vem o sentido genérico ‘condenado’, amaldiçoado (Js 6.17 – 7.12). Com esta significação se encontra o termo grego em 1 Co 16.22 – Rm 9.3 – 1 Co 12.3 e Gl 1.8,9. Em At 23.14 está a palavra empregada no sentido de ‘maldição’.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Comentário de Gálatas 1. 6,7: Evangelho Pervertido

Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
Paulo está espantado com a volatilidade dos Gálatas; como mudaram de opinião tão rapidamente! O ser humano parece sempre inclinado ao mundo da fantasia, sobretudo, se tais devaneios o puserem, ainda que utopicamente, em uma posição privilegiada, segundo sua mente psicótica delirante, pois como bem diz o antigo provérbio popular: “De médico e louco, todo mundo tem um pouco”.
Admira-me que estejais passando tão depressa...”.
Parece ser tão mais fácil abandonar a fé simples, a fé no invisível, no abstrato, para apegar-se ao visível, ao tangível, ao palpável; onde o que fala mais alto são os sentidos. Parece mais fácil crer no que se pode fazer, do que crer no “já está feito” do Evangelho da graça de Deus.
Ao contrário do que se imagina, “o fazer” humano para a justificação, para sua aceitação diante de Deus, nada valem. Todo tipo de arrazoado, cujo fim é imputar justiça ao homem através de suas ações penitenciais, é antes de tudo, uma afronta a penitência única e substitutiva levada a cabo por Jesus de Nazaré.
Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, a mim mesmo me constituo transgressor […] Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão.1
Em outro lugar, quando Paulo fala sobre justificação pela fé, ele diz:
Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?
Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus. Pois que diz a Escritura?
Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.
E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras.2
...daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho...”.
Paulo acusa os gálatas de apostasia. Eles, que haviam aprendido que a salvação era gratuita, um dom de Deus, agora estavam tentando comprar com suas obras aquilo que já haviam recebido pela simples pregação do Evangelho. O apóstolo afirma que eles estavam abandonando o próprio Deus, e muito rápido! O que viviam agora, definitivamente não era o Evangelho.
.... o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo”.
Paulo corrige a própria fala quando diz que não há outro Evangelho. O que na verdade estava em curso, era uma tentativa desenfreada - daí a afirmação de que os gálatas estavam sendo perturbados pelos judaizantes - de perverter, de adulterar (é o significado mais correto aqui) o sentido do que seja Evangelho.
Estratagemas como esses, embora falem de Jesus, e supostamente façam chover sinais e milagres, de forma alguma deveriam ser chamados de Evangelho. Algo assim, é por si só, um acinte ao Evangelho de Jesus Cristo.
Wanderley Nunes.
1Gl.2.18 e 21
2Rm.4.1-6.
















quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Comentário de Gálatas 1.4,5: Segundo a vontade de Deus

O qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja glória pelos séculos dos séculos. Amém!

“O qual se entregou” (tomou nosso lugar). Paulo aponta para a graça revelada em Cristo morrer por nós. Jesus se entregou pelos nossos pecados. Não é salutar para quem quer que seja, desprezar a substituição efetivada por Cristo, de perdido pecador, o homem torna-se salvo e isento de toda culpa pelos méritos de Cristo.

Qualquer tentativa de buscar o favor de Deus através da sua própria indústria, redunda em uma negação, ainda que inconsciente, do demérito humano, pondo Cristo, sua vida, morte e ressurreição, como insuficientes para a justificação do pecador, constituindo-se tal ato, por si só, em uma afronta ao Evangelho da graça de Deus.

Foi contra essa subversão do Evangelho que Paulo se ergueu. Os Gálatas estavam agora tentando alcançar o favor de Deus depositando suas esperanças nos elementos tangíveis e transitórios, os quais os judaizantes inculcava-lhes, desprezando assim os ensinos libertadores do apóstolo dos gentios.

Hoje, quando observamos tudo o que a grande mídia propaga como Evangelho, não podemos fazer vista grossa às explícitas recomendações contidas na carta Galaciana, de modo a rejeitar os rudimentos do mundo: Dias de guarda, vigílias, jejuns, sacrifícios financeiros…

“Para nos desarraigar deste mundo perverso”, a versão Revista e corrigida diz: “Para nos livrar do presente século mau””. A ideia de Paulo é de querer demonstrar a efemeridade do mundo em que vivemos, por si só, a fraqueza do presente século deveria ser entendida como algo malévolo. Cristo morreu para arrancar o homem de tudo o que possa lhe prender a coisas passageiras em detrimento das eternas.

O pensamento Paulino não é demonizar a vida presente, todavia, patentear para sua audiência a inconsistência e vacuidade de uma vida cujo alvo consiste em viver como se o objetivo não fosse o eterno, ou como se o eterno nunca fosse chegar. É nesse mesmo sentido sua fala dirigida aos coríntios.

O tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem; mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa (I Co.7.29 -31).

Pensar ou desejar uma vida dependente de Deus de forma apenas horizontalizada, é sintetizar o Evangelho de modo a descaracterizá-lo do transcendente, é erguer um ídolo cuja consistência é o pó que só alimenta a serpente.

“Segundo a vontade do nosso Deus e pai”. Sendo a vontade de Deus o desapegarmos cada vez mais da atual dimensão, posto que, se assim não fora, absorveríamos as volubilidades da vida como consequência do nosso envolvimento e paixão com o fugaz presente século.

Em lugar de produzir uma frustração mórbida, tal contexto deveria despertar em nós o anseio de viver uma vida intensamente e em toda a plenitude, todavia, com a certeza que toda essa completude e intensidade sempre será absorvida pelo eterno. A vontade de Deus, é que vivamos o hoje com os olhos e o coração no amanhã.

“A quem seja glória pelos séculos dos séculos. Amém!” Esse é o alvo do Evangelho e de todo aquele que nele crê: A Glória de Deus. Se há grupos que vivem um pseudoevangelho, voltado e devotado exclusivamente para seus interesses meramente materialistas, conclui-se então que o reino deles é terreno, o deus deles é o seu ventre, e sua glória constitui-se apenas em uma quimera.

“si in hac vita tantum in Christo sperantes sumus miserabiliores sumus omnibus hominibus” ( I Co.15.19).

Wanderley Nunes.