sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TEXTOS MAL INTERPRETADOS

A PALAVRA DE DEUS SE RENOVA? ( HERMENÊUTICA)

“A palavra de Deus se renova a cada manhã”. Onde está escrito isso na Bíblia? Em lugar algum. As escrituras afirmam que é o entendimento do homem é que se renova : “ E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm.12.2). A palavra de Deus é eterna : “seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente.”(Is.40.8); O apóstolo Pedro também faz a mesma afirmação (I Pe. I.25).



A palavra é intrínseca ao próprio Deus e como ele, é eterna. Não há nela variação, mudança. Nada lhe falta, como também nada nela precisa melhorar ou ser aperfeiçoado. A palavra como imanência do Divino é responsável pela criação do mundo; revelou-se inefavelmente em Jesus Cristo( Deus feito homem) e por fim, se deixou registrar nas páginas das Escrituras como sua vontade revelada ao homem que crê.

Então o que as escrituras dizem que se renovam cada manhã? O profeta Jeremias responde : “ As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.” (Lm.3.22,23).

Nesse texto, Deus como sempre está tratando com um povo rebelde que se desvia constantemente da sua palavra ( vontade registrada); sabe-se que o salário do pecado é a morte, é então que surgem as misericórdias de Deus que se renovam ou seja, O Senhor perdoa o pecado e não castiga o infrator, é nesse sentido que suas misericórdias se renovam a cada manhã. E agora, o seu entendimento foi renovado com relação a palavra eterna de Deus?

MATEUS 6. 33 DIZ QUE TUDO SERÁ ACRESCENTADO?

Como você profere “ buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas […] vos serão acrescentadas”. Se você completou a frase com “ todas as coisas”, simplesmente distorceu a palavra de Deus. Mas não fique triste, você não está só nessa viagem, milhões ao redor do mundo lhe fazem companhia nessa equivocada interpretação. Então qual a interpretação correta? Sobre o que o texto se refere?

Para que possa haver uma perfeita interpretação, se faz necessário também uma perfeita contextualização. Em se tratando desse texto, é preciso observar que ele faz parte do Sermão do monte, o qual se inicia em Mateus 5.1, terminando em 7.28 : “ Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina.”

sabe-se claramente que o discurso foi prioritariamente dirigido aos discípulos( os doze), e aqueles que eram candidatos a discípulos: “ Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos;e ele passou a ensiná-los.” (Mt.5.1).

Depois de dar várias instruções práticas, Jesus passa ( vers.19) a falar sobre a preocupação natural do homem em acumular tesouros (bens) na terra, e termina essa perícope afirmando que o coração do homem está sempre ligado aquilo que lhe é mais precioso( vers. 21.

No versículo 24 O Senhor é enfático no que concerne a primazia de Deus na vida dos seus discípulos: “ Não podeis servir a Deus e as riquezas.”


COMER, BEBER E VESTIR.

No versículo 25 há uma clara correlação com o verso anterior: “Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. É pertinente se observar o uso do “por isso” e então perguntar : por isso o que? O versículo 24 responde : por não poder servir a Deus e as riquezas.

Logo a ênfase de Jesus recai a partir daí sobre : O comer, o beber e o vestir. Necessidades básicas, que no pensamento de Jesus não devem de modo algum se tornarem senhores do homem, fazendo-o viver em função disso. No versículo 28 sem sair do assunto, é falado sobre a ansiedade com relação ao vestuário, para em seguida, verso 31 reafirmar o contexto : “ Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos?

Jesus explica ainda que viver só para o próprio deleite físico: comer , beber e vestir; são alvos meramente gentílicos ou seja, de quem não serve a Deus.: “Porque os gentios é que procuram todas estas coisas”. Quais são todas estas coisas? Comer, beber e vestir E termina o versículo 32 dizendo : “ pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas”. Do que é que o Pai celestial sabe que os homens necessitam basicamente? Comer, beber e vestir.


O QUE SÃO “ TODAS ESTAS COISAS”?

,
“Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” É importante a observação de que não é dito jamais “ todas as coisas”, mas sim estas coisas, referindo-se a tudo o que foi falado anteriormente as quais são : comer, beber e vestir.

Em nenhum lugar desse texto é afirmado que Deus está comprometido em dar riquezas e prosperidade a alguém por essa pessoa ter feito a sua vontade, ao contrário, Jesus está conclamando a que os seus discípulos tenham desprendimento no que se relaciona as coisas materiais, mesmo as mais básicas, pois ainda que o homem faça tudo o que o seu Senhor ordena, ainda assim ele não tem nenhum mérito, nenhum merecimento diante de Deus.

“ Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lc.17.10). O Senhor continue iluminando seu povo.
Pr. Wanderley Nunes.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Há a possibilidade do salvo ter seu nome riscado do livro da vida?



Deve-se reconhecer humildemente que a questão ora apresentada é deveras complexa, suscitando debates e controvérsias os quais remontam ao alvorecer do Cristianismo. Há de se observar, no entanto, que Deus é soberano e essa soberania repousa sobre a tríade basilar dos seus atributos: Onipotência, onipresença e onisciência. Sem qualquer uma dessas atribuições inerentemente Divinas esse excelso ser não poderia ser nominado como tal.
Poderia O Todo-Poderoso riscar o nome do salvo do livro da vida? O que dizem então as escrituras tanto do Antigo como do Novo Testamento sobre esse tema? Para tentar responder a indagações como essas, se faz necessário a compreensão epistemológica dos atributos de Deus: soberania e onisciência. É pertinente também, a observação do pensamento teológico no que diz respeito à salvação e ao juízo Divino para o povo Israelita da Antiga Aliança. Outro fator importante, é a busca da contextualização dos episódios Bíblicos os quais supostamente apontam a existência dessa possibilidade.

A soberania de Deus
A soberania de Deus é por vezes objeto de acaloradas discussões, quando deveria ser alvo de um reverente estudo e de piedosos debates. Simplesmente trazer à baila essa doutrina hoje parece estranho aos Cristãos de quase todos os credos e matizes teológicas. Talvez alguns sentiriam-se diminuídos e coisificados se viessem de algum modo aventar a possibilidade da crença em um ensino como esse, ou pelo menos sua possibilidade.
Sabe-se, todavia, que as coisas de Deus se discernem espiritualmente e por intervenção Divina[1]. Refletir sobre a soberania de Deus deve levar à elucubrações de cunho espiritual, já que pressupostamente uma reflexão teologicamente sadia não deve jamais prescindir da disposição de deixar que o Deus revelado na Bíblia seja o Deus do Cristão do século XXI.
O homem tem em si, desde o principio, o desejo de liberdade, leia-se liberdade no sentido de não reconhecer nem uma espécie de autoridade que lhe seja superior, nem uma força maior que lhe leve e o direcione por caminhos pelos quais, independente dessa vontade maior, jamais percorreria. Ainda assim, quando as contingências da vida lançam por terra sua ilusão quimérica de auto sustentação e independência, então ele se dobra às forças contingentes que não reconhecia até então. Surgem aí as frases e os ditos populares: “Está nas mãos de Deus”, “Deus sabe o que faz, agente não sabe o que diz”, “Ele é Senhor (soberano), sabe o que faz”, “Nada acontece por acaso”, “Essa foi a vontade de Deus”, “Foi Deus que quis assim”.....
Desse modo o homem se rende as contingências pela soberania, mas não reconhece a soberania pelas contingências. O máximo que se tem chegado sobre o alcance da soberania Divina, sendo um piedoso Cristão, é o reconhecimento da total dependência de Deus. O próprio Calvino observou com muita perspicácia esse fenômeno: “Mesmo os santos precisam sentir-se ameaçados por um total colapso das forças humanas, a fim de aprenderem, de suas próprias fraquezas, a depender inteira e unicamente de Deus”[2].
  1. A crença de que Deus é soberano deveria trazer consolo para os Cristãos. Berkhof[3] com muita propriedade fala que a soberania Divina é expressa não somente na sua vontade, mas de igual modo em sua onipotência. Entretanto, é salutar notar que mesmo tendo Deus o poder absoluto, está ao mesmo tempo compromissado com os seus demais atributos, os quais ele próprio deliberou e sancionou na eternidade, tais como: Justiça e santidade. Ele não é arbitrário, nem incoerente consigo mesmo. Assim sendo, existem coisas as quais são impossíveis ao seu próprio ser, como: não poder pecar, mentir, mudar ou negar a si próprio[4].
A soberania de Deus é de alcance universal, absoluta e imutável. Ela é universal, pois compreende o mundo todo, estendendo-se a todas as coisas criadas animadas ou inanimadas, desde o ser vivo mais ínfimo até ao mais portentoso e complexo[5]. É absoluta, pois nada ou ninguém pode impedir o seu querer ou os seus propósitos, já que os mesmos foram decretados na eternidade e levados a efeito no tempo. No que diz a alguns fatos mencionados nas Escrituras, sabe-se que muitos deles ocorreram por meio da intervenção direta de Deus, podendo-se citar: a eleição, a criação, a encarnação do Logos..... . Outros se realizaram no tempo e espaço tendo como agente causal o homem, exemplo: O decreto fez com que Cristo fosse crucificado, entretanto isto não significa obrigatoriamente que alguém especificamente tomasse essa atitude, ninguém de forma deliberada foi forçado a isso. No episódio da morte de Cristo, aqueles que o crucificaram estavam dando vazão pura e simplesmente aos seus sentimentos vis a respeito de Jesus: “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos[6]”; cumpriram dessa forma o decreto e propósito de Deus. Não tendo percepção espiritual, crucificaram o Senhor da glória.[7]

A onipotência de Deus
A palavra onipotência fala do ser que é Todo-Poderoso em si mesmo, não estando circunscrito a um determinado tempo ou lugar, não havendo nada ou ninguém que o limite ou restrinja. Advém da junção de dois vocábulos do latim “omnis” e “potentia” e significam “todo poder”. Este atributo aplicado a Deus mostra que Seu poder é ilimitado; a onipotência de Deus é aquele atributo pelo qual Ele pode levar a efeito qualquer coisa que deseje.
“Bem sei que tudo podes”; “Acaso para Deus há cousa demasiadamente difícil?”[8] Mesmo as ações satânicas estão limitadas por Deus. Na Nova aliança o maligno não pode tocar nos filhos de Deus[9], aqueles que foram selados com o Espírito Santo[10]; já que no Novo Concerto a Igreja como um todo é morada de Deus[11], bem como individualmente todos os crentes são Santuário do Altíssimo[12].
Logo, Deus é a fonte e a emanação de todo poder nos céus e na terra. Davi ao ofertar para a construção do templo reconheceu o domínio do Senhor: “Porque quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos oferecer voluntariamente coisas semelhantes? Porque tudo vem de ti, e do que é teu to damos”.[13] Noutro lugar tal fato é ressaltado: “E riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo.”[14]
A crença na onipotência de Deus deve trazer um grande suporte para a vida de todo Cristão piedoso, pois a confiança daquele que tem o Deus da Bíblia como Senhor deve descansar na premissa de que mesmo os poderes e autoridades deste século estão sujeitos às orientações e desígnios Divinos[15], mesmo que aparentemente pareçam deter um poder grandioso, ainda assim estão submissos mesmo com desconhecimento de causa, a um poder infinitamente maior, a cuja vista nada lhe escapa, nada foge ao seu controle[16].
A ação da onipotência e soberania de Deus se observam também nas contingências da vida, quando surgem enfermidades, acidentes e problemas dos mais diversos. São nessas ocasiões que o Todo Poderoso impinge sobre o homem a sua onipotência e soberania, e por outro lado o cristão tem a oportunidade de reconhecê-la.
Mesmo quando Deus frustra os desejos humanos ou não corresponde aos seus interesses, é porque está agindo conforme os seus propósitos eternos, os quais são e serão sempre maiores do que o pequeno e limitado conhecimento do homem a cerca da sua vontade: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR...” Paulo por sua vez escreve: “Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós[17]. Assim deve-se reconhecer que Deus sempre fará o que lhe apraz, bem como permitirá que aconteça o que convém ao seu propósito maior[18].

A ideia de salvação no Antigo Testamento
Nas escrituras veterotestamentárias, a ideia de salvação como seria mais tarde manifestada no Novo Testamento não existia, e isso é fato como taxativamente menciona Eichrodt: “[...] Está claro que a única coisa que se tem consciência é a existência terrena e natural de Israel, sem levar em conta uma consumação da história” [19]. É preponderante a observação tanto da teologia da salvação, quanto do próprio significado deste vocábulo para o fiel do Antigo Testamento.
A palavra “Sotria” provém de um radical que significa conservar são e salvo, preservar, não matar, perdoar, curar. Assim, a palavra traz o significado de salvação, conservação, segurança. Tanto poderia designar o estado da salvação, como o meio para adquirir esta salvação. Enfim, qualquer meio para o sentimento de bem-estar da pessoa[20].
Na Septuaginta ela aparece 155 vezes, mostrando toda a gama de significados que pode adquirir. Pode indicar uma simples segurança[21], a libertação do jugo inimigo[22], em última instância algo proporcionado somente por Deus[23]. Ela é mais abundante nos Salmos (34 vezes) e Isaías (15 vezes).
O verbo “Sozo”, juntamente com seus cognatos traduz na Septuaginta vários termos hebraicos:
·significando “salvar” como quem toma à força um despojo de guerra;
·Salvação no sentido mais amplo. É a salvação total e por completo, sempre ligada ao conceito meramente físico da acepção do termo, sendo mais abundante nos Salmos (76 vezes) e em Isaías (34 vezes);
· Salvação no sentido de proporcionar a fuga de um prisioneiro, em especial quando há risco de morte[24];
· Salvação no sentido de arrebatamento de algum perigo, como um feito heróico[25];
· Salvação como uma expressão quase que exclusiva de Salmos (das 27 vezes na qual aparece no Antigo Testamento, somente 19 estão nos Salmos).– a ênfase é no pedido a Deus para o livramento de todas as situações.
Porém, para o substantivo traduzido por salvação no hebraico somente a raiz é utilizada. Assim, tem-se “salvação” com diferentes acepções, sempre ligada a salvação meramente corpórea. “Sotria” também é traduzida como “paz”.[26] Pode-se dizer que a ideia teológica de salvação como demonstrado no Novo Testamento não é sequer mencionada nos escritos veterotestamentários, com exceção dos Salmos e Isaías, ainda que de forma velada.
Qual seria o motivo? Os textos sagrados do Antigo Pacto foram redigidos sob a ótica das Alianças: Abraâmica, Davídica, Mosaica... Os quais falam prioritariamente de um povo, de uma terra e de uma nação[27]. Conclui-se então, que a ideia de salvação no Antigo Testamento é basicamente secular, terrena e materialista.
Além de acrescentarem à teologia Judaica a interpretação do conceito soteriológico de que só o Senhor salva[28], os livros de Salmos e Isaías procuram, outrossim, dogmatizar a crença de que só o Altíssimo é verdadeiramente monarca: “Eu sou o SENHOR, e fora de mim não Salvador”[29]  “A salvação vem do SENHOR; sobre o teu povo seja a tua bênção”[30].
“O SENHOR se assentou sobre o dilúvio; o SENHOR se assenta como Rei, perpetuamente”[31]. Noutro lugar: “O SENHOR reinará eternamente; o teu Deus, ó Sião, de geração em geração”[32].
“Naquele dia, se dirá: Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos salvará; este é o SENHOR, a quem aguardávamos; na sua salvação exultaremos e nos alegraremos”[33]. O clamor profético é ouvido: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!
Depois de se analisar o termo “salvação” e observando que o plano salvífico é progressivo, assim como o é toda revelação Escriturística, respeitando sempre a cosmovisão, fatores ideológicos e filosóficos dos escritores inspirados, como também dos receptores primários aos quais as mensagens foram dirigidas, parece claro que o fiel do Antigo concerto possuía olhos tão somente para as promessas pactuais da Aliança, que lhe prometia uma vida de regozijo, saúde, prosperidade e segurança[34], tendo como base a obediência ao pacto e a presença do Deus dos Israelitas, o único todo- suficiente para seu povo[35].
Os escritos veterotestamentários, ainda que de forma tímida e inexata, apontam para a iminente necessidade de um novo tempo e uma nova Jerusalém. Salvação nesse ideário parece significar vitória e libertação sobre aquilo que embaraça e impede o perfeito usufruto das benesses da aliança, que conforme essa visão são nominadas como maldições: Reveses e prejuízos na cidade e no campo; perda dos animais, desgosto concernente aos próprios filhos; peste, seca, derrota ante o inimigo[36]...
Pode-se deduzir mediante as provas bíblicas já citadas, a inexistência de um julgamento e uma recompensa para alma na teologia do Antigo pacto: O julgamento nesse prisma é aqui, a recompensa também; observa-se uma teologia claramente retributiva; onde a benção e a vitória estão estreitamente ligadas à fidelidade ao pacto; Salvação é uma vida em consonância com o pacto; a morte ao contrário, é derrota e símbolo da desobediência pactual[37].

De qual livro Moisés pediu para ter o nome riscado?
É de suma importância a observação de que o conceito de salvação como é visto no Novo Testamento, era desconhecido ao povo da Antiga aliança. Se a ideia de alma, julgamento e castigo eterno não existiam, fica então a pergunta: De qual livro Moisés pediu para ter o nome riscado? Convém também admitir, que muitos dos que escrevem e pregam as Escrituras esquecem ou desconhecem, que deve haver cuidado para não fazer do seu pensamento o pensamento do escritor bíblico; da sua ideologia a ideologia dos profetas, usando para isso as lentes de sua visão do mundo, renunciando ao respeito que se deve ao escriba sagrado, ao tempo e à cultura em que viveu, e sobretudo ao Deus que o inspirou.
Outrossim, é salutar o esclarecimento de que há muitas teologias na Bíblia, porém cabe aqui reduzi-las, para o alcance até mesmo daquele que é leigo no assunto. De forma básica, há duas teologias, as quais englobam todas as outras: Teologia do Antigo Testamento e Teologia do Novo Testamento.
O episódio no qual Moisés pede para ter o seu nome riscado do livro encontra-se no Antigo Testamento, debaixo de uma teologia ainda muito limitada se comparada com a do Novo Concerto. Sem visão do céu, da encarnação do Verbo de Deus, de uma Nova Aliança e uma nova Jerusalém vinda diretamente do trono da Majestade Divina. A visão e o alvo Mosaico eram totalmente físicos e temporais. Conforme esse prisma pode-se apreender o que Moisés e os escritores veterotestamentários mais próximos dele tem a dizer sobre o livro de Deus.
O próprio Moisés faz apenas uma única menção no pentateuco semelhante aquela registrada em Êxodo: “O SENHOR não lhe quererá perdoar; antes, fumegará a ira do SENHOR e o seu zelo sobre tal homem, e toda maldição escrita neste livro jazerá sobre ele; e o SENHOR lhe apagará o nome de debaixo do céu”[38].
É importante notar que no citado texto, “apagar” o nome não tem ligação nenhuma com salvação eterna, já que o contexto fala claramente de julgamento temporal. Ter o nome apagado, refere-se à morte e a impossibilidade de deixar uma descendência que o perpetue. É ser relegado ao esquecimento como se nunca houvera existido.[39]
Outro texto que merece atenção se encontra nos Salmos: “Sejam riscados do livro dos vivos e não tenham registro com os justos”[40]. Outra vez a ênfase é na justiça retributiva e temporal: que a indignação do altíssimo seja derramada sobre os seus perseguidores; que sua morada fique deserta, pois perseguem aquele que já foi punido por Deus; que suas iniquidades sejam somadas a fim de não obterem perdão. E finalmente, o salmista deseja que os nomes dos que o perseguem sejam riscados do livro dos “vivos”[41].
Pode-se citar ainda outra passagem dos Salmos em que a ênfase é dirigida a pré-conhecimento Divino com relação a vida física do homem: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda”[42].
Com a nítida visão do pensamento veterotestamentário no que se relaciona a uma vida meramente terrena, é que se consegue depreender o exarado em Êxodo: “Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste”[43]. A intenção de Moisés, segundo essa visão teológica, não era jamais pedir para perder a salvação, pois não havia nesse período conhecimento de que existisse uma. Era sim, o pedido de um homem que desejava salvar o seu povo da morte iminente; para isso estava disposto a renunciar a própria existência física, não tendo mais o direito de preservar o nome através da sua descendência, nem levar adiante a grande tarefa para qual fora comissionado, pois a partir daquele momento seria como se nunca houvera existido.

Considerações finais
Há de se observar a importância de uma abordagem como essa, onde se empreende uma investigação séria pela realidade dos fatos, a começar pela busca do entendimento da soberania e onipotência Divina, os quais por si só demonstram que Deus realiza todo o conselho da sua vontade, sendo Todo-Poderoso para de forma cabal levá-la a efeito. Se porventura, há temor e tremor naquele que perscruta as Sagradas letras, a análise do termo “salvação” conforme abordado aqui é de muita valia, pois de forma cristalina e inexorável deixa aclarado que esse termo, no ideário veterotestamentário, carece da luz mais tarde revelada no Novo Concerto.
Por fim, cai por terra de forma inequívoca, o pensamento de que o livro do qual Moisés pede para ser riscado, acaso o povo fosse destruído, era o livro da vida relatado no Novo Testamento, já que era algo totalmente estranho ao pensamento e fé do grande profeta. Para ele, ter o nome riscado do livro era perder a vida física, a entrada na terra da promissão e as suas prerrogativas de grande profeta de Israel. Era tão somente, uma atitude sacrificial e heróica de um homem que amava o seu povo e confiava na misericórdia do seu Deus.
Wanderley Nunes.
.



[1]               I Co.2.14; Mt.11.25.
[2]               Calvino, Joâo, Exposição de II Coríntios, p. 22.
[3]             Berkhof, Louis, teologia sistemática, p.76,77
[4] I Sm 15.29; Hb.6.18; Nm.23.19; Ml. 3.6;Tg.1.13,17. II Tm.2.13.
[5] Sl. 103.19; Dn.4.17; Mt. 10.29-31.
[6] At. 2.23.
[7] I Co.2.8
[8] Jó. 42.2; Gn.18.14.
[9] I Jo.5.18.
[10] Ef.1. 13; Ef. 4.30.
[11] I Co.3.16.
[12] I Co.6.19.
[13]  I Cr.29.14
[14]  I Cr.29.12.
[15] Rm.13.1; I Pe.3.22.
[16] Is. 31.1-3. Ao longo da história pode-se observar reinos e ditadores que se levantaram, porém de modo inesperado e surpreendente foram á bancarrota, demonstrando claramente que homem nenhum tem poder em si mesmo.
[17]  Is.55.8,9.; Ef.3.20.
[18]  Rm.8.28.
[19]  Eichrodt, Walther, Teologia do Antigo Testamento, p 429.
[20]  Nessa abordagem exegética salientamos o nosso débito, bem como nossa gratidão ao excelente trabalho registrado no site: http://doaldofb.sites.uol.com.br
[21]  Gn.26.31
[22]  Jz.15.18
[23]  Gn.49.18
[24]  I Sm. 19.11
[25]  Ex. 2.19
[26]  Gn.26.31
[27]  Gn.12.1-3;Ex.19.3;Ex 40.38;II Sm.7.5-17.
[28]  Aqui no sentido  de livramento físico mesmo, não mencionando nenhuma ação concernente ao céu ou a vida espiritual .
[29] Is.43.11.
[30] Sl.3.8
[31] Sl.29.10
[32] Sl.146.10
[33] Is.25.9
[34] Dt.28.1-14
[35] Nm.23.21
[36] Dt.28.15-68
[37] Dt.24.16; Dt.30.19,20
[38]  Dt.29.20. É pertinente observar todo o contexto, sobretudo a partir do versículo 9.
[39] II Rs. 14.27; Sl.41.5; Sl.83.4
[40] Sl.69.28.  Se for admitida a autoria Mosaica do Salmo 90 (1430 a.C, aproximadamente), esse livro foi composto num período de 1000 anos. Outros autores remetem os Salmos à diversas épocas : Davi (1020-970), Salomão ( 970-931), também são citados os filhos de Asafe e de Coré, supostamente antes do exílio, bem como a época dos “homens de Ezequias”, que cobre um período de cerca de 700 a.C. E. Ellisen,Stanley, Conheça melhor O Antigo Testamento, p.161.
      Vê-se aqui certa proximidade de tempo, entre os Salmos e Deuteronômio ( cerca de 1405 a.C) que sabe-se, influencia em muito a teologia de cada época. Outro fator a ser analisado é a teologia retributiva, encontrada nos Salmos, muito semelhante aquela encontrada em Deuteronômio.
[41]  Sl.69.24-28. A tradução “livro dos vivos”, parece ser a mais correta para  o vocábulo  usado na septuaginta:  “Biblos zoeton” , já que  diz  respeito a destruição puramente física, além de ser essa a ideia  original do texto.
[42]  Sl.139.16.
[43]  Ex.32.32.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Á destra de Deus


“Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus”. At.7.55,56.


Certamente esse é um dos textos mais usados para fortalecer a ideia trinitariana. Para que se compreenda com clareza um texto bíblico, se faz necessário a observação de algumas regras de interpretação: Época, cultura, quem escreveu? Para quem primeiramente foi endereçado tal escrito?O que motivou o escrito?1 Partindo dessa premissa, é importante que se observe qual o significado do termo destra.

No texto Lucano2 quando se fala de destra ou direita, o vocábulo usado é “dexiôn” que é uma variação do termo “doxan” que significa “glória”, ambos na sua gramática original podem significar: honra, esplendor, senhorio, majestade, e claro, glória3 . Logo o referido texto poderia ser traduzido mais próximo ao original da seguinte maneira: “ Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus, e Jesus que estava em glória e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, na glória de Deus.

 
Essa disposição textual aclara mais fielmente tanto a ideia de Estevão como judeu, quanto a ideia de Lucas sendo gentio, ambos estavam em seus relatos dando enfase ao messianismo de Jesus, que por conseguinte, apontava para o fato do Messias ser O Deus dos judeus (o único Deus) feito carne. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” (Is. 9.6).


Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus. (At. 7.55,56)


É importante que se note que o texto não diz que Estevão viu uma dualidade de pessoas, ele não viu “Deus” e “Jesus” mas sim, a glória de Deus, já que a Bíblia diz que Deus nunca foi visto por homem algum I Jo. 1.18. E noutro lugar : “o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém!” I Tm.6.16.


As Escrituras afirmam de forma incisiva que Deus só pode ser visto de forma perfeita e compreensível na sua encarnação: “[...] nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser.” Hb.1.3.

De modo lógico, vendo Estevão a glória de Deus e sendo ela emanada do próprio Jesus, deduze-se que o que Estevam viu foi O Senhor Jesus em toda sua glória Divinal, agora não mais o cordeiro do sacrifício, mas o leão do julgamento, Ap.5.5; não mais como homem e sim como Deus.

A Destra explicada.

“O qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes.” I Pe 3.22. O texto de Pedro fortalece a ideia de Jesus como o Deus dos Judeus que se fez homem. O apóstolo como bom judeu era unicista, e sabia claramente que unir Jesus a Dividade era pô-lo como o representante humano dela. Afirmar nesse contexto que Jesus está a "destra" significava afirmar que Jesus tinha todo o poder e autoridade de Deus, por conseguinte ele era Deus, pois na teologia judaica não há lugar para um outro que não o Deus dos Israelitas: “Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus.” Is. 44.6. “Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim.” Is.46.9.

Há ainda uma afirmação Bíblica que ratifica a ideia da destra como o símbolo do poder Divino: "Viu que não havia ajudador algum e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve." Is. 59.16 Parece, portanto, que a discrição de Jesus à direita de Deus significa que Jesus é o poder salvador de Deus. Esse conceito está de acordo com a associação da posição de Jesus à direita de Deus e seu papel mediador, particularmente sua obra como intercessor dos homens e sumo sacerdote Rm. 8.34; Hb 8.1.


Assentado à destra



Não se pode deixar de atentar para outro termo bíblico, o qual por vezes é apresentado nas Santas Escrituras: "Assentado" à destra de Deus, Hb 10.12, em vez de simplesmente dizer que ele está à destra de Deus como lê-se em Rm 8.34. Tal fraseado, parece indicar, que em determinada época, Jesus o homem recebeu toda glória, autoridade e poder. Isso se deu de fato por ocasião da sua ressurreição, sua ascensão e recebimento pelos anjos no céu, como profeticamente exulta o salmista: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. Quem é o Rei da Glória? O SENHOR, forte e poderoso, o SENHOR, poderoso nas batalhas. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. Quem é esse Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória”. Sl. 24.7-10.


No momento em que é recebido nos céus e glorificado pelos anjos, Jesus “assenta-se”. Esse termo, primeiro fala da sua posição de monarca Divino, liberto a partir daí de todas as limitações e impossibilidades que o corpo mortal lhe impunha. Foi não o Jesus frágil, sujeito as intempéries do mundo que Estevam viu, mas o Jesus Senhor, que já findou o seu ministério terreno de sacerdote e cordeiro de Deus.


O "Assentou-se" aponta em um segundo momento para o fim da obra sacrificial, essa obra não tem paralelo e foi completamente consumada. "Depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas”. Hb1.3. È importante ressaltar nesses dias em que a Igreja tem retornado as práticas judaizantes, que todas elas já foram levadas à cabo pelo Senhor: “Ora, todos sacerdotes se apresentam dia após dia a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios... Jesus, porém tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés”. Hb 10:11-13.


Está aclarado assim que o mártir Estevam viu Jesus em glória. O profeta messiânico Isaías referindo-se a cristo diz: "A glória do SENHOR se manifestará, e toda a carne a verá". Is. 45.10. Cristo é a glória de Deus expressa. Estevão contemplou a glória de Deus, quando contemplou Jesus. O grande herói da fé viu Jesus em glória, com todo o poder e autoridade de Deus. Por isso ele rendeu o seu espírito a Jesus, o qual ele sabia ser o seu Deus. At. 7.59.
Pr. Wanderley Nunes.


1 Zuck,Roy B. A interpretação Bíblica, Ed. Vida Nova, 1994- São paulo,SP . P. 19,20.
2Referindo-se ao texto de Atos. 7.55,56.
3Rusconi,Carlo. Dicionário do Grego do novo Testamento,Ed. Paulus, 2003,São Paulo,SP. P 136.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Comentário hermenêutico de Hebreus 6.4-8 - A salvação pode ser perdida?


Introdução.

Desde o seu nascimento a Igreja tem sido alvo de grandes perseguições, porém sempre saindo delas de forma vitoriosa. As grandes dificuldades as quais tem passado em todos os tempos, sempre tem feito a noiva do cordeiro levantar-ser com mais força, entretanto, os grandes embates inimigos não tem sido os das perseguições físicas, pois elas forjam heróis, envergonhando ainda mais o arraial inimigo, e sim um perito trabalho de distorção da palavra de Deus, responsável pela divisão da seara do Mestre e o soerguimento das mais diversas bandeiras denominacionais.

Hebreus 6.4-8 tem sido usado desde muito como uma munição a fortalecer o arsenal inimigo contra a doutrina Bíblica da soberania de Deus, acentuando a crença de que o homem é responsável e mantenedor da sua salvação.

Nesse trabalho, buscar-se-á elucidar as dificuldades apresentadas pelo texto, bem como harmonizá-lo com as demais Escrituras. O texto será traduzido do grego, buscando-se assim a essência daquilo que o escritor quis transmitir. Serão envidados esforços no sentido de compreender a questão da impossibilidade do arrependimento nos versículos em questão. Por fim, será abordada a questão da procedência e manutenção da salvação. Que O Deus todo poderoso acrescente mais da sua graça aos seus humildes servos, a fim de que continuem buscando conhecer a sua vontade e trabalharem para sua glória.


Tradução de Hebreus 6.4-8.


4 “(É) impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados e desfrutado da dádiva celeste, sendo feitos companheiros através do Espírito Santo. 5 Tendo experienciado a boa palavra (palavra falada) de Deus e os poderes da era porvir, 6 e caído, de novo serem renovados para uma mudança de mentalidade, pois recrucificam o filho de Deus e o expõe á vergonha. 7 A terra pois, que bebe a chuva que frequentemente vem sobre ela e faz germinar vegetação apta para aqueles por quem é cultivada, torna-se participante da benção (bem aventurança) de Deus. 8 Mas produzindo espinhos e abrolhos, é reprovada e está no caminho da maldição, cujo destino final é a queima”.1

Hebreus 6.4- 6 é um trecho que não pode ser tomado como uma interpretação de que o Cristão está sujeito a perder a salvação após tê-la recebido, pois tal proposição traz consigo sérias implicações de cunho hermenêutico e exegético como:

  1. Se alguém servir a Jesus e posteriormente “desviar-se” da fé, não haverá possibilidade de arrependimento e estará invariável e eternamente perdido.

  2. Por esse prisma, a salvação deixa de ser um dom gratuito para tornar-se uma conquista meritória, cuja responsabilidade por sua manutenção é total e inexoravelmente humana, consequentemente, passível de ser perdida.


  3. Seguindo essa linha interpretativa, o crente fraco não poderá encontrar ensejo de salvação, já que vez por outra fracassa na fé, não havendo assim chance de uma suposta comunhão que o conduza ao nível de fé desejável.


A possibilidade de arrependimento.


Se o texto estivesse falando, que mesmo depois de se conhecer o Evangelho, ter chegado a entender o plano salvífico, desfrutado das bênçãos da comunhão cristã, e depois por algum motivo “desviar-se” se perderia a salvação, seria aberto um precedente de consequências no mínimo desastrosas. Isso implicaria na dedução lógica, que após alguém ter conhecido a verdade e depois tê-la abandonado, não teria mais a possibilidade de arrependimento.

Um dos maiores exemplos neotestamentário da possibilidade de arrependimento pode ser observado na figura do apóstolo Pedro. Negou não só ser discípulo de Jesus, como até mesmo conhecê-lo. (Mt.26.69-75) - Vale salientar que todos os outros discípulos também abandonaram o mestre - Pedro, porém, foi sensível à voz de Deus, quando do convite ao retorno à comunhão (Mc.16.7), confessando diante dos companheiros sua fé e amor ao Senhor (Jo.21.15-17).

Na epístola a Timóteo, Paulo fala claramente da possibilidade daquele Cristão que teve seus sentidos embotados pelo engano do pecado, e “desviou-se” da verdade, poder, outrossim, se arrepender (II Tm.2.25,26) retornando à verdade apostólica. Na sua homilia aos Coríntios, Paulo lembra uma forte exortação que lhes dirigira, todavia, explicita que tal atitude trouxe arrependimento da parte de Deus conduzindo-os à vida (II Co.7.9,10).

Outro exemplo encontra-se na repreensão feita à Laodicéia: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, Zeloso e arrepende-te” (Ap.3.19). Muito embora esse trecho, sobretudo o versículo 20, seja usado comumente para o evangelismo de descrentes, sabe-se ser essa aplicação deficitária e equivocada, pois a palavra é dirigida à Igreja de Laodicéia, uma das sete Igrejas da Ásia (Ap.1.4). A chamada ao arrependimento é feita “a crentes desviados” da fé genuína, a despeito de serem Cristãos professos.

Logo se pode observar a interpretação dada ao texto de Hebreus 6, abrindo precedente para a possibilidade da perda da salvação para aquele uma vez salvo, ser incoerente com a doutrina bíblica da salvação, pois se assim fora, não haveria chance de arrependimento para nenhum Cristão que de algum modo tenha se afastado por algum tempo da sua fé, sendo vedado os céus a todos os servos de Deus em todos os tempos que fracassaram. Estariam excluídos dessa relação: Jonas, Davi, Moisés, Elias, Pedro... E uma lista infindável de personagens que as sagradas letras afirmam terem sido homens dos quais o mundo não era digno (Hb.11.38). A salvação bíblica, todavia, é gratuita (Ef.2.8) e irrevogável (Jo.10.27,28) como todo dom Divino (Rm.11.29).


A impossibilidade do arrependimento.

[...] É impossível outra vez renová-los para o arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o filho de Deus e expondo-o à ignomínia” (Hb.6.6). Taxativamente é afirmada aqui a impossibilidade de renovação dos caídos. Não há, conforme esse versículo, nenhuma possibilidade do infrator ser reerguido por quem quer que seja. O texto grego fala da impossibilidade de se mudar a “disposição mental” do desviado, pois o termo “caíram denota um arremessar-se para fora (parapesountás), este verbo está no aoristo ativo apontando para uma ação simples.
Esse verbo é encontrado apenas nesse versículo em todo o novo testamento, cuja raiz significa “cair para o lado”, dando a entender o desvio de um padrão ou caminho certo.2

O cerne da questão se encontra na impossibilidade da renovação da fé daqueles que se desviaram do padrão ou caminho certo: “É impossível [...] serem renovados para uma mudança de mentalidade”; para em seguida notar-se claramente a conexão com o vocábulo “caíram” - transmitindo a ideia de uma ação deliberada - “estão crucificando para si mesmos o filho de Deus e o expondo a ignomínia”, pois quando o texto grego axiomaticamente declara: “recrucificam” a Jesus e o expõe à vergonha, está, portanto, apontando para a ideia de alguém que abandonou a fé, e fez-se contrário a Cristo,3 a ponto de tornar-se avesso a sua pessoa e doutrina, de modo similar aos que rejeitaram ao Senhor, o prenderam, aviltaram de todas as formas, inclusive despindo-o publicamente, e por fim o crucificaram (Mt.27.27-31, Lc.23.11 e Jo.19. 2,3).

Parece muito patente que o propósito do escritor de Hebreus é falar do perigo da apostasia. É pertinente observar que em nenhum momento do texto ele se referiu a alguém que experimentou a salvação e depois a perdeu, e sim aqueles que experimentaram uma iluminação e algumas das benesses divinas e depois apostataram. Outro fator importante é quando está sendo finalizada a perícope, há uma analogia muito esclarecedora no que concerne a mensagem que se deseja transmitir, pois no versículo sete é dito que a terra que, beneficiada pela chuva, responde positivamente com bons frutos, receberá indubitavelmente a bem aventurança da parte de Deus.

Tal analogia lembra as palavras ditas por Jesus: “Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo, assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7.19,20). Isso aclara a premissa de que só se pode dar fruto segundo a sua espécie “[...] não se colhem figos de espinheiro, nem dos abrolhos se vindimam uvas.” (Lc. 6.44). Seguindo tal pensamento, conclui-se que só uma terra boa dará bons frutos. De modo lógico, se chegará à conclusão que só mesmo uma terra má produzirá espinhos e abrolhos, sendo isso uma simples manifestação da sua natureza, cujo destino final segundo a afirmação de Hebreus, é ser queimada.


A salvação, sua procedência e manutenção.

A salvação Bíblica tem variadas ênfases, mas de modo objetivo, sobretudo no Novo Testamento, fala do livramento da ira divina que será derramada sobre o pecador impenitente (I Tss.1.10, At.17.31, Jo.3.18). A Bíblia fala de salvação no sentido passado, presente e futuro. O verbo salvar surge nas escrituras gregas nos mais diversos tempos verbais; demonstrando que: os Cristãos foram salvos de forma pré-ordenada, sob decreto Divino, e ainda antes da fundação do mundo (Ef. 1.4), estavam sendo salvos pelo operar de Deus na História (Gl 4.4), são salvos por estarem justificados diante de Deus através do sacrifício do Calvário (Rm.3.24,8.1), estão sendo salvos por intermédio da obra santificadora contínua de Deus, a qual santifica os seus (I Tss.4.3,Ef.1.4), e serão salvos no tempo da consumação de todas as coisas4.

Em todos esses prismas observa-se que a obra da salvação é toda de Deus: “... Ao Senhor pertence a salvação”. (Jn. 2.9). Com base nessa assertiva, pode-se analisar as bases paulinas em Efésios 2. 8, 9:” porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie”. O homem é salvo unicamente pelo favor divino, cuja nomenclatura é graça, donde se depreende ser essa uma consecução unicamente Divina. Parte de Deus - é dele o plano e a ação- o instrumento utilizado é a fé do pecador. A salvação aqui é considerada um dom, ou seja, um presente, uma dádiva. Não pode vir de nada que o homem tenha em si mesmo ou possa alegar fazer, pois não tem autonomia para isso devido o pecado: “Como está escrito: Não há justo, nem um sequer[...], todos se extraviaram, á uma se fizeram inúteis: não há quem faça o bem, não há nenhum sequer.”(Rm. 3.10,12).

Ao afirmar a incapacidade humana para conseguir a salvação por seu próprio intermédio ou esforço, as Escrituras indicam o caminho salvífico á humanidade perdida: “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. (Rm. 3.24). É demonstrado ser só Jesus o remédio para a humanidade destituída da sua glória e carente da sua graça (Rm. 3.23). Foulkes ao comentar “[... ]e isso não vem de vós; é dom de Deus... de Efésio2.8 diz:

[...] o que o apóstolo quer dizer é que toda iniciativa e toda atitude no sentido de tornar acessível ao homem esta salvação pertencem a Deus. “De Deus é o dom” é a tradução que melhor mostra a ênfase da disposição das palavras em grego. “Um homem que fique abandonado por Deus, cai em total desesperança. É a voz de Deus que acorda, que desperta, que leva o homem a pensar e inquirir; é o poder de Deus que fornece forças para agir;é o mesmo poder que proporciona satisfação à necessidade de uma nova vida”.5


Depreende-se de tal proposição a soberana vontade de Deus, Rm. 9.15, fazendo tudo o que lhe apraz, conforme o beneplácito da sua vontade Ef.1.5. “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. Fp. 2.13. Só mesmo sendo chamado e escolhido por Deus é que o homem poderá resistir aos duros embates contra o pecado: “Não fostes vós que escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis frutos...” (Jo. 15.16). “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. (Jo.15.5). Mesmo o permanecer em Cristo requer uma eleição. Na sua oração sacerdotal Jesus justificou a perda (saída) de Judas: “... Protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura” (Jo.17.12). Noutro lugar afirma: “... sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti” (Rm.11.18).

Aos Filipenses, Paulo ratifica a questão da consciência que o Cristão deve ter da obra salvífica de Deus em sua vida: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Fp.1.6). Nesse texto, o apóstolo parece aludir as obras feitas por Deus, e de modo específico, a obra da criação, a qual tem seu clímax na criação do homem e no descanso divino. Já que tudo o que Deus iniciou, de forma perfeita executou até o fim, para o louvor da sua glória.
Considerações finais.

Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt. 22.29). Esse versículo parece se aplicar muito bem ao contexto no qual a Igreja se encontra hoje, eivada de pensamentos humanistas, buscando explicações estribada em seu próprio entendimento, (Pv.3.5), e não no conselho do Senhor (Is.30.1). Vê-se o reflexo disso na teologia gritada de cima dos púlpitos e nos meios de comunicações mais diversos. Dando impressão aos incautos, que tal palavra é a própria voz de Deus, quando ao contrário, estão ouvindo a mesma canção ouvida na era das trevas da Igreja pré-reforma; um som incerto6, ao qual um ouvido apurado pelo Espírito Santo não dará atenção.

Dentre os ensinamentos deturpados ao longo dos séculos, sem dúvida, a salvação pela graça mediante a fé, e a manutenção da mesma, garantida pelo Senhor, tem sido inequivocamente a mais atacada, contraditada e solapada por mestres inspirados pela corte do inimigo, que busca subtrair do homem a certeza da salvação e de Deus sua glória. Textos como esse de Hebreus, são usados ainda que de forma velada, para pôr no homem a responsabilidade e a consecução da sua salvação, ultrajando assim o Espírito da graça (Hb.10.29).

É Gratificante após um estudo sério como esse, observar que as falácias dos homens são lançadas por terra através de uma análise hermenêutica e exegética correta, sob a iluminação Daquele que vela por Sua palavra. A Ele pois, toda glória. 
                     Pr. Wanderley Nunes. 




1Tradução do texto grego, W.Nunes.

2Guthrie, Donald, A carta aos Hebreus, p.135.

3No caso da igreja hebraica, um retornar ao judaísmo, com suas leis, sacrifícios e um sacerdote intercessor, contrariando a salvação pela graça, o sacrifício de Cristo e o seu sacerdócio exclusivo e eterno. (Hb. 2. 1-3, Hb.10. 28-29).

4.Sproul, R. Cl, 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã –. Editora Cultura Cristã. http://www.teuministerio.com.br

5Foulkes,Francis,Efésios introdução e comentário,p.64,65.

6I Co. 14.8

sábado, 17 de abril de 2010

A revelação da Divindade


Jesus Cristo o único Deus e Senhor.

“Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é único Senhor”. Dt 6:4.

As escrituras não falam da existência de uma Trindade, Deus é um Deus único, e as Escrituras afirmam que ele se manifestou em carne: “e sem dúvida alguma grande é o mistério da piedade: aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória”. I Tm 3:16.

Ele era Senhor e Cristo, todavia, para se tornar o cordeiro (Jo 1:29), teve que se fazer carne. Em Lv 26:11-12, há uma profecia a esse respeito: “E porei o meu tabernáculo no meio de vós... e eu vos serei por Deus, e vós me sereis por povo”. Para ser o sacrifício eterno para a salvação do homem, Ele teve que construir um tabernáculo (corpo), e habitar nele: “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Cl 2:9.

Pode um espírito ter as suas carnes cortadas e derramar sangue? Claro que não. O próprio Cristo disse aos discípulos: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne, nem ossos, como vede que eu tenho”. Lc 24:39.

Ele era Senhor e Cristo, todavia, o corpo criado (o tabernáculo humano) recebeu um nome: “Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.”At 2:36.

É bom que se observe: Senhor Jesus Cristo. Se ele é aquele que se manifestou em carne (I Tm 3:16); Se Jesus é Senhor e Cristo, ele não pode ser nada menos que Pai, Filho e Espírito Santo, habitando em um corpo humano, de forma nenhuma, três pessoas, mas um Deus que se manifestou em três títulos maiores.

Deus criou o óvulo e a semente de vida humana, usando Maria como incubadora. O Deus único e eterno criou para si mesmo um corpo, através do qual pôde ser manifestado, (expressado) aos homens: “O qual é a imagem do Deus invisível...” Cl 1:15. 

Para que se compreenda melhor este assunto, é salutar verificar que as Escrituras dizem que ele nasceu o Cristo: “Ora o nascimento de Jesus Cristo foi assim...” Mt 1:18. Entretanto, o anjo deu uma ordem a respeito do nome que lhe deveria ser dado entre os homens; “... e chamarão seu nome Jesus...” Mt 1:21. Talvez você conheça alguém que se chama Jesus, no entanto, só há um Jesus nascido O Cristo. Jesus foi feito Senhor e Cristo: “A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos)”, At 10:36. Agora você começará a entender Mt 28:19 “... batizando em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

  PAI                 FILHO         ESPIRITO SANTO
Senhor              Jesus                    Cristo

Que grande revelação se tem quando se compreende isso; um único Deus em três manifestações: Ele é o Pai, que criou o universo e um corpo para habitar; Ele é o Filho, pois o seu corpo humano foi criado para que Deus se manifestasse aos homens. Ele é o Espírito Santo, pois ele mesmo disse aos discípulos que voltaria em uma outra forma: “O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não vê nem o conhece, mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”. Jo 14:17.

O ESPIRITO SANTO É CRISTO.

Jesus disse: “... e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”. Mt 28:20.

Como Jesus está aqui hoje?

Sabe-se que Deus para se manifestar palpável e visivelmente aos homens, teve que preparar um corpo para nele habitar, esta foi sua manifestação como filho, todavia, ele disse que “estaria conosco...” Como então explicar isso, se as pessoas dizem que o Espírito Santo é outra pessoa, outro deus?

Quando Cristo esteve aqui na sua manifestação carnal (humana), ele teve um corpo, e a Bíblia diz que nesta era atual ele possui outro corpo, no qual se manifesta (expressa) ao mundo: “... ora vós sois o corpo de Cristo e seus membros em particular”. I Co. 12:27. Se ele esta na terra e não possui um corpo físico, antes usa a igreja (pessoas), então fica claro que ele está hoje entre os seus em espírito, o corpo físico (glorificado) está no trono (Jo 3:13). Entretanto, o mesmo espírito onipresente está no seu corpo místico; a igreja. At 16:7 diz : “ E quando chegaram a Misia, intentavam ir para Bitinia, mas o espírito de Jesus não lho permitiu”. Esse detalhe não deve ser desprezado; o Espírito de Jesus impediu aos apóstolos irem adiante, entretanto, a Escritura diz: “... há um só corpo e um só espírito”. Ef 4:4. “Ora há diversidade de dons, mas o espírito é o mesmo...”. I Co. 12: 4. Se não há dois espíritos operando nesta era, como está claro nas Escrituras já citadas,se tem que admitir que o Espírito de Jesus é o Espírito Santo em sua forma original que é espírito!


DEUS – ESPÍRITO SANTO, DUAS PESSOAS?

O próprio Cristo enquanto homem (Deus na sua manifestação humana) disse a samaritana: “Deus é espírito”. Jo 4:24.

Com o propósito de se lançar um pouco mais de luz sobre esse assunto, é pertinente atentar para a revelação bíblica, a qual deve ser sempre zelosamente acatada:

Jesus como homem não foi chamado filho de Deus? Mas lê-se na escritura: “Ora o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem achou-se ter concebido do Espírito Santo”. Mt 1:18. Não é Deus o seu pai? Sim é, pois Deus é espírito e um Espírito Santo; doutra forma os Cristãos teriam uma escritura indigna da sua confiança, pois Jesus é chamado (na sua manifestação humana) Filho de Deus, todavia, outro é seu pai. Seria uma grande contradição, e não haveria mais possibilidade de crédito à palavra. Entretanto, fica claro, que o Espírito Santo que estava em Jesus, era nada mais, nada menos, do que Deus em Cristo: “... isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo...” II Co. 5:19.

Concluí-se então, que Deus é espírito e que o pai de Jesus é o Espírito Santo. E o pai estava nele, logo, ele é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Qual é então o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo?

SENHOR       JESUS         CRISTO
   Pai                Filho        Espírito Santo

O pai é o Senhor, o filho é Jesus e o espírito Santo é o Cristo. Por isso ao crer nessa verdade, deve o Cristão buscar logo ser batizado em nome do Senhor Jesus Cristo, conforme Mt 28:19.


Jesus: o mesmo Deus do antigo testamento.


Jeová – Sl. 24:10; Jesus – I Co. 2:8.
Jeová – Ex.3:14; Jesus – Jo 8: 24, Jo 8: 58.
Jeová – Dt. 6:13; Jesus – Mt. 4:10; Jo 9:38.
Jeová – Ex 20:10; Jesus – Mt 12:8.
Jeová – Is. 44:6; Jesus – Ap. 1:17.
Jeová – Sl. 27.1; Jesus – Jo 8:12.
Jeová – Dt. 32:39; Jesus – Jd 4.
Jeová – Ex. 20:3; Jesus – Jo 20:28, II Pe. 1:1, Rm 9:5.
Jeová – Dt. 32:4; Jesus – Jo 14:6.
Jeová – Dt. 6:4; Jesus – Ef. 4:5.

Wanderley Nunes

sábado, 6 de março de 2010

Hermenêutica: Será que Jo.5.39 é uma ordem para que se leia as Escrituras?

A igreja se encontra bebendo em cisternas rotas e desprezando o manancial de águas vivas (Jr. 2.12). Temos inclusive uma análise hermenêutica de Jo. 5.39 digna de ser observada, já que as Escrituras desde o principio advertem a não alterar aquilo que sai dos lábios do Senhor (Dt. 4.2, Ap. 22.19).
Desde muito, o referido texto é usado nos púlpitos, nas praças, e em artigos escritos por pessoas respeitáveis, a fim de referendar a idéia de que Jesus estava aí ordenando a leitura das Escrituras, o que na verdade é um ledo engano, pois nesse versículo o Senhor diz que na verdade eles liam as escrituras, por imaginarem encontrar nelas a vida eterna, e ele (Jesus) a própria vida, se encontrava diante deles e por não possuírem iluminação espiritual, não conseguiam enxergar isso.
Para se chegar a essa conclusão basta observar que o verbo encontra-se na 2ª pessoa do plural do presente indicativo: eu examino, tu examinas, ele (ela) examina, nós examinamos, vós examinais, eles (elas) examinam.
Corroborando essa assertiva, poder-se-ia citar a excelente tradução da NVI para esse texto : “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito”. Já a versão católica diz: Vós perscrutais (perscrutar = Averiguar minuciosamente; indagar, investigar, sondar) as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim. E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida.., a Basic english axiomaticamente diz: You make search in the holy Writings = vocês pesquisam os escritos sagrados...
Os líderes religiosos do tempo de Cristo não podiam ser acusados de negligenciar os estudos das sagradas letras, todavia podiam ser acusados de quererem ser aceitos e justificados diante de Deus pelo simples fato de serem dedicados nisso. Jesus por sua vez apontou na direção de que eles estavam fazendo um estudo (investigação, busca), o texto grego diz isso, mas sem contar com a ajuda dos céus, o que fez com que eles desprezassem aquele que de lá viera. Que estudemos a palavra do Senhor com mais temor e tremor, pois elas testificam do nosso salvador. Deus em sua Graça continue abençoando seu povo.

Wanderley Nunes.