quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Provérbios 1.20-23. E vos farei saber as minhas palavras.


Comentário de Provérbios

Provérbios 1.20-23. E vos farei saber as minhas palavras.

20 Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz;
21 do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras:
22 Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?
23 Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.


20 Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz,

A sabedoria nesse texto se mostra personificada; qual seria a razão disso? Um bom motivo é que assim sendo, pode ser usufruída por uma pessoa, um grupo, uma nação, sem no entanto, ninguém ter direitos exclusivos sobre ela. Mesmo sendo de benefício para muitos, ninguém há que possa arrogar-se como seu dono, ou detentor único.

21 do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras:
22 Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?

“Do alto dos muros” - a septuaginta diz “”- dando uma indicação de que deseja ser ouvida, quer chamar atenção, por isso vai “à entrada das portas da cidade”, a sabedoria aqui parece estar personificada nos profetas, nos rabinos, nos sacerdotes, nos mais velhos e em todos que possuem experiência de vida e conhecimento da lei.

É bom perceber que a sabedoria no âmbito israelita, não é algo que “surge do nada”, ou “coisa” que se obtêm na vacuidade da vida, ela vem de pessoas que receberam do seu sopro.

Quando interroga os néscios – a bíblia de Jerusalém usa o termo “ingênuos”, a NVI  chama-os de “inexperientes”- seja como for: Néscios, ingênuos ou inexperientes, o grande problema é que amam o estado em que se encontram, possuem uma visão distorcida da realidade. Quem assim procede acredita piamente que néscio são os outros.

O escarnecedor ou zombador no pensamento judaico é o que não faz caso da vida reta, não se importa com da lei, por isso não vê problema em burlá-la e desrespeitá-la. O terceiro tipo é chamado de louco, a NVI traduz como “tolo”. Loucos, tolos, insensatos, estultos… Há diversas palavras para nominar o tipo que não dá ouvidos a sabedoria, não deseja se desenvolver como pessoa, ser alguém melhor, no caso do pensamento israelita, tornar-se um “piedoso servo do Senhor.”

23 Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.

Esse versículo tem sido objeto de grande abuso interpretativo e de uma mística e fanática aplicação.

É necessário todavia, analisar de modo criterioso todo o contexto. Primeiro, reiterando o que já foi observado, se pode notar que a sabedoria é personificada, ou seja, parece ter vida própria, entretanto, o que de fato acontece, é que o saber, ou a sabedoria adquirida, é considerada assaz importante em Israel. Ela não significa conhecimento “intelectual”, um grande exemplo disso é Salomão.

Se gastou “muita tinta” para dizer que Salomão foi o homem mais sábio que já existiu, por essa ótica se afirma ter ele sido o mais intelectual, mais inteligente, porém não é esse o significado de “sábio” no pensamento do Israel antigo. O rei de Israel não era um intelectual do quilate de um Leonardo da Vinci, de um Isaac Newton, ou de um Albert Einstein.

Sábio na perspectiva veterotestamentária, era quem compreendia a lei, era portador de bons conselhos, sabia dirigir sua família, e no caso dos reis, sua nação. Sintetizando: Sábio era aquele que detinha o conhecimento do “caminho do Senhor” e o ensinava com excelência, pois, possuindo ética e moral, conforme rezava a lei, havia a promessa do desfrute da benção.

Quando a “sabedoria” depreca para alguém lhe dar ouvidos, a seguir explicita “a benção” que logrará  aquele que lhe prestar obediência e honra : Desfrutará dos seus ensinos e consequentemente do fruto deles. Logo, como se pode ver, não há nada de místico  no versículo 23 como tem sido  “ensinado” para  a igreja cristã  através dos séculos.

Em vista de tudo o que já foi apresentado, o versículo 23 poderia receber sem dificuldade alguma a seguinte tradução: Se vocês me ouvirem (no sentido de obediência), aprenderão de mim e me conhecerão (aprender a ser sábio segundo a lei).

Corroborando isso, segue duas traduções do versículo 23.

Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos. (NVI)

Convertei-vos às minhas admoestações, espalharei sobre vós o meu espírito, ensinar-vos-ei minhas palavras. (versão católica – pt )



Wanderley Nunes

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